MEMÓRIAS

 



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Araguaia: repressão e mortes, além da guerrilha

    No Pará, trabalhadores rurais e pesquisadores recuperam documentos da ditadura pós-64 para expôr a repressão aos camponeses não envolvidos na luta armada. Entre mortos e desaparecidos, havia líderes sindicais. Relatos de familiares expõem conluio entre militares, ruralistas e empresários

Por Natália Suzuki Matheus Faustino, na Repórter Brasil

Assim como os integrantes da Guerrilha do Araguaia — movimento de enfrentamento armado à ditadura formado na divisa do Pará com o Tocantins, entre as décadas de 1960 e 1970 — camponeses daquela região também foram alvo do regime militar na Amazônia. Meio século depois, filhos e netos desses trabalhadores ainda lutam para que o Estado reconheça seus parentes como vítimas de crimes políticos.

Com apoio de pesquisadores, familiares de trabalhadores rurais mortos ou desaparecidos no sudeste do Pará estão reunindo documentos oficiais — muitos deles antes mantidos em sigilo — para demonstrar como agentes de segurança pública atuaram em conluio com empresários e grandes proprietários de terra na repressão a camponeses.


A mobilização teve início após a avaliação de que a Comissão Nacional da Verdade, instalada em 2012 para apurar os crimes cometidos pelo regime militar, não incluiu trabalhadores rurais entre as vítimas da ditadura. O relatório final da comissão, publicado em dezembro de 2014, apontou 434 nomes de perseguidos do Estado brasileiro entre 1946 e 1988. Paralelamente, a Comissão Camponesa da Verdade identificou 1.196 casos de trabalhadores rurais e aliados mortos ou desaparecidos entre 1961 e 1988.

Valdora da Silva Lima, Silvio Costa Lima e Nédyma Costa Lima (da esq. para dir.), filhos de Raimundo Ferreira Lima, sindicalista morto em emboscada em 1980 (Foto: Fernando Martinho/Repórter Brasil)

“O Estado deu um passo importante, mas os camponeses ficaram fora”, afirma a historiadora Luzia Canuto, de Rio Maria (PA), que perdeu o pai e dois irmãos assassinados. “A nossa região é muito violenta e virou um local de silenciamento. As pessoas não querem falar. Mas se deve continuar investigando. Os camponeses precisam ser descobertos”, complementa.

Embora tenha sido montado na região principalmente contra a Guerrilha do Araguaia, desmantelada em 1974, o aparato repressivo também foi usado contra opositores do regime militar e de fazendeiros locais. “Onde eles [militares] acreditavam que pudesse ter foco de resistência, continuaram a perseguição”, afirma a historiadora Luzia Canuto, de Rio Maria (PA), que perdeu o pai e dois irmãos assassinados.

Além de camponeses, o regime mirava sindicalistas, religiosos e movimentos sociais. “Eles eram monitorados pelo Estado, sabiam que estavam arriscando a vida. E o Estado tinha um lado, o dos fazendeiros”, diz ela, ressaltando que a perseguição aos lavradores era feita com apoio empresarial. “Nós vamos comprovar isso com documentação”, garante Luzia.

Perseguição a líderes sindicais durante a após a ditadura

Dos 1.196 casos mapeados pela Comissão Camponesa da Verdade, o estado do Pará lidera com 556 assassinatos (46% do total). Um dos casos emblemáticos é o do sindicalista Raimundo Ferreira Lima, conhecido como Gringo, morto em 1980 em uma emboscada. Na época, ele figurava em uma lista de lideranças ameaçadas por fazendeiros. 

O crime nunca foi investigado e os responsáveis continuam impunes. A suspeita é que latifundiários tenham contratado pistoleiros para matá-lo. Gringo foi assassinado um mês antes das eleições para o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Conceição do Araguaia, que era então administrado por um “pelego” — interventor ligado ao governo e aos latinfundiários. Gringo era o líder da chapa de oposição e autor de denúncias contra a gestão do sindicato. 

Após o crime, o pesadelo não teve fim para a esposa, que restou com seis filhos pequenos. Ela própria foi perseguida. “Minha mãe sempre se despedia da gente como se fosse a última vez, porque ela não sabia se ia voltar”, conta a filha Nédyma Lima, que tinha três anos quando o pai morreu.


Uma noite, Nédyma conta que a Polícia Federal invadiu a casa paroquial onde viviam, sequestrou fotos da família e espalhou panfletos difamatórios com a imagem da mãe dela. Durante a ação, os filhos foram ameaçados e humilhados. “Quando chegamos no portão, eles colocaram a arma em nós. Meu irmão mais velho chorava muito. Eles perguntavam onde escondíamos as armas”, lembra Silvio Lima, que tinha apenas dez anos na época.

No último 29 de maio, data que marcou os 40 anos do assassinato de Gringo, parentes de camponeses mortos ou desaparecidos se reuniram em Redenção (PA) para compartilhar suas memórias e avançar nas conversas para reivindicar o reconhecimento do Estado. 

Reunião de familiares de mortos e desaparecidos durante a ditadura militar na sede da OAB em Redenção, Pará (Foto: Fernando Martinho/Repórter Brasil)

Entre os achados que apontam para a participação do Estado nas agressões estão as ações do GTAT (Grupo de Terras do Araguaia Tocantins). Durante a ditadura, o órgão federal em tese cuidava da regularização fundiária na região. Mas, na prática, dizem os pesquisadores, atuava na defesa dos grandes proprietários de terras. Houve também aparelhamento de sindicatos de trabalhadores rurais, que passaram a ser presididos por interventores ligados às forças policiais e aos fazendeiros.

“A gente mora numa região ocupada basicamente no período militar com uma ocupação incentivada [pela ditadura]. Mas havia um tratamento diferenciado. O fazendeiro ganhava a terra, financiamento e todas as chances de se estabelecer. O trabalhador, não. Então essas áreas se tornaram posteriormente focos de disputa. E o Estado se comportava em grande parte na defesa do latifundiário”, afirma Luzia Canuto.

O assassinato do pai dela, João Canuto, também se relaciona à repressão sindical. Em 1985, latifundiários locais contrataram pistoleiros para assassiná-lo. João era uma das principais lideranças em defesa da reforma agrária na região e líder do primeiro sindicato local dos trabalhadores, em Rio Maria. 

Três dias antes de ser assassinado, Canuto havia registrado as ameaças de morte às autoridades, mas nenhuma providência foi tomada. A inação do Estado é um sinal da cumplicidade, na avaliação da família. “Quando tinha a morte de um trabalhador, principalmente nas décadas de 80 e 90, a própria polícia achava um mecanismo de culpar a vítima. Tivemos muita dificuldade de fazer o processo andar na Justiça. No caso do meu pai, sumiram peças, partes, páginas do processo.”

Em 1990, seis anos após o assassinato de João, três filhos dele (irmãos de Luzia) foram sequestrados por um ex-policial militar que prestava serviços para fazendeiros. Apenas um escapou com vida. Em 1991, Expedito Ribeiro de Souza, um dos sucessores de João Canuto no sindicato, foi assassinado a mando de um fazendeiro.

Comboio militar chegando à região da guerrilha do Araguaia, em 1972 (Foto: Reprodução/Comissão Camponesa da Verdade/Acervo da SDH/PR)

Major Curió também perseguiu camponeses

Entre os nomes de autoridades citados pelas vítimas está o do coronel da reserva Sebastião Rodrigues de Moura, conhecido como Major Curió, falecido em agosto de 2022. Militar de carreira, ele comandou ações contra a Guerrilha do Araguaia e continuou operando na região após o fim do movimento.

A guerrilha se instalou entre os municípios de Marabá e Santana do Araguaia, especialmente em São Geraldo do Araguaia — na época, um distrito de Conceição do Araguaia.

Curió temia pelo retorno dos guerrilheiros, e por isso atuava de forma ambígua: reprimia lideranças sindicais e ao mesmo tempo buscava apoio popular. “Ele parecia um paizão, tinha uma voz suave. Na guerrilha, quando capturava alguém, como o camponês, o prisioneiro, ele fazia o papel daquele que interrompia a tortura e propunha alguma coisa para quem estava sofrendo”, diz o padre Ricardo Rezende Figueira, à época coordenador da CPT na região do Araguaia e Tocantins.

“O distrito de São Geraldo tinha mais infraestrutura na época do que a sede do município, porque Curió precisava ganhar aquele povo, pois era onde estava a guerrilha. Ele investiu muito”, lembra o padre sobre as benfeitorias, como estradas, escolas e acesso à água potável. 

“Naquele período, o Exército era a única referência legal; eram eles que mandavam e desmandavam. Quando tinha um conflito, às vezes, o trabalhador ia buscar o Curió”, observa o padre Rezende, que é também coordenador do GPTEC (Grupo de Pesquisa do Trabalho Escravo Contemporâneo), da UFRJ.

A repressão também alcançou religiosos que atuavam com os camponeses. O padre Rezende foi um dos perseguidos. Ele relata que o Exército invadiu casas paroquiais, prendeu padres e seminaristas e espancou missionários. 

Um dos episódios marcantes foi o sequestro do padre italiano Nicola Arpone, em 1979, por um helicóptero do Exército em frente à casa paroquial em Wanderlândia (TO). Segundo Rezende, o alvo da operação seria o padre Josimo Morais Tavares, morto por um pistoleiro com dois tiros nas costas em 1986, a mando de latifundiários locais. Rezende também foi ameaçado de morte e precisou deixar a região.

Padre Ricardo Rezende no memorial às vítimas do massacre de Eldorado dos Carajás, quando policiais militares do Pará ataram 19 trabalhadores rurais sem terra (Foto:Fernando Martinho/Repórter Brasil)

Legado de violência fundiária

O envolvimento da ditadura com a repressão no campo se articulava com o interesse em desenvolver economicamente a região amazônica. No início dos anos 1970, o governo federal lançou o Plano de Integração Nacional, que deu origem à rodovia Transamazônica e fortaleceu a atuação da Sudam (Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia). Por meio de incentivos fiscais, empresas podiam investir na Amazônia abatendo 50% do imposto de renda, com aportes convertidos em capital para projetos agropecuários e industriais.

Com apoio da Sudam, a Volkswagen criou a Companhia Vale do Rio Cristalino, uma fazenda de exploração madeireira e criação de gado que chegou a ocupar uma área equivalente à cidade de São Paulo. O empreendimento incluía uma planta frigorífica para abastecer outras fazendas da região. A montadora é ré em um processo movido pelo Ministério Público do Trabalho, que a acusa de explorar mão de obra análoga à escravidão entre os anos 1974 e 1986. Estima-se que a empresa tenha recebido o equivalente a R$ 500 milhões em recursos públicos.

Luzia destaca que era interesse do Estado defender os fazendeiros atraídos pelo governo à região. Segundo ela, os documentos oficiais mostram que os trabalhadores continuaram sendo vigiados mesmo após o fim da ditadura militar. “O governo daquela época tinha mapeado todos os sindicatos e sindicalistas. Eles colaboravam para que os fazendeiros matassem e continuassem impunes”, ela diz. 

“No Arquivo Nacional, por exemplo, aparecem documentos que tratam da constituição da UDR na nossa região. O estado sabia que eles estavam mapeando para matar. E nada foi feito”, defende.

UDR (União Democrática Ruralista) foi criada em 1985 em Goiás, estado que na época abarcava também o território de Tocantins, na fronteira com o Pará. O movimento ruralista surgiu para se contrapor ao avanço do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e da reforma agrária.

Para a historiadora, a aliança entre Estado e empresários ajuda a explicar o histórico de violência no sudeste do Pará. Alguns dos mais marcantes conflitos por terra do país aconteceram justamente nessa região. 

Em 1996, policiais militares assassinaram 19 trabalhadores rurais sem terra durante uma manifestação pela reforma agrária, no caso conhecido como “Massacre de Eldorado dos Carajás”. Cerca de 1.500 famílias pediam a desapropriação da fazenda Macaxeira, então ocupada pelo MST.

A 350 km dali, em Pau D’Arco, dez trabalhadores sem terra foram mortos em 2017 na fazenda Santa Lúcia, após ação das polícias civil e militar do Pará. Os agentes continuam na ativa, enquanto os mandantes do crime não foram identificados.

“Conviver com a impunidade não é fácil. A gente se reúne, chora, abraça e luta. Essas famílias, na verdade, ficaram todas destruídas e sobrevivem como podem. Queremos Justiça”, afirma Luzia Canuto.

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Uma história da resistência à ditadura

Homenagem ao tenente-coronel aviador Alfeu de Alcântara Monteiro. Militar brilhante, homem impulsivo e pai carinhoso, ele ajudou a salvar Porto Alegre de um bombardeio aéreo em 1961 e foi assassinado, aos 44, na Base aérea de Canoas em 4 de abril de 1961

Título original:
Ai de ti, 64

A Malena Monteiro.
A Alfeu de Alcântara Monteiro, in memoriam.

1.

Há uma praça de menos em Porto Alegre. Essa praça deveria se chamar “Tenente-Coronel Aviador Alfeu de Alcântara Monteiro nasceu em Itaqui, Rio Grande do Sul, em 31 de março de 1922. A Semana de Arte Moderna tinha um mês e meio de realização. Naquele ano também seria fundado o Partido Comunista do Brasil. O menino Alfeu tinha três meses e meio de vida quando do episódio dos 18 do Forte, em Copacabana.


Tinha dois anos mais ou menos quando o capitão Luís Carlos Prestes começou a marcha de sua coluna, naquela região mesma em que nascera Alfeu, nas Missões. Tinha oito anos na Revolução de 1930, dez na revolta de 32, 20 quando o Brasil entrou na Segunda Guerra, ao lado dos aliados e da União Soviética, contra os nazi-fascistas e o Eixo. Teria 44 anos recém- completos ao morrer, em 4 de abril de 1964, em consequência do golpe dado três dias antes.

Em 1941 ingressou na Escola Militar do Realengo, no Rio de Janeiro, e em 1942 passou para a Escola da Aeronáutica, onde se formou como aspirante em 1943, designado para servir na base aérea de Fortaleza.

Fez uma carreira bastante protocolar e rápida, marcada por elogios oficiais. Recebeu louvores individuais em diversas ocasiões. Em 1946 já era tenente aviador e estava na Base Aérea de São Paulo. Em 1947 estava de volta na Escola de Aeronáutica, no Rio de Janeiro, onde recebeu louvor, destacando “suas qualidades de caráter e esmerada educação, aliadas à correta noção de disciplina e dos assuntos profissionais, que o fazem despontar entre os oficiais de escol da FAB”. Serviu ainda em Natal nesse período.

Por seus méritos integrou a equipe de oficiais aviadores que em 1948 foi buscar os aviões de combate Gloster Meteor adquiridos nos Estados Unidos. Nos dez anos seguintes serviu em Natal, Rio de Janeiro, São Paulo e na Base Aérea de Canoas, município da Grande Porto Alegre. Recebeu vários elogios em sua folha de serviço por participação em eventos esportivos e em manobras de campo, simulando combates.

Muitos desses elogios ressaltam sua capacidade de superar dificuldades e precariedades provocadas por falta de suprimentos ou aparelhos adequados.

Em 1957 recebeu um elogio por escrito do brigadeiro do ar Nelson Freire Lavanère Wanderely, do Comando da Primeira Zona Aérea. Em 1964 o já tenente-coronel Alfeu Alcântara Monteiro seria acusado de tentar assassinar o brigadeiro Lavanère Wanderley na Base Aérea de Canoas.

Em 1958 fez o curso do Estado Maior da Aeronáutica no Rio de Janeiro. Em 1959 passou a integrá-lo, e em dezembro desse ano estava servindo na Sub-Seção do Exterior do Comando de Segurança Nacional. Nos elogios recebidos em sua folha de serviço nesta função, destacam-se os seguintes termos e expressões: “personalidade marcante”, “destacado piloto da FAB”, “impecável apresentação”, “correção e franqueza de atitudes”, “discreto, trabalhador e inteligente”, “espírito de cooperação”. Diz o elogio de 27 de julho de 1960: “Embora constantemente solicitado para cumprir seus deveres como piloto da FAB, tem em dia seus encargos”.


Em 31 de janeiro de 1964 recebeu o que provavelmente foi seu último elogio oficial, da parte do General de Divisão Ernestino Gomes de Oliveira, diretor geral de Saúde do Exército, nos seguintes termos: “Tenente Coronel Aviador Alfeu de Alcântara Monteiro, oficial disciplinado, competente e proficiente, comandou com destreza e perfeição o transporte de que me utilizei. Sempre pronto para o serviço, o Ten. Cel. Alfeu deu demonstração cabal de pontualidade e de espírito militar Louvo pois o Ten. Cel. Alfeu e auguro-lhe o melhor êxito em sua brilhante carreira”.

Tudo isso consta de cópia autenticada da folha corrida do tenente-coronel, que lhe foi passada em 23 de março de 1964, na Base Aérea de Canoas, de que tenho reprodução.

2.

Aqui vale a pena transcrever trecho do seu obituário, publicado em 5 de abril daquele ano, no Diário de Notícias de Porto Alegre: “[serviu] no Comando de Segurança Nacional até fevereiro de 1961. Foi exonerado nesse mês daquele órgão, ficando 90 dias sem função e sem vencimentos, ao que dizem por ser antijanista. Ao terceiro mês de afastamento foi classificado em Recife. Este fato levou-o a dirigir carta a um oficial do Ministério da Aeronáutica, dizendo-lhe que só lhe servia Porto Alegre, pretensão que lhe foi satisfeita um pouco mais tarde. Quando da renúncia do senhor Jânio Quadros e com a ida do brigadeiro Aureliano Passos para o Rio, Alfeu Monteiro assumiu o comando da Quinta Zona Aérea, em face de sua ligação com o esquema organizado pelo senhor Leonel Brizola”.

O “esquema organizado pelo Sr. Leonel Brizola” era a Rede da Legalidade, para garantir a posse de João Goulart na Presidência da República em agosto/setembro de 1961, diante da disposição golpista dos ministros militares Odylio Denis (do Exército, então dito da Guerra), Sílvio Heck (Marinha) e Grum Moss (Aeronáutica) para impedi-la. De fato, o tenente-coronel acabou tendo participação decisiva nos acontecimentos.

No torvelinho político que se seguiu à inesperada renúncia de Jânio, a obstinação do governador do Rio Grande do Sul em não se dobrar diante da tentativa de golpe exasperou o comando militar em Brasília. Forçado pelas circunstâncias e por vários de seus comandados, entre eles os generais Pery Bevilacqua e Oromar Osório, o comandante do IIIº Exército, general Machado Lopes, decidiu também se insurgir contra o golpe.

Nesse momento, o gabinete do Ministério da Guerra transmitiu ao general Machado Lopes a seguinte mensagem, às 6h 28 de agosto: “O IIIº Exército deve compelir imediatamente o sr.

Leonel Brizola a pôr termo à ação subversiva que vem desenvolvendo e que se traduz pelo deslocamento e concentração de tropas (…) Faça convergir sobre Porto Alegre toda a tropa do Rio Grande do Sul que julgar conveniente, inclusive a 5ª DI, se necessário. Empregue a Aeronáutica, realizando inclusive o bombardeio, se necessário (…)”. (5a. DI, Divisão de Infantaria, assim chamada então, com sede em Curitiba, hoje integrando a 5a. Divisão do Exército).

Radioamadores captaram a mensagem. A senha definitiva para o ataque aéreo, que também chegou a ser transmitida era: “Tudo azul em Cumbica. Boa viagem”, porque os jatos da Base Aérea de Canoas, depois da missão, deveriam seguir para aquela base em São Paulo.

Em Canoas seguiram-se momentos indescritíveis de tensão. Alertados pelo capitão Alfredo Daudt, os sargentos da base aérea se insurgiram, decididos a impedir que os oficiais levantassem voo. Esses se dirigiram a um dos prédios para vestir os uniformes. A partir daí os relatos são muitos. Uns dizem que os pneus dos jatos foram esvaziados. Outros dão conta que os sargentos cercaram os oficiais no prédio, e que todos, de ambos os lados, dispunham de armamento pesado e estavam dispostos à luta.

Ainda outros que eles deram as mãos formando uma corrente para evitar que os oficiais pudessem embarcar nos jatos.

Os sargentos conseguiram enviar um jipe até o centro de Porto Alegre (naquele tempo o sistema de comunicações era muito precário) para pedir ajuda. O jipe quase foi virado por uma multidão enfurecida pela notícia da ameaça de bombardeio. Consta que um dos sargentos só conseguiu impedir o linchamento gritando que era parente de Brizola, o que não era verdade…

Os emissários conseguiram passar, e o general Machado Lopes enviou uma força-tarefa para assumir o controle da situação na Base Aérea. Foi feito um acordo: o comandante da base, brigadeiro Aureliano Passos, e os oficiais favoráveis ao golpe a abandonaram e foram para Cumbica. Assumiu o comando o tenente-coronel aviador Alfeu de Alcântara Monteiro, legalista.

Ao assumir o comando da base, o tenente- coronel deu declarações no sentido de tranquilizar a opinião pública. Anunciou – o que confirmava fatos sabidos da véspera – que o brigadeiro Aureliano deixara a base com mais oficiais levando os jatos que seriam utilizados no bombardeio da cidade, em número de dez

 Alegava que isso afastava o perigo do ataque, e, além disso, negava a existência da ordem que a base, de fato, recebera: “Na realidade os oficiais, inclusive o comandante da Esquadrilha de Caças, estavam contrários à atitude para que a FAB bombardeasse o Palácio de Governo ou qualquer outro local”. Esse “qualquer outro local” seriam pelo menos as torres da Rádio Guaíba, base da Rede da Legalidade que o governo gaúcho já formara em escala nacional.

Li, tempo atrás, um depoimento do escritor mineiro Oswaldo França Júnior (1936-1989), que conheci pessoalmente no restaurante Dona Lucinha, em Belo Horizonte, onde tinha mesa fixa, sobre os acontecimentos na Base Aérea de Canoas, onde ele servia como oficial aviador.

No seu depoimento ele confirmava a ordem de bombardeio. Dizia que houvera uma intensa discussão entre os oficiais se a ordem deveria ser cumprida ou não. A decisão final da maioria dos oficiais foi positiva, e e passaram a noite se preparando para o ataque. Este só não aconteceu devido à intervenção dos sargentos e dos oficiais legalistas. Oswaldo França Júnior acabaria cassado e expulso da Aeronáutica em 1964.

Entretanto, alguns dias depois, o tenente-coronel Alfeu de Alcântara Monteiro daria nova entrevista ao mesmo jornal (o Jornal do Dia), em 3 de setembro, em que denunciava manobras dos ministros de Brasília para “desunir” as forças da Legalidade, segundo as quais ele não mais obedeceria à orientação prevalecente no Rio Grande do Sul. Diz o texto: “Trata-se de uma manobra do Ministério para tentar separar as forças do Rio Grande, Terceiro Exército, FAB e governo do Estado. Estamos indissoluvelmente unidos e reina harmonia nas forças da Legalidade”.

Essa harmonia não devia ser tanta assim. A própria notícia, mais adiante, dizia curiosamente que na Base Aérea de Canoas havia 216 sargentos, cabos e soldados prisioneiros de cerca de 30 oficiais. Ou seja, isso mostra que houvera, ao lado da negociação sobre o impedimento do bombardeio do centro de Porto Alegre, uma negociação formal sobre o destino das ordens e contraordens dadas, recebidas e de fato não cumpridas.

Mas de certo modo os aviões tinham cumprido a ordem recebida, ou seja, decolaram de Canoas e pousaram em Cumbica. Se não realizaram o bombardeio é porque não tinham bombas nas asas, impedidas de embarcar pelos sub-oficiais e pela presença da força-tarefa enviada pelo general Machado Lopes. Ao mesmo tempo, os suboficiais e praças rebelados permaneceram sob a custódia dos oficiais remanescentes.

Mantinha esse delicado equilíbrio a presença e o prestígio do tenente-coronel aviador Alfeu de Alcântara Monteiro. Não deixava de ser uma saída conciliatória: tudo estava de acordo com os manuais, e dessa forma a carreira de ninguém seria prejudicada, é o que se pode concluir.

O fato é que a ordem de bombardeio houve, e só não se cumpriu graças à decisão contrária dos sargentos, dos suboficiais, e dos oficiais legalistas, logo a seguir amparada pela atitude do tenente-coronel, assumindo o comando da Base Aérea. O cumprimento da ordem teria consequências imprevisíveis: o Palácio Piratini, alvo do bombardeio, fica em local densamente povoado; nesta época já havia até alguns edifícios ao seu redor. A Praça da Matriz (oficialmente Marechal Deodoro), como a população ainda a chama, em frente ao Palácio, estava sempre cheia de povo, naqueles dias de mobilização. Haveria um morticínio, como o que houve em junho de 1955 em Buenos Aires, quando aviões da Marinha e da Aeronáutica bombardearam a Casa Rosada e outros prédios públicos numa tentativa de derrubar Perón.

3.

Minha família morava na rua Demétrio Ribeiro, a quatro quadras do Palácio Piratini. Na manhã em que se espalhou a notícia do possível bombardeio presenciei cenas dignas de um documentário sobre a Segunda Guerra Mundial: famílias batendo em retirada pela rua, levando malas com roupas e outros pertences. Na noite que se seguiu, ainda sob a sombra da ameaça, nós mesmos fomos dormir no apartamento de uma amiga da família, muitas quadras mais distante.

A importância dos acontecimentos de Canoas foi atestada pelo fato de que na Base Aérea começaram as comemorações do Sete de Setembro seguinte, quando a crise da posse de Goulart já estava resolvida. Às 9 hs houve um desfile que homenageava as autoridades que para lá se deslocaram: o governador Brizola, o general Machado Lopes, o comandante da Brigada Militar, o arcebispo do Rio Grande do Sul. No fundo, os homenageados por tal deslocamento eram os praças, sargentos, suboficiais e oficiais legalistas da base. Nas fotos publicadas na imprensa, o tenente-coronel Alfeu de Alcântara Monteiro tem lugar de destaque.

Neste momento o vice-presidente João Goulart já embarcara para Brasília, depois de chegar a Porto Alegre ao fim de uma longa viagem a partir da China, onde estava quando da renúncia de Jânio, com escala final em Montevidéu. A ida de João Goulart para a capital da República, depois da sua aceitação da emenda parlamentarista, também teve participação especial da FAB. Partidários do golpe montaram uma operação para derrubar o avião presidencial, a “Operação Mosquito”. Contrária a ela, e com a participação de sargentos e suboficiais de Brasília, montou-se uma “Operação Tática” destinada a impedir que aviadores golpistas pudessem cumprir aquela determinação.

A base da “Operação Tática” foi o Aeroporto Salgado Filho, em Porto Alegre, de onde partiu o avião presidencial. Fizeram parte dela iniciativas como a de impedir que os demais aeroportos do caminho obtivessem informações sobre o plano de voo, e de divulgação de dados meteorológicos enganosos sobre o sul do Brasil, como a de que chuvas torrenciais impediam o sobrevoo de Porto Alegre. O comandante da “Operação Tática” foi o tenente Generoso Resende Lacerda, mas o responsável por todas as ordens, mais as mensagens enganosas para o resto do país, foi o tenente-coronel Alfeu de Alcântara Monteiro.

Essa posição proeminente nos acontecimentos de 1961 valeu a ele algumas promoções a seguir. Duas são muito significativas. Chegou a ser piloto do avião presidencial, depois da posse de João Goulart. E foi nomeado para dirigir a Superintendência da Fronteira Sudoeste, que abrangia os estados sulinos mais o Estado do Mato Grosso (hoje, na região, Mato Grosso do Sul). Mas o tenente-coronel aviador não permaneceu nos cargos. Do primeiro não tenho informação de por que nem quando saiu.

Mas do segundo afastou-se em 20 de janeiro de 1963, enviando o seguinte telegrama às autoridades competentes: “Informo Vossência serei substituído breve Superintendência Fronteira Sudoeste devido imposição governador Leonel Brizola e presidente PTB Rio Grande do Sul o estrangeiro [sic] João Caruso. Motivo real não mencionado presidente Jango é que não sou político e assim jamais permitirei transformar órgão sob minha direção em cabide de emprego para cabos eleitorais que deverão agir próximas eleições para prefeito de Palegre e outros municípios do RGS. Adianto vossência que pessoalmente só tenho prejuízos naquela função. Esses prejuízos estavam sendo compensados tendo em vista possibilidades promover patrioticamente desenvolvimento socioeconômico área Fronteira Sudoeste, no menor espaço de tempo, com máxima economia, contando naturalmente cooperação governo objetivo e profícuo vossência e demais governadores, conforme poderão testemunhar elementos credenciados [n]esse Estado e outros compreendidos fronteira Sudoeste, que lá estiveram e presenciara[m] a minha orientação administrativa imprimida ao órgão. Lamento informar vossência esses fatos mas faço pretendendo ressalvar minha responsabilidade no caso e dar nome aos bois, para que o povo dos quatro estados, que fazem parte da área, não fique às escuras sobre o assunto. Sentindo não mais poder dedicar meus esforços nessa direção, despeço-me atenciosamente. Alfeu de Alcântar Monteiro, tenente-coronel aviador.

4.

Pouco depois de deixar a superintendência, o tenente-coronel se envolveu numa luta de rua em Porto Alegre, ao ser interpelado por guardas de trânsito de forma que considerou inadequada. O episódio se passou às 23 h de um sábado, no mês de fevereiro, e acabou na Chefatura de Polícia, além de ser publicado com estardalhaço em jornais do dia seguinte.

Por esse tempo o tenente-coronel havia se separado da esposa e constituído nova família. A primeira foi residir no Rio. Mas ao longo de 1963 ele acabou reconsiderando sua situação.

Reconciliou-se com a primeira esposa, decidindo ambos voltar a morar juntos. Querendo seguir para o Rio, dirigiu-se para a Base Aérea de Canoas a fim de colher documentos e pertences que lá deixara. E foi onde estava quando começou o golpe, na madrugada de 1º de abril, depondo o presidente João Goulart. O comandante da base, brigadeiro Otelo da Rocha Ferraz, deixou o local depois de ser nomeado novo comandante pelos golpistas, o brigadeiro Nelson Lavanère Wanderely. Mas os sargentos e suboficiais, inconformados, se rebelaram. E junto com eles estava o seu antigo Comandante da Legalidade.

É difícil saber exatamente o que aconteceu a seguir. Lavanère Wanderley se apresentou na base acompanhado pelo coronel-aviador Roberto Hipólito da Costa. Por volta das 21h do sábado, 4 de abril de 1964, reuniram-se numa sala do comando com o tenente-coronel.

Estavam apenas os três. Segundo informações da imprensa, houve um tiroteio. A versão divulgada estabelecia que, ao receber ordem de prisão, ou de se apresentar no Rio de Janeiro, o tenente-coronel Alfeu se insurgiu, sacou da arma, fez cinco disparos contra o brigadeiro, à queima-roupa, acertando um ou dois de raspão. No futuro, ao ser empossado como ministro da Aeronáutica, o brigadeiro tinha, segundo o ministro que lhe transmitia o cargo, a cicatriz de um ferimento de raspão no olho. Uma versão diz que “elementos de segurança” acorreram e alvejaram o tenente-coronel.

Outra, que foi a versão levada a julgamento, estabeleceu que o autor dos disparos contra o tenente-coronel foi o coronel Hipólito. A nota oficial distribuída pela Aeronáutica em 5 de abril dizia que o tenente-coronel fora morto por “circunstante”. De um modo geral, os comentários ressaltavam que o oficial morto era de “tendências brizzolistas” (sic). Numa circunstância, pelo menos, foi chamado de “fanático”.

Tempos depois, o coronel Hipólito foi a julgamento no Rio de Janeiro, sendo absolvido. Segundo o noticiário, a alegação da defesa foi a de legítima defesa de terceiros. O caso é até hoje mencionado em publicações de todos os tipos, impressas ou na internet, desde as que arrolam as vítimas da ditadura àquelas que fazem a apologia do golpe e acusam o tenente-coronel de ter atentado contra a vida do brigadeiro Lavanère. As versões extremas falam em assassinato com 16 tiros de metralhadora, ou com um único tiro, disparado pelo coronel Hipólito em defesa do brigadeiro. Sobre o acontecimento, obtive depoimento da filha do tenente-coronel, Malena Monteiro.

Conversamos em 22 de maio de 1983, em Brasília, depois de uma correspondência que começou em 1980. Caracterizou seu pai como um homem impulsivo, algo autoritário e ao mesmo tempo carinhoso, dividido em casa entre manter a ordem e cuidar das meias, dos sapatos e das roupas dos filhos. Era nacionalista, não de esquerda. Disse também que por ocasião da morte do pai a família recebeu cinco passagens para ir do Rio a Porto Alegre da Varig, mas chegaram atrasados ao enterro, que se deu no dia 5 de abril, no cemitério de São Miguel e Almas, com honras militares. Depois, no Rio, foram perseguidos e ameaçados por oficiais da Aeronáutica, o que fez sua mãe mudar-se para a Inglaterra.

No dia da morte do pai ela disse terem os três, Lavanère, Alfeu e Hipólito, se dirigido para um gabinete do QG. Fecharam-se lá dentro, e depois de uma discussão ocorreram os disparos.

O tenente-coronel foi atingido por oito disparos, sendo quatro pelas costas e quatro pela frente.

Como os disparos estavam em linha ascendente, suspeitou-se de uma metralhadora, mas é verdade que uma pistola automática faria o mesmo efeito. Supõe-se que ao ser atingido pelas costas ele tenha se virado, e recebido novos disparos pela frente. Um gesto desses levanta a hipótese de que o brigadeiro Lavanère tenha sido atingido de raspão por uma das balas disparadas pelo coronel Hipólito. Neste caso, o tenente-coronel Alfeu não atirou primeiro, e se chegou a sacar a arma foi para se defender, ao contrário da versão oficial, em que ele foi o agressor.

Há uma versão dos acontecimentos que afirma ter o tenente-coronel apenas ameaçado o brigadeiro com sua arma, e que com a chegada do coronel Hipólito e outros assessores começou “uma troca de tiros”.

Mas, segundo Malena, quem acorreu de fora para dentro foi o ajudante de ordens do tenente- coronel. Ele, ao entrar, deparou-se com a cena consumada. Disse-me que este rapaz também foi perseguido pelos vencedores do golpe, bem como vários sargentos e oficiais da base, entre eles o capitão Alfredo Daudt, que estava presente na base no momento do tiroteio.

Seu pai foi levado para o Hospital do Pronto Socorro em Porto Alegre, onde chegou com vida e ainda sobreviveu por meia hora. Não falou sobre os acontecimentos, só sobre os filhos. Ela disse que a família soube de alguns desses fatos por uma freira, que estava presente no hospital, e que o médico que atendeu seu pai resolveu calar-se, por medo das consequências. Na ocasião em que a entrevistei, o coronel Hipólito já tinha morrido. O brigadeiro Lavanère também, ou morreu algum tempo depois. Em nenhum momento, em nenhum documento, encontrei referência a exame de balística nas armas presentes.

O que se passou exatamente naquela sala? Jamais se saberá. Ela virou uma caixa-preta. Só poderia se saber com exames de balística nessa altura impossíveis, com o exame da sala em busca de possíveis vestígios que tenham ficado depois de tantos anos, com a exumação dos restos mortais do tenente-coronel. O depoimento de Malena, a partir do da freira e do ajudante de ordens, é consistente.

A versão de que seu pai disparou cinco tiros a queima-roupa e errou todos é inverossímil.

Também é a de que tenha sido atingido por um único tiro, pois ainda foi transportado para o Hospital do Pronto Socorro em Porto Alegre e lá sobreviveu por meia hora, e falando. É certo mesmo que tenha sido atingido várias vezes e tenha morrido em consequência da hemorragia e da falência de órgãos atingidos.

A versão de que foi atingido por “dezesseis tiros” cabe na de que levou oito, pois como se sabe, um tiro nas condições em que estavam, atravessa o corpo. Se o tenente-coronel foi atingido por oito, teria 16 orifícios pelo corpo. E é possível mesmo que uma das balas disparadas pelo coronel Hipólito tenha ferido o brigadeiro, saindo do corpo do tenente-coronel ou passando-lhe ao lado, enquanto este se virava. As versões divulgadas oficial ou oficiosamente se desmentem na sua multiplicidade.

Mas o importante a ressaltar é que o Golpe de 64 criou esse tipo de caixa-preta na vida de todo mundo. Sempre há algo que é difícil ou mesmo impossível de decifrar completamente. No caso, essa caixa-preta se refere à vida de um homem com quem a cidade e o povo de Porto Alegre têm uma dívida imorredoura. Ele, os oficiais e os sargentos legalistas salvaram a cidade de um bombardeio criminoso.

Em dezembro de 2017 o juiz Fábio Hassan Ismael, da 2a. Vara Federal do município de Canoas, em processo aberto a pedido do Ministério Público, determinou a retirada da expressão “legítima defesa” do obituário do tenente-coronel. Ficou estabelecido que ele foi “executado”, ou seja, assassinado.

Depoimento de outras testemunhas auriculares, presentes perto da sala onde se deu o assassinato, registraram terem ouvido, antes de mais nada, disparos de uma arma pesada, que seria a do coronel Hipólito. O tenente-coronel dispunha de uma pistola de calibre menor, o que corrobora a hipótese de assassinato.

Já em 2015 decisão da Câmara de Vereadores da cidade dera o nome dele a uma praça junto da avenida Getúlio Vargas, com a presença de um busto em sua homenagem. A praça que não há em Porto Alegre acabou sendo criada na vizinha Canoas.

Em seu depoimento, Malena ressaltou que seu pai gostava de voar. Foi daí que pensei ser uma praça homenagem adequada a ele, já que elas costumam abrigar muitos pássaros, e estes também gostam de voar. De resto, só sei dizer que quando pedi a ela que me dissesse como era seu pai, ela teve um olhar que eu gostaria que vissem no rosto de minhas filhas, se a elas um dia lhes perguntarem qualquer coisa sobre mim.

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