GEOPOLITICA

 



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Trump e Europa: o futuro incerto

Velho Continente atravessa momentos conturbados, para além da guerra. A extrema direita avança. Governos de França e Alemanha estão frágeis. E até o acordo UE-Mercosul gera desavenças. E Trump, que volta à Casa Branca com mais poder, pode aprofundar o caos

Nos últimos anos duas preocupações cresceram entre a maioria dos governantes na Europa, na União e fora dela. A primeira foi a tensão com a Rússia, provocada pela guerra na Ucrânia. Na esteira dos Estados Unidos e da Otan, a maioria dos países europeus alinhou-se ao apoio financeiro e militar do governo de Kiev.

A segunda foi a de que, com o crescimento dos partidos de extrema-direita, a pauta de quase todos os governantes e partidos europeus, da centro-esquerda à direita tradicional, passou a assimilar de modo mais orgânico o repúdio a imigrantes e refugiados, sobretudo àqueles que vêm do antigo Terceiro Mundo, hoje Sul Global, e aos oriundos dos países muçulmanos.

A Rússia, a “invasão” do espaço europeu por aqueles considerados como estranhos a seu universo cultural e até religioso, o suposto terrorismo importado dos países árabes: eis um coquetel explosivo que alimenta alguns dos pesadelos mais aterrorizantes de governantes e governados preocupados em preservar os valores tidos por eles como autenticamente europeus, em torno da democracia liberal e do liberalismo econômico.


Agora um novo pesadelo veio se juntar aos já mencionados: a posse de Donald Trump em seu segundo mandato na Casa Branca. Jamais um presidente norte-americano acumulou tantos poderes. Ele tem a seu lado a maioria nas duas casas do Congresso em Washington, uma sólida maioria na Suprema Corte (que lhe garantiu imunidade criminal) enquanto estiver no cargo e o alinhamento explícito de duas das maiores Big Techs mundiais, lideradas por Elon Musk e Mark Zuckerberg. Outras devem aderir a este verdadeiro consórcio digital, informativo ou des-informativo, conforme o ponto de vista favorável ou crítico a elas. Elon Musk já apontou suas baterias para a Europa, aliando-se explicitamente aos partidos de extrema-direita em alguns países, como o Reino Unido e a Alemanha. Zuckerberg promete suspender o sistema de verificação da credibilidade das informações que circularem na sua Big Tech.

Os problemas europeus, entretanto, não têm raízes apenas em fontes definidas como externas. A própria Europa navega num mar de turbulências e incertezas. Os governos da dupla principal da União Europeia, França e Alemanha, estão fragilizados. Em 2024 a França teve quatro primeiros-ministros. O atual, François Bayrou, escapou de um voto de desconfiança na Assembleia Nacional fazendo concessões ao Partido Socialista, entre elas a de rediscutir a proposta de reforma de Previdência Social defendida pelo presidente Emmanuel Macron.

Na Alemanha, o primeiro ministro social-democrata, Olaf Scholz, enfrentará uma eleição difícil em fevereiro. De momento as pesquisas de intenção de voto são amplamente desfavoráveis a seu partido.

Partidos de extrema-direita estão no poder na Hungria e na Itália, e acossam os governos da Escandinávia, antes um verdadeiro santuário da social- democracia. Na Áustria o Partido da Liberdade, de extrema-direita, foi o mais votado na última eleição e agora tenta formar um governo de coalizão com a direita tradicional.

O Acordo de Shengen, que prevê a livre circulação entre os países europeus, está ameaçado, porque vários deles estão restabelecendo controles policiais em suas fronteiras terrestres.

A economia da União Europeia está fragilizada. O alinhamento da Alemanha, que representa 30% do PIB da Zona do Euro, com o governo de Kiev terminou por provocar a interrupção do fornecimento do gás russo para o país. A indústria alemã entrou em recessão, acossada pela concorrência chinesa na produção de veículos elétricos e prejudicada pela turbulência no comércio mundial, graças à guerra na Ucrânia e o conflito no Oriente Médio. A Alemanha segue sendo a principal exportadora e importadora de produtos europeus. Uma crise nela atinge todo o continente.

Até a recente assinatura do Acordo de Parceria entre a União Europeia e o Mercosul é fonte de desavenças, com a Alemanha desejando sua rápida implementação, enquanto o setor agropecuário, da Espanha à Polônia, faz-lhe forte oposição.


Trump e seus aliados são imprevisíveis. O que fará ele na Ucrânia? No Oriente Médio? Serão suas afirmações de anexar o Canal do Panamá, a Groenlândia e o Canadá apenas blefes retóricos? Deste quadro complicado extrai-se uma única certeza: a Europa enfrentará dias de profundas incertezas pelos próximos quatro anos do mandato de Trump.

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Presença crescente da China reforça necessidade de controlar o investimento estrangeiro direto na América Latina, alertam analistas

Cada vez mais países adotam mecanismos de proteção, conforme o Ocidente adverte sobre os interesses geopolíticos ocultos de Beijing

O volume crescente de investimento estrangeiro direto (IED) proveniente da China em economias globais tem levado diversos países a implementarem mecanismos de controle, com objetivo de proteger setores estratégicos e assegurar a soberania econômica. O dinheiro chinês tem aumentado particularmente na América Latina, gerando alerta de especialistas e governos estrangeiros sobre os riscos desse processo e possíveis interesses camuflados do governo chinês.

“O papel da China na América Latina e no Caribe cresceu rapidamente desde a virada do século, prometendo oportunidades econômicas, mas também levantando preocupações sobre a influência de Beijing”. diz a especialista em relações internacionais Diana Roy em artigo para o think tank Council of Foreing Relations (CFR).

O caso México se destaca. Por lá, a presença chinesa é vista com desconfiança pelos vizinhos norte-americanos, sob a alegação de que Beijing usa suas empresas em território mexicano para facilitar a entrada de produtos chineses nos Estados Unidos, potencialmente burlando acordos comerciais como o USMCA (Acordo Estados Unidos-México-Canadá).

Em resposta, o governo mexicano tem alinhado suas políticas comerciais com as dos EUA e do Canadá, impondo tarifas a importações asiáticas e reforçando a supervisão aduaneira para preservar a integridade dos acordos comerciais regionais.

A presidente Claudia Sheinbaum também anunciou o “Plano México”, uma estratégia destinada a reduzir o déficit comercial com a China e atrair investimentos. De acordo com o jornal Financial Times, o plano inclui metas específicas, como a substituição de 15% das importações de determinados produtos por fornecimentos domésticos, visando fortalecer a indústria nacional e mitigar a dependência de importações chinesas.

Além disso, a nova administração mexicana está considerando a implementação de incentivos fiscais para atrair investimentos estrangeiros em setores como veículos elétricos, semicondutores e eletrônicos. O objetivo é posicionar o México como uma alternativa viável para empresas que buscam aproximar suas cadeias de suprimentos de seus principais mercados, sobretudo o norte-americano, especialmente em um período de intenso protecionismo nos Estados Unidos.

A situação da América do Sul

A postura do México acompanha a de muitos países, cada vez mais adotando mecanismos de controle. Nos EUA, que lideram o ranking global de entrada de IED com fluxo de US$ 310,9 bilhões em 2023, a regulação cabe ao Comitê de Investimentos Estrangeiros, que em 2018 foi fortalecido pela Lei de Modernização da Revisão de Riscos de Investimento Estrangeiro (FIRRMA). A União Europeia (UE) adotou medida semelhante em 2020, com regras mais rígidas para “identificar, avaliar e mitigar riscos potenciais à segurança ou à ordem pública” gerados pela entrada de IED.

“Desde 2018, mais da metade dos 38 países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), uma organização multilateral que serve para impulsionar o comércio global, introduziram mecanismos de triagem de investimento intersetorial ou multissetorial”, afirma o professor Bob Savic, consultor em assuntos fiscais, jurídicos e econômicos da Geopolitical Intelligence Services (GIS), uma organização focada na análise e produção de relatórios sobre geopolítica, economia e segurança global. “Preocupações com a segurança estão por trás dessa tendência.”

A América do Sul ilustra essas preocupações de forma clara. Na região, o aumento da presença econômica chinesa é especialmente notável em nações como Brasil e Argentina, que vêm atraindo consideráveis aportes em áreas como infraestrutura e energia. Essa dinâmica gera uma inquietação relacionada à dependência financeira e à potencial redução de soberania em setores estratégicos.

Juliana González Jáuregui, pesquisadora da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais e do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas da Argentina, destacou em setembro de 2024, em entrevista ao site Dialogue Earth, o papel de empresas chinesas no setor energético argentino.

“A China e suas empresas estatais e privadas têm sido decisivas para a transição energética argentina, tanto direta quanto indiretamente”, disse ela, ressaltando a desvantagem dos parceiros ocidentais nessa disputa. “A Europa e os EUA ainda não entenderam a importância de se movimentar em nível subnacional na Argentina, algo que a China conseguiu de forma rápida e significativa.”

Segundo González, a situação é semelhante no setor energético brasileiro, particularmente no eólico e no solar. Nestes, a presença chinesa no Brasil é ainda mais forte que na Argentina, de acordo com a pesquisadora.

Roy reforça tal avaliação. “As empresas estatais da China são grandes investidores nas indústrias de energia, infraestrutura e espaço da região, e o país ultrapassou os Estados Unidos como o maior parceiro comercial da América do Sul”, afirma a especialista do CFR.

Brasil: um mercado liberal

Essa conjuntura tem intensificado o debate sobre a necessidade de mecanismos de controle mais robustos no Brasil. O país é o quinto que mais recebeu IED em 2023 no mundo, com uma entrada de US$ 65,9 bilhões em 2023, segundo dados da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad). Com poucas barreiras legais, é considerado um mercado liberal na captação desse fluxo financeiro. 

“Esta é uma questão muito importante e que tem atraído muita atenção do governo brasileiro, assim como do setor privado”, disse à reportagem de A Referência, em outubro de 2024, Fábio Morosini, professor de Direito Internacional na Faculdade de Direito da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). “É verdade que muitos países, especialmente do Norte Global, tem instituído políticas de monitoramento para a entrada de investimentos estrangeiros direito, a fim de salvaguardar interesses essenciais, como os de segurança nacional amplamente entendida.

O Brasil conta com mecanismos de proteção esparsos, mas carece de um órgão centralizador e mesmo de regras mais rígidas. Essa abordagem pode ser interpretada como uma tentativa de atrair mais investimento estrangeiro, oferecendo um ambiente mais receptivo e com menos burocracia. No entanto, a flexibilidade também pode acarretar riscos, como a ausência de proteção suficiente contra práticas desleais e a chance de desvalorização de ativos.

Na visão de especialistas, o dinheiro chinês não chega à América do Sul livre de interesses. “Beijing também expandiu sua presença cultural, diplomática e militar por toda a região. Mais recentemente, a China comemorou a abertura de um novo megaporto no Peru como parte de sua Nova Rota da Seda (BRI, na sigla em inglês, de Belt And Road Initiative)”, relata Roy.

É aí, segundo ela, que as preocupações se justificam. “Os Estados Unidos e seus aliados temem que Beijing esteja usando essas relações para perseguir seus objetivos geopolíticos — como o isolamento adicional de Taiwan — e reforçar regimes autoritários como os de Cuba e Venezuela”, diz a especialista do CRF, prevendo uma turbulência mais severa com Washington a partir de agora. “A segunda presidência de Donald Trump pode pressagiar uma abordagem mais conflituosa.”

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Coreia do Norte sofre duras perdas ao apoiar a Rússia na Ucrânia, aponta estudo

Com até 45 mil baixas por mês, Pyongyang se prepara para enviar mais homens e mantém fornecimento de mísseis e munição

Soldados norte-coreanos enviados para reforçar as forças russas na guerra contra a Ucrânia enfrentam altas taxas de baixas e dificuldades de coordenação no campo de batalha. De acordo com o Instituto para o Estudo da Guerra (ISW), a Coreia do Norte pode perder de 30 mil a 45 mil homens por mês, entre mortos e feridos, se mantiver o atual ritmo de operações na região de Kursk.

Ainda segundo a análise publicada pelo ISW em 22 de janeiro, a Coreia do Norte pretende enviar novas tropas à Rússia até meados de março de 2025. O envio seria uma tentativa de sustentar as ofensivas lideradas pela infantaria, apesar das pesadas perdas sofridas pelas forças já em combate.

Até meados de janeiro, o cálculo é de que entre 33% e 40% dos 12 mil soldados norte-coreanos destacados para a Rússia já tenham sido mortos ou feridos.

Embora a chegada de reforços esteja prevista, especialistas questionam sua eficácia. O ISW avaliou que esses contingentes não devem causar mudanças significativas nas operações russas. “As dificuldades de comunicação e integração entre as forças norte-coreanas e russas continuam sendo um problema crítico”, aponta o relatório.

As perdas também geram tensões entre Pyongyang e Moscou. O ISW alertou que, além de colocar em risco as relações entre os dois países, as baixas em massa expõem a falta de preparo das tropas norte-coreanas, que não enfrentavam combates dessa magnitude desde 1953.

Outro aspecto crítico levantado pelo ISW é a falta de coesão entre as forças aliadas. Relatos indicam que russos e norte-coreanos já se enfrentaram pelo menos duas vezes devido a erros de identificação. Apesar de esforços para melhorar a comunicação, como a inclusão de tradutores russos nos grupos norte-coreanos, os resultados permanecem limitados.

As estratégias adotadas no campo de batalha também são motivo de preocupação. Militares ucranianos relataram que soldados norte-coreanos continuam realizando ataques em massa e não recuam, mesmo quando feridos. Além disso, forças russas teriam lançado ataques com drones contra norte-coreanos feridos para impedir que fossem capturados pelos ucranianos.

Analistas acreditam que, ao enviar mais tropas, a Coreia do Norte busca fortalecer os laços com a Rússia, fornecendo não apenas soldados, mas também milhões de projéteis de artilharia e mísseis balísticos de curto alcance. Ainda assim, o ISW avalia que os altos índices de baixas e as dificuldades operacionais limitarão os aprendizados do comando militar norte-coreano nessa guerra.

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China responde a sanções dos EUA com restrições de entrada para autoridades

A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, afirmou que Beijing já comunicou sua posição diretamente aos Estados Unidos

Em mais um capítulo da crescente rivalidade entre China e Estados Unidos, Beijing anunciou nesta terça-feira (10) que irá aplicar restrições de visto a autoridades norte-americanas, em resposta às sanções impostas por Washington a funcionários de Hong Kong. A medida é uma retaliação às ameaças de Washington de sancionar autoridades chinesas envolvidas na implementação da polêmica lei de segurança nacional em Hong Kong. As informações são do South China Morning Post.

A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Mao Ning, declarou que a decisão é uma resposta à “interferência grosseira” dos EUA nos assuntos internos do país, acusando Washington de violar princípios do direito internacional e normas básicas que regem as relações internacionais.

“Os Estados Unidos, ao usar questões relacionadas a Hong Kong para impor restrições arbitrárias de visto a autoridades chinesas, interferiram nos assuntos internos da China de maneira inaceitável”, afirmou Mao em uma coletiva de imprensa. A porta-voz também destacou que Beijing já havia comunicado sua posição diretamente ao governo norte-americano, exigindo que respeite a soberania chinesa e o sistema jurídico de Hong Kong.

No mês passado, Washington anunciou que imporia novas sanções contra autoridades de Hong Kong envolvidas na execução da lei de segurança nacional na região semiautônoma. A decisão veio após a prisão de 45 indivíduos sob acusação de subversão, conforme reportado pela RTHK, uma das principais emissoras locais, relatou a Global Times. Em novembro, essas 45 pessoas foram condenadas por “conspirar para subverter o poder do Estado” e receberam penas de prisão que variam entre 50 meses e 10 anos em Hong Kong.

As tensões entre as duas potências aumentaram desde que a China implementou, em 2020, uma lei de segurança nacional que amplia o controle sobre Hong Kong, gerando críticas internacionais. Washington argumenta que a legislação viola a autonomia da região, prevista no acordo de 1997 que transferiu o território do Reino Unido para a China.

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China intensifica presença militar em águas próximas a Taiwan com maior frota em décadas

Movimento naval visa afirmar domínio na região e reforçar reivindicação territorial sobre a ilha democrática

O Ministério da Defesa de Taiwan alertou nesta terça-feira (10) para a maior mobilização naval chinesa na região em quase 30 anos, com navios de guerra posicionados entre ilhas do sul do Japão e o Mar da China Meridional. A movimentação ocorre em meio a tensões crescentes após o retorno do presidente taiwanês Lai Ching-te de uma viagem diplomática ao Pacífico. As informações são da Reuters.

Sun Li-fang, porta-voz do Ministério da Defesa taiwanês, afirmou que a escala da mobilização militar é sem precedentes desde 1996, quando a China realizou exercícios bélicos antes das eleições presidenciais em Taiwan. “O tamanho atual é o maior comparado aos quatro exercícios anteriores. Independentemente de terem anunciado ou não, eles representam uma grande ameaça para nós”, declarou.

Além disso, autoridades taiwanesas detectaram 47 aeronaves militares e 12 navios de guerra chineses operando em torno da ilha nas últimas 24 horas. De acordo com um oficial de inteligência, parte das aeronaves simulava ataques contra embarcações navais estrangeiras e praticava manobras de bloqueio.

Hsieh Jih-sheng, oficial de inteligência do Ministério da Defesa, destacou que a China está construindo duas “paredes” no Pacífico. “Eles estão enviando uma mensagem muito clara com essas duas barreiras: transformar o Estreito de Taiwan em um mar interno da China”, afirmou.

A estratégia chinesa, que inclui a concentração de cerca de 90 navios militares e da Guarda Costeira, parece focada em negar o acesso de forças estrangeiras à região, conforme explicou Hsieh. Ele ressaltou que o objetivo vai além de Taiwan e busca intimidar outros países no entorno do Pacífico Ocidental.

Embora a China não tenha confirmado exercícios militares oficiais, Taiwan elevou o nível de alerta e está monitorando as áreas de exclusão aérea reservadas pela China. Até o momento, não foram registrados exercícios com fogo real, mas o aumento da atividade é considerado “alarmante” pela inteligência taiwanesa.

A postura agressiva de Beijing reflete sua rejeição à independência de Taiwan, vista pelo governo chinês como uma questão central de seus interesses estratégicos. Em contrapartida, o presidente Lai reforçou que “somente o povo de Taiwan pode decidir seu futuro”, rejeitando as reivindicações chinesas de soberania.

A intensificação das operações militares ocorre também em um momento de renovadas tensões entre China e Estados Unidos, com Washington sendo repetidamente advertida a não cruzar as “linhas vermelhas” traçadas por Beijing em relação à questão taiwanesa.

Por que isso importa?

Taiwan é uma questão territorial sensível para a China, e a queda de braço entre Beijing e o Ocidente por conta da pretensa autonomia da ilha gera um ambiente tenso, com a ameaça crescente de uma invasão pelas forças armadas chinesas a fim de anexar formalmente o território taiwanês.

Nações estrangeiras que tratem a ilha como nação autônoma estão, no entendimento de Beijing, em desacordo com o princípio “Uma Só China“, que também vê Hong Kong como parte da nação chinesa.

Embora não tenha relações diplomáticas formais com Taiwan, assim como a maioria dos demais países, os EUA são o mais importante financiador internacional e principal parceiro militar de Taipé. Tais circunstâncias levaram as relações entre Beijing e Washington a seu pior momento desde 1979, quando os dois países reataram os laços diplomáticos.

A China, em resposta à aproximação entre o rival e a ilha, endureceu a retórica e tem adotado uma postura belicista na tentativa de controlar a situação. Jatos militares chineses passaram a realizar exercícios militares nas regiões limítrofes com Taiwan e habitualmente invadem o espaço aéreo taiwanês, deixando claro que Beijing não aceitará a independência formal do território “sem uma guerra“.

A crise ganhou contornos mais dramáticos após a visita da presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, à ilha em 2022. Foi a primeira pessoa ocupante do cargo a viajar para Taiwan em 25 anos, atitude que mexeu com os brio de Beijing. Desde então, a tensão cresce até que, em outubro de 2024, a China realizou um de seus maiores exercícios militares no entorno da ilha.

O treinamento mostrou que Beijing tem condições de impor um bloqueio eficaz, impedindo tanto o transporte marítimo quanto a aviação no entorno da ilha. Trata-se de uma hipótese que vem sendo levantada há tempos por analistas, pois permitira à China sufocar Taiwan sem necessariamente iniciar uma guerra. Se colocada em prática, a medida aceleraria o consumo de materiais essenciais e levaria Taiwan ao colapso, jogando para os aliados ocidentais a decisão de abrir fogo ou não.

Apesar das alternativas apresentadas nas recentes manobras militares, uma invasão militar segue no radar chinês. “Estamos dispostos a lutar pela perspectiva de reunificação pacífica com a máxima sinceridade e empenho”, disse Chen Binhua, porta-voz do Gabinete de Assuntos de Taiwan na China, citado pela agência Reuters. “Mas nunca nos comprometeremos a renunciar ao uso da força”, adicionou.

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A Síria sacode o tabuleiro da geopolítica

À princípio, queda de Assad faz dois perdedores: Irã e Rússia. Ganham Turquia, Israel e EUA. Mas ressurge o fantasma da revolta árabe, agora fundamentalista. Uma região crucial para a supremacia do dólar está mais instável que nunca

Por M. K. Bhadrakumar, em Indian Punchline | Tradução: Glauco Faria

O Irã e a Rússia são os dois grandes perdedores na destituição do presidente da Síria, Bashar al-Assad, no domingo (8/12), pelos grupos islâmicos sunitas afiliados à al-Qaeda. Assad fugiu na hora certa, depois de dar ordens para que houvesse uma transferência pacífica do poder. A probabilidade é de que ele esteja na Rússia. De qualquer forma, reverter a tomada do poder pelos islamitas na Síria está fora de questão.

As oligarquias árabes da região do Golfo estão muito preocupadas com o surgimento de uma variante do Islã político que pode representar-lhes um desafio existencial. Não é de surpreender que elas tenham gravitado em torno do Irã, a quem veem como um fator de estabilidade regional, retribuindo o apelo de Teerã aos Estados regionais para que se unam para evitar o desafio dos grupos “Takfiri” (codinome da Al-Qaeda e do Estado Islâmico na narrativa iraniana). 


Israel e Turquia são os maiores vencedores, pois estabeleceram vínculos com os grupos da Al-Qaeda. Ambos estão bem preparados para projetar poder na Síria e criar suas respectivas esferas de influência no território do país. A Turquia exigiu que a Síria pertencesse somente ao povo sírio – um pedido mal disfarçado de fim da presença militar estrangeira (russa, norte-americana e iraniana).

Da mesma forma, o governo Biden pode estar satisfeito com o fato de que a presença militar russa não permanecerá intocada e que uma perda dramática de influência cerca as bases militares de Moscou na província ocidental síria de Latakia.

Não há dúvida de que o governo “pato manco” em Washington terá um prazer indireto com o fato de que a nova presidência de Donald Trump terá de lidar com a instabilidade e as incertezas prolongadas na Ásia Ocidental, uma região rica em petróleo que gera o petrodólar, que é a base do sistema bancário ocidental – o dólar americano, em particular -, crucial para o eixo “America First” das políticas externas do novo governo.

Sem dúvida, sob a superfície do quadro geral, há vários sub-enredos, alguns dos quais, pelo menos, são de contrários ao fluxo principal. Em primeiro lugar, os novos apelos ouvidos em conjunto pelo grupo de Astana (Moscou, Teerã e Ancara) e pelas capitais regionais para o diálogo intra-sírio que leve a um acordo negociado têm um toque de irrealidade. Ele decorre do medo primitivo, diante da manifestação de uma variante extremista do islamismo político que a região nunca havia experimentado antes em sua história. Certamente, o clima internacional atual praticamente exclui qualquer perspectiva de “diálogo” em um futuro previsível. Pelo contrário, é provável que toda a região seja convulsionada pelos tremores da Síria.

Os EUA devem estar satisfeitos com a mudança de regime em Damasco e darão continuidade aos esforços para o fechamento das bases russas na Síria. Eles declararam sua intenção de continuar com a ocupação da Síria, o que é importante se quiserem remodelar a região para atender a seus interesses geopolíticos.

Em segundo lugar, a Turquia tem interesses especiais na Síria em relação ao problema curdo. O enfraquecimento do Estado sírio, especialmente do aparato de segurança em Damasco, proporciona à Turquia, pela primeira vez, um espaço livre nas províncias da fronteira norte, onde os grupos separatistas curdos estão operando. A presença militar e de inteligência turca na Síria se expandirá aos trancos e barrancos.

Basta dizer que a ocupação turca do território sírio pode assumir um caráter permanente, e até mesmo uma quase anexação de regiões está dentro das possibilidades. Não se engane: o Tratado de Lausanne (1923), que a Turquia considera uma humilhação nacional, acabou de expirar e chegou a hora do acerto de contas para recuperar a glória otomana. A atual liderança turca está comprometida com a geoestratégia do neo-otomanismo.


Portanto, o que está em jogo é a soberania e a integridade territorial da Síria e a desintegração do país como um Estado. Foi relatado que tanques israelenses cruzaram a fronteira com o sul da Síria. Sem dúvida, Israel pretende conquistar muito mais do que o território sírio além das Colinas de Golã. O sonho da Grande Israel deu um passo gigantesco em direção à realidade. Em seguida, vem o Líbano, que Israel não pode deixar de querer controlar se quiser ser a potência regional dominante no Levante e um influenciador na política do Mediterrâneo Oriental. De acordo com a mídia israelense, Tel Aviv tem contatos diretos com os grupos islâmicos que operam no sul da Síria. Não é segredo que esses grupos estavam sendo orientados pelo exército israelense há mais de uma década.

Assim, na melhor das hipóteses, é de se esperar uma Síria truncada, um Estado rudimentar, com a continuidade da interferência externa em larga escala e, na pior das hipóteses, o revanchismo turco e a agressão israelense juntos – mais a ocupação estadunidense do leste da Síria e uma autoridade central fraca em Damasco. O país em seu formato atual, traçado em 1946, pode desaparecer completamente do mapa da Ásia Ocidental.

Na verdade, os países do Golfo e o Egito têm motivos para se preocupar com uma Primavera Árabe 2.0 – oligarquias sendo derrubadas e substituídas por grupos islâmicos militantes locais que expressam a revolta do povo. Seu nível de conforto com Teerã ampliou-se sensivelmente. Mas, é claro, os EUA combaterão essa tendência regional que, de outra forma, isolaria Israel na região.

A Rússia tem uma mentalidade notoriamente pragmática e uma declaração do Ministério das Relações Exteriores no domingo deu a entender que Moscou já está elaborando um plano B para reforçar sua presença militar na Síria, pelo menos no curto prazo. É interessante notar: a declaração apontou que Moscou está em contato com todos os grupos de oposição sírios. A declaração evitou escrupulosamente usar a palavra “terrorista”, que as autoridades russas vinham empregando livremente em sua retórica estridente para caracterizar os grupos sírios que tomaram Damasco. Moscou tem motivos para temer a ressonância do Islã Político como uma ideologia sedutora em suas repúblicas muçulmanas do norte do Cáucaso.

A embaixada russa em Damasco não está correndo nenhum perigo. É totalmente concebível que a inteligência russa, que tradicionalmente é muito ativa na Síria – por motivos óbvios – já tenha começado a sensibilizar Moscou sobre a transição de poder em Damasco e tenha mantido contatos com os grupos islâmicos da oposição, apesar da retórica pública estridente.

Em comparação, o Irã sofre um sério revés do qual dificilmente se recuperará tão cedo, já que a ascendência dos grupos sunitas extremistas que aderem à ideologia da Al-Qaeda levará a um novo cálculo de poder na Síria, agora visceralmente hostil a Teerã. A evacuação de diplomatas seguida da invasão da embaixada iraniana em Damasco fala por si só. Na verdade, Israel não poupará esforços para garantir que a influência iraniana seja exorcizada da Síria.

O cerne da questão é que a influência regional do Irã diminui significativamente à medida que os grupos de resistência (que são em grande parte xiitas) ficam desnorteados e desiludidos. Isso não só é vantajoso para Israel, mas também desencadeia uma profunda mudança no equilíbrio de forças regional, que terá ressonância nos conflitos atuais no Grande Oriente Médio como um todo em uma perspectiva de longo prazo. Isso afetará Gaza, o Líbano e até mesmo em lugares distantes como a Ásia Central e o Sul da Ásia. O resultado final é que o gênio da Al-Qaeda finalmente saiu da garrafa e não há como deter sua agenda pan-islâmica.

A parte surpreendente é que o Irã não conseguiu prever o desernrolar dos acontecimentos. Por incrível que pareça, na sexta-feira (6/12), Ali Larijani, conselheiro do líder supremo, visitou Damasco, reuniu-se com Assad e reiterou o total apoio de Teerã para deter a onda de forças islâmicas que já se aproximava dos portões da cidade…

Fonte Portal Membro Outras Palavras



A Europa toca os tambores da guerra

Em meio a histeria antirrussa, países multiplicam seu orçamento bélico, os governos nórdicos distribuem manuais sobre como se comportar num conflito e os generais alemães já imaginam seu território como “um corredor da Otan”

Por Flávio Aguiar, da Rádio França Internacional

Um autêntico calafrio percorreu toda a Europa na semana passada. Noticiou-se com destaque que os governos da Suécia e da Finlândia divulgaram para seus cidadãos manuais sobre como proceder no caso de uma guerra contra terceiros. O governo sueco distribuiu pelo correio uma brochura de 32 páginas. O finlandês disponibilizou uma publicação online. Embora o nome não aparecesse, era óbvio que se tratava de uma guerra com a Rússia. A Suécia não tem uma fronteira terrestre com a Rússia. Há uma fronteira marítima entre ela e o enclave russo de Kaliningrado, espremido entre o Mar Báltico, a Lituânia e a Polônia. A Finlândia tem uma fronteira terrestre com a Rússia de 1.343 km.

Ambas mensagens abordam outras crises, como a ocorrência de pandemias, desastres naturais e ataques terroristas. Mas o destaque no noticiário foi para a guerra, graças à existência do conflito direto entre a Rússia e a Ucrânia, que tem o apoio da OTAN, que Suécia e Finlândia passaram a integrar há pouco tempo.


Tanto na Suécia como na Finlândia as instruções envolvem a manutenção de estoques de alimentos, água, remédios e dinheiro, a guarda de cartões de crédito, conselhos sobre como se manter informado através do rádio, a busca de abrigos coletivos no caso de ataques aéreos ou nucleares, como neles se comportar ou onde se proteger caso seja impossível chegar até eles. Logo no começo das instruções suecas, encontra-se a seguinte exortação patriótica: “Se a Suécia for atacada, nós nunca nos renderemos. Qualquer sugestão em contrário é falsa”.

Aos poucos surgiram informações complementares. Em ambos os casos, tratava-se de uma atualização de instruções anteriores. Também noticiou-se que outros governos, como os da Dinamarca e da Noruega, distribuíam instruções semelhantes. Nada disto atenuou o impacto midiático do clima de preparação para uma guerra.

Para engrossar o caldo, a Alemanha entrou na dança. A mídia do país noticiou a existência de um documento do Exército até então secreto, com mil páginas sobre a possibilidade e os desdobramentos de uma guerra com a Rússia. Entre outras coisas o documento prevê que a Alemanha se transformaria num imenso corredor por onde passariam centenas de milhares de soldados da OTAN – norte-americanos e outros. O país se transformaria no grande organizador logístico do fluxo de tropas, suprimentos e armas de variada espécie para o conflito. Outras informações vieram à tona. O exército está disponibilizando instruções específcas para empresários sobre como adequar suas empresas à circunstância de uma guerra, com destaque para a questão dos transportes.

Para compreender o impacto destas informações, deve-se levar em conta a moldura em que surgiram e alguns antecedentes. Concomitante a elas noticiava-se uma escalada de fato ou retórica em torno da guerra na Ucrânia e agora também em território russo, com a invasão da região de Kursk por tropas ucranianas. Noticiou-se a presença de tropas norte-coreanas em território russo, em apoio a Moscou. O governo Biden autorizou a utilização pela Ucrânia de mísseis de longo alcance contra território russo, e o fornecimento de minas terrestres contra veículos e pessoas para o governo de Kiev. Este anunciou que a Rússia lançara um míssil de longo alcance, capaz de levar uma ogiva nuclear, contra seu território. Moscou relaxou as normas para utilização de armas nucleares em caso de conflito, sobretudo se atacada por um país que tivesse o apoio de uma potência nuclear.

França, Alemanha e Polônia anunciaram estarem aumentando significativamente seus orçamentos militares. O exemplo pode ser seguido por outros países. Os Estados Unidos anunciaram o restabelecimento de mísseis em território europeu. A TV russa divulgou uma reportagem comentando quais cidades europeias poderiam ser alvo de ataques por mísseis de longo alcance. Não faz muito o governo Biden aumentou em 20% a presença de pessoal militar e conexo norte-americano no continente europeu, contingente que hoje passa de 120 mil, maior do que, por exemplo, todo o Exercito do Reino Unido.

Autoridades civis e militares alemãs já falaram abertamente que é possível haver uma guerra com a Rússia em cinco ou seis anos. Em suma, a Europa se prepara para a possibilidade da guerra. Políticos que admitem o risco usam com frequência o dito popularizado em latim, “si vispacem para bellum”, “se queres a paz, prepara-te para a guerra”. Entretanto lembremos que o currículo europeu na matéria não é bom. Sempre que a Europa preparou-se para guerra, ela acabou acontecendo, com as consequências trágicas que conhecemos.

Fonte Portal Membro Outras Palavras

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