ECONOMIA
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Como viramos de potência industrial a economia de uberOlá! Você sabia que nos anos 1980 o Brasil era uma potência industrial maior que China e Coreia do Sul juntas? Nossa produção industrial superava esses dois países que hoje são gigantes econômicos. Sabíamos produzir tanques de guerra, computadores, carros, turbinas e até aviões. Éramos uma verdadeira potência emergente que parecia destinada a se tornar desenvolvida. Mas algo deu terrivelmente errado pelo caminho. Hoje, nossa indústria representa apenas 10% do PIB - contra 25% que chegou a representar. Perdemos US$ 100 bilhões em produção industrial desde 2014. "Engenheiro virou motorista de Uber" virou realidade nacional. Então, hoje vou mostrar os 5 erros fatais da nossa política econômica que nos fizeram parar de crescer - e porque países que mantiveram o Estado ativo prosperaram enquanto nós regredimos. Vamos analisar cada erro. Erro 1: Desmonte da política industrial nos anos 1990O maior erro foi acreditar que bastava "abrir a economia" para nos tornarmos competitivos automaticamente. Nos anos 1990, decidimos desmantelar toda nossa estrutura de desenvolvimento. Fragilizamos o BNDES e o financiamento de longo prazo - justamente quando países asiáticos fortaleciam seus bancos de desenvolvimento. Extinguimos programas de desenvolvimento tecnológico que tinham décadas de acúmulo. Abandonamos a proteção estratégica a setores nascentes, deixando empresas brasileiras órfãs em mercados dominados por gigantes internacionais. O resultado foi devastador: empresas como Gurgel, Mafersa, Engesa e Villares - que produziam desde carros até tanques de guerra - simplesmente sumiram do mapa. Perdemos milhares de capacidades produtivas que levaram décadas para ser construídas. Era como jogar o bebê fora junto com a água do banho. Erro 2: Abertura comercial sem estratégia nacionalA promessa era simples: exposição à concorrência internacional geraria eficiência automaticamente. Na prática, nossa indústria despencou de 25% para 10% do PIB. Desde 2014, perdemos US$ 100 bilhões em produção industrial - uma das maiores desindustrializações do mundo em valores absolutos.
Nossa pauta exportadora regrediu para commodities: em 2014, apenas cinco produtos (ferro, soja, açúcar, petróleo e carnes) responderam por quase 50% das exportações brasileiras. Enquanto isso, nossos concorrentes asiáticos faziam exatamente o oposto: combinavam abertura seletiva com proteção temporária, metas de produtividade e incentivos agressivos às exportações de manufaturados. Eles usaram a abertura como ferramenta estratégica, não como fim em si mesmo. Erro 3: Crença cega de que o mercado resolve tudo sozinhoO grande mito foi acreditar que países ricos chegaram lá apenas com "livre mercado". A realidade internacional mostra o contrário. Estados Unidos criaram a internet via DARPA, investem pesado em pesquisa militar que vira tecnologia civil depois. China planeja via NDRC (National Development and Reform Commission), coordenando investimentos, infraestrutura e inovação. Coreia do Sul combinou abertura seletiva com política industrial agressiva - o governo escolhia setores prioritários e cobrava resultados das empresas. Todos os países desenvolvidos combinam mercado dinâmico com planejamento estratégico. Nenhum país relevante no desenvolvimento recente avançou apenas com liberalização comercial descolada de uma estratégia nacional. Erro 4: Ignorar completamente a experiência internacionalEnquanto o Brasil desmontava o Estado desenvolvimentista, asiáticos faziam o movimento inverso. A Coreia do Sul nos anos 1960 recebeu a sugestão do Banco Mundial de se especializar em arroz - sua "vantagem comparativa natural". A Coreia ignorou completamente e decidiu desenvolver indústria. Resultado: de economia rural pobre virou potência tecnológica em 50 anos. A China usou política industrial para criar campeões em 10 setores estratégicos via programa "Made in China 2025".
Nós escolhemos o caminho inverso dos que deram certo. Acreditamos que seríamos diferentes, que conseguiríamos nos desenvolver sem Estado ativo. Era como tentar chegar ao topo de uma montanha jogando fora a corda de escalada. Essa divergência entre o modelo brasileiro pós-1990 e as estratégias asiáticas bem-sucedidas é algo que estudamos detalhadamente em alguns dos nossos cursos da nossa Escola de Complexidade Econômica sobre desenvolvimento econômico do Brasil, onde analisamos como diferentes países lidaram com os desafios da industrialização e inserção competitiva na economia global. Erro 5: Abandonar completamente a visão de longo prazoO contraste entre o Brasil desenvolvimentista e o pós-1990 é brutal. Era Vargas criou Petrobras, CSN, e toda infraestrutura energética que usamos até hoje. JK construiu Brasília, rodovias e integrou o país territorialmente. Militares fizeram Itaipu, polos petroquímicos e infraestrutura que ainda sustenta nossa economia. Havia projeto nacional, visão de longo prazo, coordenação estratégica. Pós-1990 a filosofia virou: "deixa o mercado decidir". Resultado: economia das padarias, shopping centers e motoristas de Uber. Ciclos eternos de boom e bust de commodities. Armadilha da renda média há décadas. Incapacidade crônica de competir em produtos complexos que geram emprego de qualidade. O mais frustrante é que o Brasil tem todos os ativos para reverter essa trajetória: matriz energética limpa, biodiversidade única, agronegócio competitivo mundialmente, rede de universidades e talentos espalhados pelo país. O que falta não é capacidade nem recursos - o que falta é redescobrir que desenvolvimento requer projeto nacional, não apenas fé no mercado livre. Países como Estados Unidos, Alemanha, Coreia e China prosperaram porque souberam combinar mercado dinâmico com planejamento estratégico. Abertura comercial sim, mas com estratégia nacional, não abandono do Estado. O futuro não está dado - ele será construído. A escolha está, como sempre, em nossas mãos. Um grande abraço! Paulo Gala | A A |
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Por que exportamos minério mas importamos carros?Por que a América Latina exporta minério de ferro mas importa carros?Por que a América Latina exporta minério de ferro mas importa carros? Esta pergunta revela um paradoxo fundamental do nosso desenvolvimento econômico: produzimos o que o mundo já sabe fazer e consumimos o que não conseguimos criar. Não se trata apenas de uma questão comercial, mas de uma escolha estratégica de desenvolvimento que nos separa das economias asiáticas que conseguiram trilhar um caminho diferente. Enquanto países como Coreia do Sul, Taiwan e China utilizaram protecionismo temporário para construir capacidades competitivas globais, a América Latina criou estruturas produtivas defensivas, incapazes de conquistar mercados externos e gerar inovação tecnológica. Hoje vou explicar as três principais diferenças estruturais que explicam por que ainda exportamos matérias-primas e importamos produtos sofisticados. Vamos analisar cada uma delas. O protecionismo asiático foi orientado para exportações, o nosso para mercados cativosA primeira diferença fundamental está na orientação estratégica do protecionismo. Enquanto a América Latina utilizou proteção comercial para criar mercados domésticos cativos, o Sudeste Asiático implementou uma política industrial agressiva orientada para exportações de manufaturados. ![]() O contraste entre México e Vietnã ilustra perfeitamente essa diferença estratégica. Enquanto o México manteve uma trajetória de baixo crescimento de produtividade, chegando a -0,2% anuais no período recente, o Vietnã - que iniciou suas reformas econômicas (Đổi Mới) apenas em 1986 - conseguiu acelerar dramaticamente sua produtividade para 4,7% anuais. Esta divergência mostra como a orientação para exportações pode transformar uma economia em poucas décadas. Na América Latina, o protecionismo excessivo fez com que as empresas se tornassem dependentes do mercado interno, perdendo o ímpeto exportador. Como destaca a literatura sobre desenvolvimento econômico, a sobrevalorização cambial deixou de ser funcional para o desenvolvimento do continente, especialmente depois da fase de industrialização substitutiva de importações. ![]() A comparação entre Brasil e Coreia é ainda mais reveladora. Até 1980, ambos os países seguiam trajetórias similares de desenvolvimento, com crescimento comparável de PIB e produtividade. A partir dos anos 1980, suas estratégias divergiram completamente: enquanto o Brasil estagnou com crescimento de produtividade de apenas 0,1% anuais, a Coreia manteve um crescimento robusto de 6,0% anuais, demonstrando o impacto de escolhas estratégicas distintas. Países como Brasil e México ficaram "viciados" no mercado interno durante décadas. O que deveria ter sido uma catapulta para conquistar o mercado mundial, como fizeram os asiáticos, virou fim em si mesmo. A classe capitalista latino-americana não foi suficientemente aguerrida para conquistar mercados externos, criando estruturas produtivas defensivas. Do outro lado, o Leste da Ásia usou protecionismo com pragmatismo, criando gigantes competitivos e eficientes. Países asiáticos perseguiram programas de incentivo às exportações para conquistar mercados mundiais, praticando, como regra, um câmbio real competitivo. A abertura dos anos 1990 expôs fragilidades sem criar capacidadesA segunda razão está relacionada ao timing e à forma da abertura comercial. A abertura dos anos 1990 expôs as fragilidades do modelo latino-americano sem que houvesse sido construída capacidade competitiva prévia. Empresas não competitivas, acostumadas com mercados protegidos, perderam espaço tanto domesticamente quanto em mercados internacionais. A sobrevalorização cambial da era FHC e da era Lula no Brasil, por exemplo, agravou essa desindustrialização, reforçando o sinal de produção para abastecer apenas o mercado nacional. O contraste com a abertura asiática é revelador. A China fez a abertura comercial de forma gradual, em conjunto com um complexo sistema de tarifas, barreiras não tarifárias e licenças. O governo chinês usou um sistema de estímulos e controles para promover eficiência e competitividade, sempre focando na construção de capacidades produtivas locais. Na América Latina, sem estímulos para produzir domesticamente por conta do câmbio apreciado e sem condições de competir mundialmente, o empresário industrial passou a ser importador, montador ou simplesmente encerrou seu negócio. Houve enorme perda de sofisticação produtiva, especialmente após 2010. Essas diferentes trajetórias de desenvolvimento - o modelo asiático focado em exportações versus o modelo latino-americano voltado para substituição de importações - são temas que analisamos em profundidade na nossa Escola de Complexidade Econômica e Desenvolvimento Produtivo, tanto em nosso curso sobre História Econômica do Brasil quanto nos cursos sobre a Coreia do Sul e o Milagre Asiático, e sobre a Queda da Argentina e o Fracasso da América Latina, onde estudamos como essas escolhas estratégicas moldaram as capacidades produtivas e a inserção internacional de diferentes regiões. Acesse as ementas clicando aqui. O boom das commodities intensificou a doença holandesaA terceira diferença estrutural foi como cada região lidou com a abundância de recursos naturais. O boom das commodities (2000-2014) intensificou a reprimarização na América Latina, enquanto países asiáticos conseguiram diversificar suas economias. ![]() Os dados da América Latina como um todo confirmam essa estagnação estrutural. Durante o período de Industrialização por Substituição de Importações (ISI, 1950-1980), a região mantinha crescimento de produtividade de 3,3% anuais. Após 1980, com a mudança para o modelo de Economia Desregulada (ED), esse crescimento despencou para apenas 0,1% anuais, evidenciando a incapacidade de construir capacidades competitivas sustentáveis. Preços elevados de minério, soja e petróleo reforçaram a especialização primária em toda a região. A apreciação cambial decorrente do boom prejudicou setores manufatureiros, provocando o que os economistas chamam de "doença holandesa" - a perda de complexidade econômica devido à sobrevalorização da moeda. Em 2014, cinco produtos responderam por quase 50% das exportações brasileiras: ferro, soja, açúcar, petróleo e carnes. Houve desindustrialização relevante no Brasil e perda generalizada de complexidade econômica nos países da região. Países como Noruega, Finlândia e Malásia conseguiram trilhar um caminho diferente, sofisticando seu tecido produtivo apesar da riqueza em recursos naturais. A Noruega, por exemplo, utilizou elevados impostos sobre exportação de petróleo para neutralizar a doença holandesa. Os países asiáticos que obtiveram sucesso conseguiram avançar na construção de complexidade "feita em casa", com capital próprio, criando empresas globais de capital nacional. A grande diferença residiu no regime de comércio e na administração macroeconômica: enquanto a América Latina se concentrou em substituição de importações para o mercado interno, com forte viés para apreciações cambiais, os asiáticos perseguiram o crescimento orientado para exportações. O desafio permanece: como romper o ciclo de boom e bust das commodities e construir uma economia baseada em conhecimento? A resposta requer políticas industriais sofisticadas que promovam diversificação produtiva, capacidades tecnológicas locais e inserção competitiva em mercados globais de manufaturados. O México representa um caso específico nesse contexto: especializou-se como montador de produtos asiáticos destinados ao mercado americano, mas embora exporte bens complexos, não desenvolve genuína capacidade tecnológica nacional - apenas se integra passivamente às cadeias globais de valor. A diferença fundamental está na estratégia de desenvolvimento: enquanto países asiáticos usaram protecionismo temporário para construir capacidades competitivas globais, a América Latina criou estruturas produtivas defensivas, incapazes de conquistar mercados externos e gerar inovação tecnológica. Um grande abraço! Paulo Gala | A A |
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Holanda Projeta Navios, Brasil Carrega ContainersPor que países ricos fazem navios e países pobres carregam caixasVocê já se perguntou por que a Holanda, um país menor que o estado de Santa Catarina, consegue projetar e construir alguns dos navios mais avançados do mundo, enquanto o Brasil, com toda sua costa e recursos, se limita a carregar containers com commodities? A resposta revela uma das diferenças mais cruéis entre economias desenvolvidas e em desenvolvimento. Países ricos como Holanda, Dinamarca e Noruega dominam o design, a engenharia e a tecnologia naval - criando produtos complexos que geram empregos qualificados e alta margem de lucro. Enquanto isso, países como o Brasil se especializam no transporte de matérias-primas brutas, competindo apenas por volume e preço baixo. A diferença não está apenas nos lucros, mas no tipo de conhecimento, empregos e capacidades tecnológicas que cada estratégia desenvolve. Um país que projeta navios cria ecossistemas de engenharia, inovação e manufatura avançada. Um país que apenas carrega commodities fica preso em atividades de baixo valor agregado. Hoje vou mostrar exatamente como essa dinâmica funciona e por que ela explica muito sobre nossa posição no mundo. Vamos analisar cada aspecto dessa equação. A Holanda não nasceu fazendo navios complexos - ela se reinventou estrategicamente.A trajetória naval holandesa não foi um acaso da natureza ou vantagem geográfica automática. Na década de 1960, o país enfrentava o declínio de sua indústria naval tradicional devido à concorrência asiática em navios convencionais. A resposta foi brilhante: em vez de competir em volume, os holandeses se especializaram em navios altamente tecnológicos e de nicho. Desenvolveram expertise em dragagem, embarcações offshore para petróleo, navios científicos e navios especializados para energia eólica marítima. Empresas como Damen Shipyards e Royal IHC se tornaram líderes mundiais não pelo tamanho dos navios, mas pela sofisticação tecnológica. A estratégia funcionou porque criou barreiras de entrada baseadas em conhecimento, não em recursos naturais. Hoje, quando o mundo precisa de um navio para instalar turbinas eólicas no mar ou de equipamentos para projetos portuários complexos, recorre à engenharia holandesa. É um mercado pequeno em volume, mas gigante em margem e valor. Enquanto isso, o Brasil regrediu de uma economia diversificada para um mero exportador de commodities.Nos anos 1980, o Brasil havia conquistado um nível intermediário de complexidade produtiva, exportando máquinas, autopeças e produtos químicos. Nossa indústria naval chegou a construir plataformas petrolíferas e navios para a Petrobras. Mas desde os anos 1990, nossa economia regrediu sistematicamente. Voltamos a nos concentrar na produção e exportação de commodities como minério de ferro, soja e petróleo. O Brasil de hoje tem praticamente o mesmo nível de complexidade produtiva dos anos 1980 - ou seja, três décadas de estagnação tecnológica. Nossa indústria naval, que chegou a ter ambições globais, foi desmontada. Hoje importamos até mesmo navios básicos. A consequência é dramática: enquanto a Suécia, com apenas 5% da nossa população, exporta 60% do que exportamos, isso acontece porque eles produzem bens complexos (Volvo, Scania, Ericsson) e nós produzimos commodities. A diferença de produtividade e valor por habitante é abissal. O segredo dos países desenvolvidos não são recursos naturais, mas redes produtivas complexas.A Coreia do Sul é o exemplo mais impressionante de como se constrói uma indústria naval de classe mundial do zero. Nos anos 1970, o governo coreano concedeu monopólio na produção de plataformas offshore à Hyundai e financiou tanto a construção dos navios quanto a própria empresa de navegação. Lucros só apareceram mais de uma década depois, mas o país perseverou. Hoje, a Coreia domina a construção de navios complexos - petroleiros gigantes, navios porta-containers de última geração e embarcações de GNL. A China seguiu trajetória similar desde 2006, considerando o setor naval como estratégico e destinando altos volumes de subsídios. Começaram com navios simples e de menor qualidade, mas vêm se sofisticando rapidamente. O padrão é claro: países desenvolvidos criam redes produtivas densas, onde uma indústria naval competitiva requer fornecedores de aço especializado, sistemas eletrônicos avançados, motores de alta performance e centenas de outros componentes sofisticados. Essas redes geram transbordamentos tecnológicos que beneficiam toda a economia. A complexidade econômica determina se um país fica rico ou pobre - e o Brasil escolheu ser simples.Produtos complexos como navios, aviões e automóveis exigem o que os economistas chamam de "capacidades produtivas" - conhecimentos específicos que se acumulam ao longo de décadas em empresas, universidades e redes de fornecedores. Uma vez desenvolvidas, essas capacidades se tornam muito difíceis de replicar e geram vantagens competitivas duradouras. Por isso países que dominam bens complexos mantêm altos salários e padrões de vida. Em contraste, commodities podem ser produzidas por qualquer país com os recursos naturais adequados. A competição é por volume e preço, comprimindo margens eternamente. Quando o Brasil escolhe ser um exportador de soja e minério, está optando por competir num mercado onde não há diferenciação possível. A diferença é visível na pauta exportadora. Enquanto o Brasil em 2023 concentra suas exportações em commodities básicas - soja (13,6%), minério de ferro (7,85%) e petróleo (10,72%) -, a Holanda diversifica em produtos e serviços complexos, com destaque para o setor de negócios (22,9%) que inclui serviços de engenharia naval e projetos portuários. Nossa soja compete com a soja argentina, americana e ucraniana. Nosso minério compete com o australiano e o chinês. Já um navio holandês especializado em energia eólica não tem 50 competidores diretos no mundo - talvez tenha três ou quatro. A escassez de capacidades gera poder de precificação e margens robustas. O custo de carregar containers: gerações perdidasA diferença entre projetar navios e carregar containers vai muito além dos lucros imediatos. Países que dominam indústrias complexas criam ecossistemas de inovação onde engenheiros, designers e tecnólogos desenvolvem soluções cada vez mais sofisticadas. Universidades se alinham com demandas industriais reais. Startups surgem para resolver problemas específicos. Trabalhadores desenvolvem habilidades valiosas globalmente. O cluster marítimo holandês exemplifica perfeitamente esse fenômeno. Com faturamento de €95 bilhões em 2022 e crescimento constante desde 2012, envolve 22.870 empresas distribuídas estrategicamente pelo país, criando redes densas de conhecimento que se reforçam mutuamente. Para dimensionar o impacto: esse cluster gera €50,4 bilhões em valor agregado direto, equivalente a 5,3% de todo o PIB holandês. Incluindo efeitos indiretos, chega a €72,4 bilhões - impressionantes 7,5% do PIB nacional. Emprega diretamente 305 mil pessoas especializadas (74% em tempo integral, concentradas entre 26-55 anos) e, contando efeitos multiplicadores, impacta 575 mil trabalhadores - 5,7% do emprego total do país. Mais relevante ainda: esse impacto vem crescendo aceleradamente, saltando de 6,2% do PIB em 2020 para 7,5% em 2022. É o resultado de décadas de investimento estratégico em capacidades complexas. Todos esses dados você encontra no relatório “Blue Economy Matirime Monitor 2023”. Já países especializados em commodities ficam presos em atividades que geram pouco aprendizado tecnológico.Um porto que carrega soja precisa de estivadores e operadores de guindastes - empregos importantes, mas que não transferem conhecimento para outros setores. Uma fábrica de navios precisa de engenheiros navais, especialistas em materiais, projetistas de sistemas complexos e técnicos altamente qualificados. Esses profissionais levam conhecimento para automóveis, aviação, energia e outras indústrias. A consequência de longo prazo é que países como Brasil formam gerações inteiras de trabalhadores em setores de baixa qualificação, enquanto países como Holanda desenvolvem gerações de inovadores e criadores de tecnologia. Curiosamente, enquanto o Brasil na década de 1980 tinha um parque industrial mais diversificado que a Coreia do Sul, hoje nos encontramos exportando principalmente commodities enquanto a Coreia produz alguns dos bens mais sofisticados do mundo. Este paradoxo de como uma economia com enormes vantagens iniciais perdeu dinamismo enquanto outras avançaram rapidamente desafia as explicações econômicas convencionais sobre vantagens comparativas e revela falhas estruturais profundas em nosso modelo de desenvolvimento que vão muito além das políticas de curto prazo. Brasil ainda pode mudar essa trajetória, mas precisa de estratégia, não só recursos.A boa notícia é que a posição de um país na economia global não é permanente. A Coreia era mais pobre que o Brasil nos anos 1960. A China era considerada retardatária na indústria naval nos anos 2000. Ambos decidiram investir estrategicamente em capacidades complexas e sustentaram esses investimentos por décadas, mesmo diante de prejuízos iniciais. O Brasil tem recursos, mercado interno, universidades e tradição industrial para fazer essa transição. Mas precisa de uma estratégia nacional de longo prazo que priorize o desenvolvimento de indústrias complexas sobre a extração de commodities. Isso significa investir em educação técnica, pesquisa aplicada, financiamento de longo prazo para indústrias nascentes e políticas que incentivem a sofisticação produtiva. Países como Dinamarca produzem os maiores navios do mundo. A Suécia produz os caminhões Volvo e Scania que rodam nas estradas brasileiras. Não há nada de natural nessa liderança - é resultado de décadas de investimento consciente em capacidades produtivas. O Brasil pode escolher fazer o mesmo, ou continuar sendo o país que carrega os produtos que outros inventaram. Um grande abraço! Paulo Gala | A A |
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5 Razões Pelas Quais a Coreia Domina Chips Enquanto o Brasil Monta CelularesJá se perguntou por que a Coreia do Sul produz os chips semicondutores mais avançados do mundo enquanto o Brasil continua preso na montagem de smartphones e eletrônicos para marcas estrangeiras? A divisão manufatureira entre essas duas nações revela insights críticos sobre cadeias de suprimentos globais, soberania tecnológica e estratégia econômica. Samsung e SK Hynix da Coreia controlam quase 70% da produção global de chips de memória, gerando centenas de bilhões em receita anualmente. Enquanto isso, o setor eletrônico do Brasil—apesar de ser o maior da América Latina—foca principalmente na montagem final, importando componentes da Ásia e agregando valor mínimo. Essa dinâmica cria uma transferência massiva de riqueza: a Coreia captura os lucros de alta margem e alta tecnologia, enquanto o Brasil se contenta com trabalho de montagem de baixa margem. As consequências se espalham por economias inteiras—afetando tudo desde balanças comerciais até independência tecnológica e competitividade de longo prazo na era digital. Hoje, vou analisar as 5 razões fundamentais por trás dessa hierarquia manufatureira e o que isso significa para o futuro de ambas as nações. Vamos mergulhar fundo. Razão 1: A Coreia investiu pesadamente em infraestrutura de P&D há décadas.A fundação do domínio coreano em chips não foi construída da noite para o dia—foi um investimento estratégico de 40 anos em infraestrutura de pesquisa e desenvolvimento. Nos anos 1980, o governo coreano lançou o Programa Nacional de Desenvolvimento de Semicondutores, comprometendo bilhões de dólares para construir instalações de pesquisa de classe mundial e atrair os melhores talentos globais. Eles estabeleceram o Instituto Avançado de Ciência e Tecnologia da Coreia (KAIST) e criaram incentivos fiscais para empresas investindo em P&D de semicondutores. Somente a Samsung agora gasta mais de $20 bilhões anualmente em P&D—mais do que o PIB inteiro de muitos países. O Brasil, em contraste, historicamente investiu menos de 1,3% do PIB em P&D, comparado aos 4,8% da Coreia. Essa lacuna se agrava ao longo de décadas:
Quando você não investe na fundação, não pode construir o arranha-céu. Razão 2: A Coreia construiu um ecossistema integrado de cadeia de suprimentos.A Coreia não focou apenas na fabricação final—eles construíram um ecossistema inteiro integrado de fornecedores, fabricantes de equipamentos e indústrias de apoio. Caminhe pelo complexo de semicondutores da Samsung em Pyeongtaek, e você encontrará centenas de fornecedores coreanos em um raio de 50 quilômetros. Essas empresas produzem tudo desde químicos especializados até equipamentos de fabricação de precisão e sistemas de teste. Essa proximidade reduz custos, melhora o controle de qualidade e permite ciclos rápidos de inovação. Quando a Samsung precisa testar um novo design de chip, eles podem ter protótipos em dias, não meses. A abordagem do Brasil foi fundamentalmente diferente. O país focou em atrair fabricantes estrangeiros com incentivos fiscais para estabelecer plantas de montagem final. Mas essas plantas importam 70-80% de seus componentes da Ásia:
Isso cria uma armadilha permanente de dependência onde o Brasil nunca pode subir na cadeia de valor Razão 3: O sistema educacional da Coreia produz talentos técnicos especializados.O sucesso da Coreia em semicondutores exigiu dezenas de milhares de engenheiros altamente especializados, e eles sistematicamente construíram a infraestrutura educacional para produzi-los. Universidades coreanas formam entre 80 000 e 150 000 graduados em engenharia anualmente, com programas especializados em física de semicondutores, ciência de materiais e processos de fabricação. Empresas como Samsung recrutam diretamente desses programas e fornecem anos adicionais de treinamento especializado. O resultado é um pool profundo de talentos que pode inovar na vanguarda da Lei de Moore. O sistema de educação técnica do Brasil, embora melhorando, não foi projetado para fabricação avançada de semicondutores:
Você não pode construir uma indústria intensiva em conhecimento sem trabalhadores intensivos em conhecimento. Razão 4: A Coreia garantiu acesso a matérias-primas críticas e equipamentos.A fabricação avançada de semicondutores requer materiais incrivelmente puros e equipamentos de precisão que apenas algumas empresas mundiais podem produzir. A Coreia reconheceu essa vulnerabilidade cedo e fez investimentos estratégicos para proteger suas cadeias de suprimentos. Eles investiram em empresas químicas domésticas como LG Chem para produzir materiais de alta pureza. Eles desenvolveram relacionamentos com a fabricante de equipamentos holandesa ASML (a única empresa que faz máquinas de litografia ultravioleta extrema) e fornecedores de materiais japoneses. Quando surgem tensões comerciais, a Coreia tem múltiplos fornecedores e estoques estratégicos. O setor eletrônico do Brasil permanece completamente dependente de materiais e equipamentos importados. Quando cadeias de suprimentos globais são interrompidas—como vimos durante a COVID-19—plantas de montagem brasileiras param porque não têm alternativas domésticas:
Essa dependência torna o Brasil vulnerável a todos os choques da cadeia de suprimentos global. Razão 5: O governo da Coreia forneceu capital paciente e política industrial.Talvez mais importante, o governo da Coreia forneceu capital paciente de longo prazo e apoio consistente de política industrial por décadas. O Banco de Desenvolvimento Coreano forneceu empréstimos com juros baixos para investimentos em semicondutores que não dariam retorno por 10-15 anos. O governo coordenou entre empresas para evitar duplicação dispendiosa e garantiu que focassem em diferentes segmentos de mercado. Quando a Samsung estava perdendo bilhões nos anos 1970 e 1980 aprendendo a fazer chips de memória, o governo preveniu aquisições estrangeiras e continuou apoiando a visão estratégica. A política industrial do Brasil tem sido inconsistente e focada no curto prazo. Incentivos fiscais mudam com cada novo governo. Prioridades de investimento mudam baseadas em ciclos políticos ao invés de estratégia econômica de longo prazo:
Sem capital paciente e política consistente, você não pode competir em indústrias que requerem ciclos de investimento de uma década. As implicações dessa divisão manufatureira se estendem muito além da Coreia e Brasil—elas revelam como países se posicionam na economia global para o próximo século. A estratégia da Coreia criou soberania tecnológica e capturou as partes de maior valor das cadeias de suprimentos globais. A estratégia do Brasil criou emprego e investimento estrangeiro, mas deixou o país permanentemente dependente de tecnologia importada. Intrigantemente, enquanto o Brasil na década de 1960 tinha renda per capita superior à da Coreia do Sul e condições iniciais aparentemente mais favoráveis para industrialização, hoje observamos uma inversão completa: a Coreia produz alguns dos bens tecnologicamente mais sofisticados do mundo enquanto o Brasil exporta principalmente commodities e produtos de montagem. Este paradoxo de como uma economia com piores condições iniciais conseguiu realizar um catching-up tecnológico tão acelerado enquanto outra com melhores vantagens comparativas permaneceu na periferia do sistema produtivo global desafia fundamentalmente as explicações econômicas convencionais sobre desenvolvimento e aponta para mecanismos mais complexos de coordenação Estado-mercado que raramente são compreendidos em sua totalidade. Conforme o mundo se torna cada vez mais digital, essa lacuna só aumentará a menos que o Brasil faça mudanças estratégicas fundamentais para ir além da montagem rumo à inovação e produção de tecnologias críticas. Um grande abraço! Paulo Gala | A A |
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Quem Ainda Acredita que a China Não Domina a Inteligência Artificial?A revolução silenciosa que está deixando Silicon Valley para trásEnquanto o Vale do Silício continua se autodenominando o epicentro global da tecnologia, um fenômeno impressionante está ocorrendo do outro lado do Pacífico: a China rapidamente se transformou de seguidora para líder em inteligência artificial. "A ilusão da supremacia tecnológica ocidental em IA está se desmoronando silenciosamente, enquanto a China executa o maior salto tecnológico da história moderna." Este não é mais um cenário futuro - é a realidade atual que muitos analistas ocidentais relutam em admitir. A transformação da China de mera "copiadora" para inovadora em IA representa outra faceta da revolução econômica que já vimos em outros setores. E as implicações são ainda mais profundas. Vamos examinar como a China está dominando a corrida pela IA e por que o Ocidente continua subestimando essa realidade. O Alicerce da Dominação Chinesa em IAA ascensão da China em inteligência artificial não aconteceu por acaso. Foi o resultado de uma estratégia deliberada e multifacetada: Estratégia governamental de longo prazo: Diferente do modelo ocidental de inovação orientada pelo mercado, a China implementou um plano governamental ambicioso para dominar a IA:
O poder dos dados - a nova vantagem competitiva: A China possui algo que nem mesmo o Vale do Silício pode igualar - acesso a um volume incomparável de dados:
Esta abundância de dados, o "petróleo do século XXI", fornece à China uma vantagem inigualável no treinamento de sistemas de IA. Revolução educacional criou os talentos necessários: Assim como vimos na manufatura avançada, a China construiu uma formidável força de trabalho em IA:
A Vantagem Energética que Decidirá a Corrida pela IAMas há um fator crítico que poucos analistas mencionam: energia. Enquanto laboratórios americanos de IA alertam que não terão energia suficiente até 2026, a China já construiu a infraestrutura energética do século XXI. Os números são impressionantes:
A China sozinha consome mais eletricidade que Estados Unidos e Europa combinados. A curva exponencial vermelha no gráfico acima conta uma história que poucos querem aceitar: desde 2010, quando a China ultrapassou os EUA em consumo elétrico, a diferença só aumentou. E as projeções para 2025 mostram que essa vantagem continuará se ampliando. Como observou recentemente o investidor David Friedberg: "Se tivermos energia suficiente, os $38 trilhões de dívida não importam." Mas aqui está o problema fundamental: sem watts, não há bots. A inteligência artificial não é apenas uma questão de algoritmos sofisticados - é fundamentalmente uma questão de poder computacional massivo. E poder computacional requer energia real, em escala industrial. Um aspecto raramente analisado da estratégia chinesa é como o país conseguiu sincronizar perfeitamente seu desenvolvimento de infraestrutura energética com suas ambições tecnológicas - uma coordenação que levou 30 anos para ser executada e que agora coloca a China em posição única para liderar a era da IA. Poucos analistas conseguem explicar como uma economia em desenvolvimento conseguiu superar potências estabelecidas em setores intensivos em capital e tecnologia simultaneamente, desafiando modelos econômicos tradicionais sobre vantagens comparativas e transferência tecnológica. Enquanto o Ocidente debate regulamentações de IA e impactos ambientais de data centers, a China resolveu o gargalo fundamental: construiu a capacidade energética necessária para alimentar a revolução da IA. A trajetória da China no gráfico não é coincidência. É estratégia executada sem as amarras burocráticas que limitam a velocidade de implementação no Ocidente. De Seguidor a Líder: A China na VanguardaA realidade atual da IA global contradiz completamente a narrativa ocidental de superioridade: Domínio em aplicações práticas de IA: A China não apenas alcançou o Ocidente em pesquisa teórica, mas o ultrapassou em implementações reais:
Superioridade em pesquisa: O que muitos não percebem é que a China já superou os EUA em publicações acadêmicas de alto impacto em IA:
A Corrida pela AGI: Por Que a China Chegará PrimeiroAqui está a verdade desconfortável que poucos querem admitir: a China provavelmente alcançará a Inteligência Geral Artificial (AGI) primeiro. Esta não é uma previsão baseada em otimismo ou nacionalismo, mas em matemática simples: Três gargalos críticos determinam quem vencerá a corrida pela AGI:
Com mais que o dobro da capacidade energética dos EUA e projeções de crescimento ainda mais agressivas, a China tem o combustível necessário para treinar os modelos de IA mais avançados do mundo. Enquanto Elon Musk fala sobre robôs humanoides impactando o PIB americano em 4-5 anos, a realidade é que toda IA e robótica do mundo não importará sem a energia para alimentá-las. Como disse um executivo de IA recentemente: "No watts, no bots" (sem watts, sem bots). O Xadrez Tecnológico que o Ocidente Está PerdendoA China não está apenas competindo - está redefinindo as regras do jogo tecnológico:
O "século americano" de dominação tecnológica incontestável chegou ao fim também no campo da inteligência artificial. A Nova Realidade Geopolítica da IAPara empresas e formuladores de políticas ocidentais, ignorar esta realidade ou apostar apenas em restrições de exportação seria como tentar conter o oceano com as mãos. A matemática é encorajadora - uma hora de luz solar na Terra equivale ao uso energético anual de toda a humanidade. Apenas 1% dos recursos solares terrestres poderia alimentar uma civilização que faria o mundo atual parecer empobrecido. Mas matemática não é execução. E na execução, a China está claramente à frente. Enquanto os EUA planejam dobrar sua capacidade energética em 15 anos, a China já opera com o dobro da capacidade americana e continua acelerando. A única resposta sustentável é reconhecer a nova realidade: a liderança em IA, assim como em manufatura avançada e infraestrutura energética, está rapidamente se deslocando para o Oriente. A corrida pela IA será vencida não apenas por quem tem os melhores algoritmos, mas por quem conseguir alimentá-los com energia suficiente para transformá-los em realidade. E nessa corrida, conforme demonstra claramente o gráfico da demanda elétrica, a China não está apenas participando - está definindo o ritmo com uma vantagem que só aumenta. Abraços, Paulo Gala | A A |
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O Mito do Brasil Cafeeiro: Somos Potência ou Peão?Você já se perguntou por que, apesar de ser o maior produtor mundial de café, o Brasil fica com apenas uma fração mínima do lucro dessa indústria bilionária? Esta é a história de um grande paradoxo econômico: enquanto colhemos grãos, países como a Alemanha colhem euros. Os números são estarrecedores e revelam uma matemática perversa que transforma nosso país em mero fornecedor de matéria-prima barata para indústrias estrangeiras. Enquanto nos orgulhamos do título de "potência cafeeira", a realidade mostra que somos apenas peões em um tabuleiro global muito mais complexo e lucrativo. Hoje, vou desvendar os mecanismos dessa dinâmica desigual e mostrar como o mito do "Brasil cafeeiro" esconde uma realidade econômica que precisamos urgentemente transformar. Vamos mergulhar nessa análise. A cadeia do café revela uma desigualdade brutal.![]() Os números expostos pelo Financial Times em 2019 contam uma história alarmante sobre a distribuição de valor na cadeia global do café: Produtores brasileiros vendem o quilo do café por aproximadamente R$6,60. Esse mesmo café, após processado na Europa, é comercializado no varejo por cerca de R$400/kg. Isso representa um markup extraordinário de 70 vezes sobre o preço original! Para contextualizar essa disparidade: um saco de café de 60kg, comercializado por cerca de R$400 no Brasil, gera produtos finais que podem valer mais de R$24.000 no mercado internacional. Essa discrepância monumental não é apenas uma curiosidade estatística — é o reflexo de um sistema econômico que mantém países produtores como o Brasil na base da pirâmide de valor. E o mais revelador: enquanto os produtores recebem migalhas, os torradores ficam com aproximadamente 80% do valor gerado em toda a cadeia. Um grupo seleto de empresas — as top 10 do setor — controla 35% do mercado mundial de café processado. E o Brasil? Está praticamente ausente nesse segmento mais lucrativo! Por que isso acontece? A armadilha das commodities.Essa situação não é fruto do acaso, mas resultado de escolhas econômicas que nos mantêm presos à chamada "armadilha das commodities". O Brasil se especializou em produzir grandes volumes de commodities com características muito específicas:
Essa especialização nos torna extremamente eficientes na produção, mas vulneráveis e dependentes. Ficamos à mercê de preços definidos externamente, enquanto outros países capturam o valor através do processamento, branding e distribuição. O resultado é um ciclo vicioso que pode ser resumido em quatro passos devastadores:
Esta não é apenas uma questão econômica, mas um problema de desenvolvimento nacional. Quando exportamos matéria-prima e importamos produtos acabados, estamos essencialmente financiando a industrialização e a criação de empregos qualificados em outros países. O caso Dolce Gusto: um exemplo gritante.![]() Para ilustrar essa dinâmica perversa, basta olharmos para o caso concreto da Dolce Gusto na Alemanha: A empresa instalou uma nova fábrica que oferece:
Enquanto isso, o Brasil fornece o insumo básico: um saco de café de 60kg, vendido por aproximadamente R$400 (R$6,60/kg), que será transformado em cápsulas comercializadas no varejo por R$400/kg. A matemática é implacável: enquanto geramos alguns empregos rurais de baixa remuneração, a Alemanha cria centenas de postos de trabalho qualificados, bem remunerados e com alta produtividade. Enquanto exportamos um produto primário sujeito a oscilações de preço e condições climáticas, eles exportam tecnologia, design e experiência de consumo. E o mais irônico: muitas vezes importamos de volta, a preços premium, produtos feitos com nosso próprio café. Essa dinâmica da cadeia global de valor, onde países em desenvolvimento ficam presos nas etapas menos rentáveis, enquanto nações desenvolvidas dominam os elos mais lucrativos, é um tema que exploramos detalhadamente em nosso curso sobre economia para entender o Brasil. Brasil vs. Starbucks: quem é realmente a potência?A comparação entre o Brasil e uma única empresa de café revela a magnitude desse desequilíbrio:
Isso mesmo: uma única rede de cafeterias gera quase três vezes mais receita do que todo o setor cafeeiro do maior produtor mundial! E não é por acaso: a Starbucks não vende apenas café, mas experiências, ambientes, status e uma marca global. Esta comparação brutal nos força a confrontar uma verdade incômoda: somos gigantes na produção, mas pequenos no valor agregado. Produzimos em quantidade, mas não controlamos as etapas que realmente geram riqueza, empregos qualificados e desenvolvimento tecnológico. A transformação necessária: de peão a player estratégico.![]() O Brasil não está condenado a permanecer eternamente nessa posição desfavorável. Podemos e devemos transformar nossa relação com o café e outras commodities. Outros países produtores já começaram essa jornada. A Colômbia, por exemplo, investiu pesadamente na diferenciação do seu café, criando denominações de origem, promovendo cafés especiais e desenvolvendo marcas nacionais com reconhecimento global. O resultado? Seus produtores conseguem preços significativamente melhores do que os brasileiros, mesmo com volume menor. Para quebrar esse ciclo vicioso, precisamos de uma estratégia nacional ambiciosa que inclua:
Isso não significa abandonar nossa força na produção primária, mas complementá-la com atividades de maior valor agregado. Precisamos estar presentes em todos os elos da cadeia, especialmente naqueles que capturam mais valor. Até quando seremos apenas o celeiro do mundo?Esta é a pergunta que deve nos inquietar e mobilizar. A verdadeira riqueza das nações modernas não está na terra ou nos recursos naturais, mas na capacidade de agregar valor, inovar e controlar cadeias produtivas estratégicas. Países que se desenvolveram nas últimas décadas entenderam essa lição fundamental. Coreia do Sul, Taiwan e China não se contentaram em ser fornecedores de matérias-primas ou montadores de baixo custo — eles ascenderam na cadeia de valor global até se tornarem líderes em tecnologia e inovação. O caso do café brasileiro é emblemático de um modelo econômico que nos mantém presos à "armadilha das commodities": exportamos natureza e importamos conhecimento, num ciclo que perpetua dependência e subdesenvolvimento. Curiosamente, enquanto o Brasil na década de 1980 tinha um parque industrial mais diversificado que a Coreia do Sul, hoje nos encontramos exportando principalmente commodities enquanto a Coreia produz alguns dos bens mais sofisticados do mundo. Este paradoxo de como uma economia com enormes vantagens iniciais perdeu dinamismo enquanto outras avançaram rapidamente desafia as explicações econômicas convencionais e revela falhas estruturais profundas em nosso modelo de desenvolvimento que vão muito além das políticas de curto prazo. Quebrar esse ciclo exigirá não apenas políticas públicas coerentes, mas uma mudança de mentalidade. Precisamos superar o orgulho superficial de ser o "país do café" para ambicionar ser protagonistas em toda a cadeia de valor desse produto. Porque no final, a questão fundamental permanece: queremos ser potência ou peão no tabuleiro global do café? O mito do Brasil cafeeiro precisa dar lugar a uma nova narrativa — uma em que não apenas colhemos grãos, mas também colhemos o valor e a inovação que podem transformar nossa economia e sociedade. Um grande abraço! Um grande abraço! Paulo Gala | A A |
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O Império da Infraestrutura: O Xadrez Geopolítico que o Ocidente Não CompreendeuEnquanto os EUA gastavam trilhões em guerras, a China conquistava o Sul Global com estradas e pontesVocê já se perguntou como, enquanto o mundo assistia às guerras no Iraque e Afeganistão, a China silenciosamente construía seu império global? Este é um jogo de xadrez geopolítico que o Ocidente simplesmente não compreendeu: enquanto os EUA gastavam mais de US$ 8 trilhões em conflitos militares desde 2001, a China investia em algo muito mais poderoso e duradouro - infraestrutura. Não se conquista o século XXI com tanques e mísseis, mas com portos, ferrovias, pontes e redes digitais. A Iniciativa Cinturão e Rota não é apenas o maior projeto de infraestrutura da história da humanidade - é a mais brilhante jogada estratégica dos últimos 50 anos. E só foi possível graças a três erros fatais cometidos pelo Ocidente, que permitiram à China:
Hoje, vou explicar exatamente quais foram esses três erros fatais que escaparam da compreensão ocidental e por que a estratégia de infraestrutura chinesa mudou fundamentalmente o equilíbrio de poder global. Como podemos ver neste mapa, a China está recriando e expandindo as antigas rotas da Seda, tanto terrestres quanto marítimas, conectando a Ásia, Europa e África em uma rede de comércio e infraestrutura sem precedentes. Observe como estas rotas estrategicamente contornam pontos de controle ocidentais tradicionais e estabelecem novos corredores econômicos. Vamos analisar esta jogada magistral. Erro fatal #1: Apostar em guerras enquanto a China apostava em infraestrutura.O primeiro e mais grave erro estratégico do Ocidente no século XXI foi não compreender que o poder global mudou de natureza. Enquanto os EUA e aliados apostavam em soluções militares para problemas complexos, a China focou em algo muito mais fundamental: infraestrutura. Os números são impressionantes: enquanto os EUA gastaram mais de US$ 2 trilhões apenas no Afeganistão, a China investiu US$ 59 bilhões em portos estratégicos ao redor do mundo. Enquanto as potências ocidentais enviavam tropas e drones, a China enviava engenheiros e trabalhadores. O Ocidente destruía; a China construía. Como mostram estes gráficos, a China focou seus investimentos principalmente em setores estratégicos como energia, transportes, mineração e tecnologia. Desde 2013, o volume de recursos direcionados a áreas fundamentais para o desenvolvimento econômico cresceu exponencialmente, com prioridade clara para infraestrutura energética e de transporte - exatamente o que o Sul Global mais necessitava. Esta jogada não foi improvisada - foi meticulosamente calculada. A China identificou um vácuo deixado pelo Ocidente: a falta crônica de investimentos em infraestrutura no Sul Global. O Banco Mundial estima que existe uma lacuna de infraestrutura de aproximadamente US$ 1,5trilhões por ano em países em desenvolvimento. A China não viu isso como um problema, mas como uma oportunidade estratégica perfeita. O resultado deste movimento no tabuleiro global? Mais de 2.600 projetos em andamento que transformam não apenas economias locais, mas criam relações de dependência que durarão décadas. Cada porto, ferrovia e ponte é uma peça estratégica no tabuleiro que garante influência chinesa a longo prazo. Enquanto o Ocidente gastava trilhões em guerras sem fim e sem vitórias claras, a China investia em ativos que geram retornos econômicos e geopolíticos por gerações. Erro fatal #2: Impor condições políticas rigorosas enquanto a China oferecia "não-interferência".O segundo erro crucial do Ocidente foi não perceber que seu modelo de desenvolvimento condicionado estava alienando o Sul Global e abrindo espaço para a abordagem chinesa de "não-interferência". Durante décadas, instituições como FMI e Banco Mundial impuseram condições rigorosas para financiamentos: austeridade fiscal, privatizações, liberalização econômica e reformas políticas. A China revolucionou este modelo com sua política de "não-interferência nos assuntos internos" - um conceito radicalmente diferente do "desenvolvimento condicionado" ocidental. Este gráfico mostra a contrapartida dessa política de "não-interferência": o aumento significativo no endividamento público dos países participantes da BRI. Nações como Djibouti, Tajiquistão, Laos e Montenegro viram suas dívidas públicas dispararem após aderirem à iniciativa. É o que críticos chamam de "armadilha da dívida" - mas mesmo assim, muitos países preferem este modelo ao condicionamento político ocidental. Em termos práticos, isso significa que quando a Tanzânia precisava de uma nova ferrovia mas não queria privatizar suas empresas estatais, a China financiou o projeto sem questionar. Quando o Sri Lanka necessitava de um porto moderno mas não podia implementar as reformas exigidas pelo FMI, a China ofereceu os recursos sem exigências políticas. Este movimento estratégico permitiu que a China estabelecesse parcerias com regimes de todos os tipos, desde repúblicas africanas até monarquias ricas em petróleo no Oriente Médio. A mensagem era clara: "Não nos importamos como você governa, apenas queremos construir infraestrutura e estabelecer laços econômicos." A jogada foi brilhante porque ofereceu uma alternativa ao que muitos países do Sul Global consideravam "neocolonialismo ocidental" - e eles aderiram em massa a esta nova proposta. O Ocidente, apegado a seu modelo de condições políticas, falhou em perceber que estava perdendo aliados estratégicos por décadas. Erro fatal #3: Focar no curto prazo enquanto a China executava uma estratégia de décadas.O terceiro erro fatal do Ocidente foi operar dentro de uma lógica de curto prazo, enquanto a China implementava uma estratégia com horizonte de décadas. A disparidade de visão temporal é evidente: líderes ocidentais priorizam ciclos eleitorais de 4-5 anos, empresas focam em relatórios trimestrais, e projetos de desenvolvimento exigem retornos rápidos. A China, por outro lado, opera dentro de planos quinquenais que se encaixam em estratégias de 30-50 anos. Esta diferença fundamental permitiu que a China:
A China construiu a maior base industrial do planeta, com uma produção industrial de US$ 4,6 trilhões (comparada aos US$ 2,4 trilhões dos EUA). A BRI funciona como um gigantesco sistema de distribuição para esse poder industrial, criando uma rede econômica com a China no centro. Os resultados são inegáveis: o comércio entre a China e os países da BRI cresce a taxas três vezes maiores que o comércio global médio. Novas rotas comerciais foram estabelecidas, contornando estrategicamente os tradicionais pontos de controle ocidentais. O Yuan avança como moeda de comércio internacional, desafiando diretamente a hegemonia do dólar. O Ocidente, concentrado em sua visão de curto prazo e em retornos financeiros imediatos, não percebeu que estava perdendo o controle das peças mais importantes do tabuleiro global para um jogador que planeja cada movimento com décadas de antecedência. Em uma recente palestra que dei, reencontrei um ex-aluno que dedicou três anos ao estudo sistemático do modelo de desenvolvimento chinês desde 1978. Ele explicou como essa compreensão mudou completamente sua capacidade de analisar tendências globais e identificar oportunidades estratégicas para empresas e nações, tornando-o um consultor requisitado por organizações internacionais que buscam navegar esta nova paisagem econômica. O contra-ataque tardio: as respostas ocidentais insuficientes.Quando finalmente o Ocidente percebeu a magnitude desses três erros estratégicos, suas tentativas de contra-ataque foram tardias e insuficientes. O B3W (Build Back Better World) dos Estados Unidos e o Global Gateway da União Europeia surgem como respostas diretas à BRI, mas com orçamentos significativamente menores e ainda presos à mesma mentalidade de curto prazo. É como tentar recuperar peças quando o oponente já controla o centro do tabuleiro. A estratégia ocidental de desacreditar a BRI como uma "armadilha da dívida" encontra pouca ressonância no Sul Global. Quando populações locais podem literalmente dirigir em estradas modernas, usar aeroportos recém-construídos e ter acesso a energia elétrica estável pela primeira vez, argumentos sobre "neocolonialismo econômico" soam como uvas azedas de potências em declínio. A triste realidade é que, após décadas ignorando as necessidades de infraestrutura do Sul Global, impondo condições políticas rigorosas e operando com visão de curto prazo, o Ocidente descobriu que a China havia ocupado esse espaço estratégico - possivelmente de forma irreversível. O xeque-mate silencioso: como a infraestrutura redefine poder no século XXI.O que estamos testemunhando não é apenas um projeto de infraestrutura global - é uma redefinição fundamental do que significa "poder" no século XXI resultante desses três erros fatais do Ocidente. ![]() Este mapa impressionante mostra a escala global da Iniciativa Cinturão e Rota. Por maio de 2025, de 146 a 150 países haviam assinado Memorandos de Entendimento com a China para participar da BRI. Observe como o número de países aderentes cresceu exponencialmente desde 2013, com África, Europa e América Latina representando grandes blocos de participantes. Esta não é apenas uma iniciativa asiática - é verdadeiramente global. O xeque-mate chinês está sendo executado sem um único tiro. Não é necessário impor dominação militar quando se controla as estradas, pontes, portos e redes 5G que sustentam economias inteiras. A China compreendeu que no mundo globalizado, controlar a infraestrutura significa controlar o jogo. Este movimento transformou a geopolítica global de formas profundas. Quando a China precisa de votos nas Nações Unidas ou apoio em questões como Taiwan ou Xinjiang, seus parceiros da BRI consistentemente se alinham com Pequim. Durante a pandemia de COVID-19, países da BRI foram os primeiros a receber vacinas chinesas - independentemente de seus históricos de direitos humanos. A realidade é que um novo bloco global está se formando, e ele não segue a liderança ocidental. Esta coalizão emergente não compartilha necessariamente valores democráticos ou prioridades ocidentais - mas representa a maioria da população mundial e grande parte do crescimento econômico futuro. O futuro do tabuleiro global: lições de três erros históricos.A jogada chinesa de infraestrutura global não é apenas uma estratégia geopolítica brilhante - é uma lição sobre como o poder funciona no século XXI, construída sobre três erros fatais do Ocidente. O Sul Global já fez sua escolha estratégica, atraído pela combinação de investimentos concretos sem interferências políticas que o Ocidente falhou em oferecer. A pergunta que resta para o Brasil e outras economias emergentes não é se devem participar deste novo sistema econômico centrado na China, mas como podem se posicionar estrategicamente para maximizar benefícios e preservar algum grau de autonomia. Esta é a nova realidade que define nosso século: um mundo onde a infraestrutura, não os mísseis, determina quem controla o jogo. Enquanto o Ocidente investia trilhões em guerras que não poderia vencer, insistia em condições políticas rigorosas, e mantinha uma visão de curto prazo, a China conquistava o mundo com estradas, portos e pontes - um império construído não com sangue, mas com concreto e aço. Os três erros fatais do Ocidente - priorizar guerras sobre infraestrutura, impor condições políticas rigorosas, e operar com visão de curto prazo - podem ter sido o maior erro estratégico do século XXI. No xadrez geopolítico moderno, a infraestrutura é a rainha do tabuleiro, e a China compreendeu isso muito antes que seus adversários. Abraços, Um grande abraço! Paulo Gala | A A |
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A A | Segurança jurídica e previsibilidade fiscal são destaque em simpósio sobre liberdade econômicaLívia BrazA 3ª edição do Simpósio Liberdade Econômica foi realizada nesta semana em Brasília, reunindo representantes do setor produtivo, autoridades e especialistas para discutir propostas voltadas ao aumento da competitividade e à estabilidade econômica do país. A 3ª edição do Simpósio Liberdade Econômica foi realizada nesta semana em Brasília, reunindo representantes do setor produtivo, autoridades e especialistas para discutir propostas voltadas ao aumento da competitividade e à estabilidade econômica do país. O painel “Reforma Tributária e o Setor Produtivo: Perspectivas e Desafios” foi um dos destaques do evento. Os participantes defenderam a adoção de medidas que assegurem segurança jurídica, equilíbrio fiscal e previsibilidade regulatória. O vice-presidente jurídico da Confederação das Associações Comerciais e Empresariais do Brasil (CACB), Anderson Trautman, afirmou que a reforma tributária aprovada em 2023 e atualmente em fase de regulamentação ainda carece de políticas estruturantes. Segundo Trautman, a Emenda Constitucional 132 prevê uma reformulação da tributação sobre a folha de pagamento, que poderia reduzir custos para o setor de Serviços e incentivar a geração de empregos. “Isso [ainda] não foi feito. Se atropelou com uma reforma da renda, com uma visão, mais uma vez, de enfrentamento do gasto do Estado.” Reforma em andamento e o impacto sobre os pequenos negóciosO PLP 68/2024, já sancionado, regulamenta a Reforma Tributária e traz mudanças importantes para o Simples Nacional, sem, no entanto, extingui-lo. A nova legislação permite que micro e pequenas empresas continuem a recolher impostos — inclusive o IBS e a CBS — por meio do Documento de Arrecadação do Simples (DAS), mas com ajustes. Uma das novidades é a possibilidade de adesão a um regime híbrido, no qual o recolhimento do IBS e da CBS pode ser feito de forma separada. Apesar da manutenção do regime, as alterações levantam preocupações sobre aumento da carga tributária e perda de competitividade, levando ao receio de que muitos empreendedores tenham que deixar o Simples ou até reduzir suas operações. Eficiência no gasto públicoTambém presente no simpósio, o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, defendeu que a instituição trabalhe com uma agenda no mesmo sentido de quem produz. “Oferecer opções às pessoas, criar uma infraestrutura e um ambiente regulatório e legal para que o empreendedorismo possa se desenvolver e fazer coisas novas”, defendeu Galípolo. Organizado pelo senador Efraim Filho (União-PB) — que preside a Frente Parlamentar do Comércio e Serviço —, em parceria com a Vector Consultoria em Relações Institucionais, o evento cumpre um papel estratégico e necessário. “Essa é a nossa missão, juntar vários atores, sentados à mesma mesa, para poder encontrar os caminhos de resguardar o equilíbrio e a responsabilidade fiscal no Brasil, ao lado de governo, Congresso, Banco Central, setor produtivo. Todos juntos, à mesma mesa”, afirmou o parlamentar. Além do painel sobre a reforma, o evento abordou temas como crédito, pagamentos digitais, inclusão financeira e desafios regulatórios. O objetivo foi propor soluções práticas para destravar o ambiente de negócios e acelerar o crescimento sustentável do país. | A A |
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A A | Empresas se movimentam diante das incertezas da reforma tributáriaLívia BrazCom a promulgação da Emenda Constitucional 132/2023 e a sanção parcial do PLP 68/2024, que deu os primeiros contornos à reforma tributária, cresce a apreensão entre empresas quanto à compensação de créditos e à administração de conflitos fiscais. O PLP 108/2024, que complementa a regulamentação do novo Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), ainda está em discussão no Congresso, o que adiciona camadas de incerteza para o setor privado. Com a promulgação da Emenda Constitucional 132/2023 e a sanção parcial do PLP 68/2024, que deu os primeiros contornos à reforma tributária, cresce a apreensão entre empresas quanto à compensação de créditos e à administração de conflitos fiscais. O PLP 108/2024, que complementa a regulamentação do novo Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), ainda está em discussão no Congresso, o que adiciona camadas de incerteza para o setor privado. Diante do cenário indefinido, companhias têm procurado antecipar possíveis entraves legais. Escritórios especializados apontam aumento da demanda por estratégias para encerrar ou evitar litígios antes da migração para o novo sistema. Em 2026, começam as alíquotas-teste de IBS e CBS, e o modelo atual coexistirá com o novo até 2032. A mudança completa está prevista para 2033. Créditos tributários sob tensãoA indefinição sobre como créditos acumulados de ICMS, PIS e Cofins serão compensados tem mobilizado empresas, especialmente exportadoras e indústrias. Ainda sem regulamentação clara, muitos negócios estão optando por usar ou até vender seus créditos com deságio, a fim de não perder valor no futuro. A transição também poderá aumentar os custos operacionais das empresas, independentemente do porte. Valores que, para as empresas maiores, poderão ter impacto pequeno diluído no montante movimentado por elas, como explica o professor doutor em Direito Tributário, André Felix Ricotta de Oliveira. “As multinacionais e as grandes empresas já estão se preocupando com a reforma que entrará, de fato, a partir de 2027. Estão se preparando para parametrizar sistemas, custo de produção, valor de mercadoria, questões de logística, pois é isso que vai mudar muito. As empresas vão ter que repensar toda a forma da sua operação.” Impactos financeiros e operacionaisA adaptação ao novo sistema exigirá investimentos em qualificação e tecnologia. Pesquisa da Thomson Reuters aponta que 62% das empresas esperam aumento de custos na adaptação. A CNC estima que os gastos com consultorias e sistemas de gestão durante a transição variem de 0,5% a 2% do faturamento anual. Para André Felix, os custos até 2033 podem impactar diretamente no orçamento das micro e pequenas empresas. “O difícil dessa transição, também, já que haverá um período de praticamente seis anos com dois sistemas tributários em andamento, é que será necessário ter duas contabilidades, dois sistemas fiscais, como será possível repassar no preço das suas mercadorias e dos seus serviços, esses novos tributos — CBS e IBS”, pondera o especialista. Empresas também têm revisado contratos com cláusulas de reajuste tributário, para se protegerem de variações na carga fiscal. No setor de tecnologia, já há esforços para redesenhar modelos de precificação e renegociar com fornecedores. Riscos de litígios e sobrecarga institucionalA criação de dois novos tributos – IBS e CBS – com arrecadação compartilhada entre União, estados e municípios, pode gerar disputas entre entes federativos. Há receio de interpretações divergentes em instâncias administrativas diferentes, o que pode multiplicar os processos. Para evitar isso, está prevista a criação de um Comitê de Harmonização, mas o funcionamento ainda é incerto. O doutor em direito, Caio Bartine, explica que as mudanças tributárias no Brasil vão além da reforma, “os tributos estão em constante movimento.” “Então, para o exercício da atividade empresarial é fundamental esse acompanhamento. É importante também um investimento na capacitação da equipe – sobretudo a equipe que cuida diretamente da empresa — com as questões fiscais, contábeis e tributárias, com a finalidade de entender o impacto dessas novas regras sobre a carga tributária da empresa e, consequentemente, auxiliar na tomada de decisões que sejam estratégicas.” Outro ponto sensível são as alíquotas: não está claro se serão fixas, variáveis por ente federado ou híbridas. Cada modelo tem potenciais desdobramentos, tanto políticos quanto operacionais. Desafios de fiscalização e cultura do litígioCom a nova estrutura, o IBS terá um Comitê Gestor, que também atuará como instância administrativa. A falta de definição clara sobre divisão de receitas pode provocar tensões, especialmente entre estados com diferentes capacidades de arrecadação – um problema já visto na aplicação da Lei Kandir. Mesmo com a promessa de simplificação, há risco de aumento de complexidade para pequenas e médias empresas. A digitalização da fiscalização, com cruzamento de dados em tempo real, exigirá sistemas mais sofisticados – o que pode ser inviável para empresas de menor porte. Segundo o Sebrae, 70% das PMEs já têm dificuldade de cumprir as exigências atuais. Apesar das expectativas de menor litigiosidade no longo prazo, advogados alertam que a reforma por si só não basta. É preciso fortalecer práticas alternativas de resolução de conflitos, como mediação e transação tributária. Como a reforma foi constitucional, muitos pontos ainda poderão ser definidos pelo STF, o que indica que o volume de disputas judiciais pode crescer antes de diminuir. | A A |
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A A | Judicialização pode travar comitê do novo imposto da reforma tributáriaLívia BrazUm impasse entre entidades que representam os municípios brasileiros ameaça atrasar a implantação da reforma tributária. O Comitê Gestor do novo Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), previsto para ser instalado nesta sexta-feira (16), deve começar a operar sem os 27 representantes das prefeituras — o que pode comprometer decisões essenciais para a estruturação do novo sistema tributário. Um impasse entre entidades que representam os municípios brasileiros ameaça atrasar a implantação da reforma tributária. O Comitê Gestor do novo Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), previsto para ser instalado nesta sexta-feira (16) deve começar a operar sem os 27 representantes das prefeituras — o que pode comprometer decisões essenciais para a estruturação do novo sistema tributário. A ausência de representantes municipais se deve à disputa entre a Confederação Nacional dos Municípios (CNM) e a Frente Nacional de Prefeitos (FNP), que divergem sobre as regras de escolha dos membros do Conselho Superior do IBS. O processo foi judicializado e nenhuma das duas entidades indicou oficialmente seus representantes até o prazo legal de 16 de abril. A demora na escolha tem uma razão, explica o advogado tributarista e sócio do Toledo Marchetti Advogado, Luis Claudio Yukio Vatari. Por envolver uma quantia muito grande de dinheiro público, a escolha desses representantes municipais, será objeto de uma importante disputa. “Como o comitê do IBS vai ser um dos órgãos mais importantes de todo esse novo sistema, ele vai mexer anualmente com trilhões de reais. Então, imagino que a função desses indicados pelas associações e confederações de prefeitos, vai ter um papel mais importante do que muitos prefeitos daquelas cidades. O que faz desse, um cargo muito pleiteado por termos políticos e econômicos, dando a eles uma projeção muito grande — quase como ser um prefeito de uma grande capital ", avalia Yukio. Mesmo assim, os estados já indicaram seus 27 membros e defendem que, conforme a lei complementar nº 214/2025, o conselho será automaticamente instalado nesta sexta. Com isso, os secretários estaduais de Fazenda estudam recorrer ao Judiciário para garantir que possam eleger o presidente do comitê e formalizar a conta bancária que permitirá o repasse inicial da União, de R$ 50 milhões, para financiar os trabalhos do órgão. Importância do ComitêA medida é considerada urgente, pois o comitê terá a missão de aprovar o regulamento do IBS e contratar a empresa responsável pela criação do novo sistema de arrecadação, previsto para entrar em operação a partir de 2026. Sem os recursos e a formalização do conselho, esses passos podem atrasar significativamente o cronograma da reforma. Segundo o diretor institucional do Comitê dos Secretários de Fazenda dos Estados (Comsefaz), André Horta, já houve sinalização às entidades municipalistas sobre a intenção de buscar respaldo jurídico. "O prejuízo maior é atrasar os recursos e os sistemas. Para evitar isso, vamos conversar com o Judiciário", afirmou. Para o advogado Yukio Vatari, o problema está em já “começar o longo processo da reforma com uma briga. E é muito cedo para ter isso, já que estamos apenas no começo da reforma”. “Mas como tudo no Brasil, já existe uma ideia intermediária de fazer o que eles estão chamando de “comitê provisório” com a nomeação dos estados para começarem a tratar das questões para depois juntar os representantes do municípios para entrar em questão mais municipais.” O que remete à Constituição de 88 — relembra o especialista — “quando as questões relativas ao ISS e ICMS foram deixadas “para depois” e tivemos uma legislação provisória. Sendo que a definitiva levou mais de décadas para ser imputada. Todo esse cenário levou ao que todos apelidaram de ‘manicômio tributário’.” Para Yukio, parece que estamos seguindo no mesmo caminho que pode levar a uma nova insanidade legal e tributária. Disputa entre entidadesA disputa entre CNM e FNP gira em torno da forma de eleição dos representantes. A CNM, que representa a maioria dos prefeitos, diz ter maioria suficiente para vencer as duas etapas da escolha. A FNP, que reúne os grandes municípios, quer uma única eleição com divisão garantida: 14 vagas para a CNM e 13 para a FNP — proposta que depende de mudança legal ainda em tramitação no Congresso. Enquanto isso, a operação do “pré-comitê” tem sido feita sem orçamento, o que preocupa os estados. A lei prevê um empréstimo de até R$ 600 milhões da União ao Comitê Gestor em 2025. Como os depósitos mensais só começarão após a formalização do conselho, o atraso já representa uma perda estimada de R$ 250 milhões. | A A |
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A A | Suíça rica exporta medicamentos, Brasil pobre exporta óxido de alumínio!Você sabia que a Suíça exportou aproximadamente US$ 99 bilhões em medicamentos em 2023¹ — cerca de 37 vezes mais do que os US$ 2,6 bilhões² que o Brasil exportou em óxido de alumínio no mesmo ano? Enquanto o Brasil mantém sua posição como um dos maiores exportadores mundiais de matérias-primas como óxido de alumínio, a Suíça - um país sem recursos naturais - tornou-se uma das nações mais ricas do mundo através de exportações farmacêuticas de alto valor. Essa disparidade não é apenas um fato econômico curioso - representa uma armadilha fundamental de desenvolvimento que mantém países ricos em recursos como o Brasil presos em ciclos de dependência econômica e oportunidades perdidas. Hoje, vou explicar por que essa disparidade existe, o que isso significa para o futuro econômico do Brasil e as mudanças estratégicas que poderiam transformar nossa economia de exportação em uma que gere riqueza sustentável. Vamos lá. O Brasil exporta matérias-primas enquanto a Suíça exporta conhecimentoNo seu núcleo, essa questão trata do conteúdo de conhecimento das exportações. A indústria farmacêutica suíça não vende apenas pílulas - vende décadas de pesquisa, propriedade intelectual e inovação científica. Cada pequena caixa de medicamento representa milhares de horas de trabalho científico, testes clínicos e conhecimento especializado. Observe abaixo o que a Suíça exportou em 2023: Como podemos ver, medicamentos e produtos farmacêuticos (em rosa) representam grande parte das exportações suíças, ao lado de outros produtos de alto valor como relógios de precisão e serviços financeiros. Compare agora com o que o Brasil exportou no mesmo ano: As exportações de óxido de alumínio do Brasil, enquanto isso, representam extração e processamento básico. A verdadeira criação de valor acontece depois que nossas matérias-primas deixam nossas fronteiras, quando outros países as transformam em produtos acabados de alto valor. Essa diferença é o motivo pelo qual a Suíça, com uma população de apenas 8,7 milhões de pessoas, consegue manter um dos mais altos padrões de vida do mundo, enquanto o Brasil, com 212 milhões de pessoas e recursos naturais abundantes, continua a enfrentar desafios de desenvolvimento. A diferença de preço por quilograma é impressionanteQuando olhamos para os valores de exportação em termos de preço por quilograma, o contraste se torna ainda mais dramático.
Isso significa que a Suíça precisa exportar um volume físico muito menor para ganhar muito mais moeda estrangeira. Sua economia obtém mais valor com contêineres de transporte menores, menor impacto ambiental e menor esgotamento de recursos. Sua estratégia de exportação é fundamentalmente mais sustentável em todos os sentidos - econômica, ambiental e socialmente. Para o Brasil igualar as receitas de exportação farmacêutica da Suíça, precisaríamos extrair, processar e enviar aproximadamente 10.000 vezes mais material físico. A pressão sobre nosso meio ambiente, infraestrutura e recursos seria imensa - e, em última análise, insustentável. Exportações de valor agregado criam melhores empregos e resiliência econômicaA diferença na qualidade dos empregos entre essas duas economias de exportação é igualmente impressionante. A indústria farmacêutica da Suíça cria empregos bem remunerados para pesquisadores, cientistas, técnicos de laboratório, especialistas em regulamentação e trabalhadores de manufatura avançada. Esses empregos geralmente pagam bem acima da média nacional e exigem educação e treinamento significativos. Este gráfico da OCDE classifica as atividades econômicas pela intensidade em Pesquisa & Desenvolvimento: Como podemos observar, a indústria farmacêutica está entre os setores de mais alta intensidade em P&D (27,98%), enquanto indústrias extrativas como a mineração estão entre as mais baixas (0,80%). Isso explica diretamente a diferença na qualidade e remuneração dos empregos criados. A indústria brasileira de óxido de alumínio, embora importante, cria menos empregos em relação ao valor de exportação, e esses empregos são mais vulneráveis às flutuações globais de preços de commodities. Quando os preços do alumínio caem nos mercados globais, os trabalhadores e comunidades brasileiros sentem o impacto imediatamente. O salário médio no setor farmacêutico da Suíça varia entre $85.000-$120.000 por ano. No setor de mineração e processamento básico de materiais do Brasil, os salários médios geralmente variam de $5.000-$15.000 por ano. Essa diferença salarial reflete diretamente as diferentes capacidades de criação de valor dessas economias de exportação. A armadilha das commodities é um legado colonial que persiste até hojeA posição do Brasil na economia global como fornecedor de matérias-primas não aconteceu por acidente. É uma continuação direta das relações econômicas coloniais estabelecidas há séculos, onde as colônias forneciam matérias-primas e as potências imperiais fabricavam produtos acabados. O gráfico abaixo mostra claramente essa realidade estrutural, comparando a manufatura per capita (eixo vertical) com o Índice de Complexidade Econômica (eixo horizontal) de diversos países: Podemos observar que:
Embora o colonialismo político tenha terminado há muito tempo, esse padrão econômico provou ser notavelmente duradouro. O sistema de comércio global atual ainda inclui poderosos incentivos e barreiras que dificultam a ascensão na cadeia de valor para países como o Brasil: • Políticas de escalada tarifária em países ricos que cobram tarifas de importação mais altas sobre bens processados do que sobre matérias-primas • Regimes de propriedade intelectual que protegem monopólios de conhecimento estabelecidos • Restrições de capital que limitam investimentos em P&D e manufatura avançada • Lacunas educacionais que retardam o desenvolvimento de força de trabalho técnica especializada. A Suíça, enquanto isso, se beneficiou por estar no centro da industrialização europeia, construindo indústrias intensivas em conhecimento ao longo de muitas gerações sem essas restrições. Aliás, essa persistência de padrões históricos de especialização produtiva é um dos temas centrais que abordamos em nosso curso sobre desenvolvimento econômico brasileiro, onde analisamos como países podem ficar presos em armadilhas de baixa complexidade produtiva por gerações, a menos que implementem estratégias deliberadas para mudar sua posição na economia global. O Brasil tem potencial farmacêutico oculto esperando para ser desbloqueadoO aspecto mais frustrante dessa comparação é que o Brasil realmente possui um enorme potencial inexplorado no setor farmacêutico. Temos a maior biodiversidade do mundo, com inúmeras plantas contendo compostos que poderiam se tornar os medicamentos revolucionários de amanhã. Temos um grande mercado interno que poderia apoiar a expansão farmacêutica. Temos universidades fazendo pesquisas de classe mundial. O que nos falta é o tecido conectivo entre esses ativos - o ecossistema de inovação que transforma descobertas científicas em produtos comerciais. Países como a Suíça passaram décadas aperfeiçoando esses caminhos de inovação: • Fortes ligações entre universidades e indústria • Capital paciente disposto a financiar longos cronogramas de desenvolvimento • Expertise regulatória para navegar nos mercados farmacêuticos globais • Infraestrutura especializada para ensaios clínicos e desenvolvimento de medicamentos • Redes globais para marketing e distribuição Construir essas capacidades não é fácil nem rápido, mas as recompensas potenciais são transformadoras para a economia brasileira. O caminho a seguir requer investimento estratégico e mudança de políticaA transição de exportador de matérias-primas para exportador de conhecimento não acontecerá automaticamente. Requer uma estratégia deliberada tanto em níveis governamentais quanto do setor privado. Os países que fizeram essa transição com sucesso - como Coreia do Sul, Taiwan e Cingapura - o fizeram através de esforços coordenados que combinaram: • Política industrial direcionada a setores específicos de alto valor • Investimentos educacionais alinhados com esses setores estratégicos • Parcerias público-privadas para compartilhar riscos em indústrias emergentes • Estratégias comerciais que protegiam indústrias nascentes enquanto mantinham conexões globais • Pensamento de longo prazo que transcendia ciclos políticos Para o Brasil, os produtos farmacêuticos representam apenas um setor potencial de alto valor. Outros incluem aeroespacial (onde a Embraer mostra o que é possível), tecnologia agrícola avançada, sistemas de energia renovável e desenvolvimento de software especializado. O primeiro passo é mudar nossa mentalidade nacional sobre o que é possívelUm ex-aluno me contou que teve muita dificuldade para entrar no mestrado. Durante a graduação, foi convencido de que o papel da economia era só tornar o país mais eficiente no que já fazia. Desprezou temas como política industrial ou complexidade, seguiu por caminhos técnicos e operacionais — e travou. Tentou acessar espaços estratégicos, mas faltava visão. Só depois de muita frustração percebeu que precisava entender o Brasil por outro ângulo. Quando encontrou a orientação certa, tudo fez sentido. Essa história ilustra perfeitamente nosso desafio nacional. Antes que o Brasil possa transformar sua economia de exportação, precisamos transformar nosso pensamento coletivo sobre nosso potencial econômico. Muitas vezes, aceitamos o papel de "fornecedor de recursos naturais" como se fosse um fato imutável e não uma circunstância mutável. A Suíça não se tornou uma potência farmacêutica da noite para o dia. Foram necessárias décadas de investimento, apoio político e compromisso cultural com a excelência em ciência e manufatura. O Brasil pode fazer transformações semelhantes se nos comprometermos com a longa jornada de atualização econômica. A diferença entre as exportações farmacêuticas suíças e as exportações brasileiras de óxido de alumínio não é apenas sobre a realidade econômica presente - é sobre duas visões diferentes de desenvolvimento econômico. Uma aceita a vantagem comparativa como destino; a outra a vê apenas como um ponto de partida para evolução estratégica. A escolha entre essas visões pertence a nós. O que você acha da estratégia de exportação do Brasil? Você gostaria de ver nosso país subir na cadeia de valor em setores específicos? Adoraria ouvir seus pensamentos. Um grande abraço! Paulo Gala | A A |
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Por uma macroeconomia da esperançaQueda brusca da popularidade do governo reflete frustração real e trágica. Lula 3 foi incapaz, até agora, de melhorar sensivelmente a vida dos que historicamente o apoiaram. Mas surgem, enfim, três sinais de uma incipiente virada. Movimentos sociais serão capazes de ampliá-la? Por Juarez Guimarães, em A Terra é Redonda Há hoje um processo inicial de formação de consciência do campo democrático-popular, do qual participa ativamente a liderança do presidente Lula, de que é preciso mudar. Esta formação de consciência, se decisivamente aprofundada, tem o potencial de criar as condições políticas necessárias para impor à extrema direita brasileira uma derrota histórica nas eleições presidenciais de 2026. A primeira manifestação desta consciência identificou o “campo da comunicação” do governo como necessário de ser profundamente alterado. De fato, neste campo, as esquerdas brasileiras e o campo democrático sofrem historicamente de uma desvantagem histórica e estrutural diante das mídias empresarias, profundamente agravada com a formação das redes bolsonaristas e da extrema-direita em geral na internet. Diante delas, identificou-se corretamente a ausência de um sistema e uma dinâmica pública que permitisse ao governo e, em particular, à liderança de Lula comunicar-se diretamente com a maioria do povo brasileiro neste novo contexto de desinformação e de extrema polarização. Em um segundo momento, e vinculado a esta consciência em formação, construiu-se a formulação de que faltariam ao governo “marcas populares”, que estabelecessem com nitidez a identidade do governo e que contrastassem com a extrema direita e a direita neoliberais. Na ausência delas, haveria uma dificuldade de apropriação política pública e na base social democrático-popular dos avanços conquistados pelo governo. Mais além da comunicação, portanto, haveria uma necessidade de concentrar e dar dinamismo a algumas agendas políticas e políticas públicas, mais importante ainda em um governo de ampla coalizão com partidos e lideranças conservadoras. Já há, decerto, um terceiro momento de formação da consciência que identificou na ação do Banco Central sob a direção do bolsonarista Roberto Campos um movimento altista dos juros e de especulação com o câmbio, fomentadores da recessão e da inflação, e que exigiu a formação imediata – mesmo que muito iniciais e limitadas – de ativação do crédito, da renda (permissão de saque do FGTS para demitidos que aderiram ao saque-aniversário, que se calcula tem um potencial de ativar 12 bilhões de reais na economia), e, principalmente, medidas iniciais de controle da inflação de alimentos (redução de impostos sobre importação, pressão para que os estados adiram a um redução do INSS da cesta básica). O governo Lula está cumprindo também a proposta feita na campanha de isentar do pagamento do imposto de renda aqueles que recebem até cinco salários mínimos, aliviando de 25 % a 75 % em escala progressiva os que recebem de 5 a 7 mil reais por mês e taxando mais aqueles que recebem mais de 50 mil por mês. A pesquisa Datafolha de 10 de abril registrava um apoio de mais de 70 % dos brasileiros a estas medidas. Há, portanto, indícios iniciais e mesmo limitados do que se poderia chamar da consciência de uma macro-economia popular e dos trabalhadores, que se chama aqui de “macro-economia da esperança”, ou seja, aquela incontornavelmente necessária para restabelecer e até ampliar o circuito da esperança que vincula a maioria do povo brasileiro à dinâmica e futuro do governo Lula. Este artigo procura justamente aprofundar de modo decisivo esta consciência e contribuir para a reflexão dos caminhos para se conquistar as condições de uma vitória provável do campo democrático-popular em 2026. Ele se dividirá em cinco partes: a primeira busca interpretar o cenário político do impasse revelado pelas recentes pesquisas que indicam um patamar alto de impopularidade do governo Lula e uma rejeição menor mas ineditamente majoritária à sua própria liderança. A segunda procura desvendar o aparente paradoxo de como explicar a queda de popularidade em meio a um cenário macro-econômico que apresenta sinais positivos na área do crescimento, da criação de empregos e de reconstrução das políticas sociais; a terceira constrói o diagnóstico de como a dinâmica política neoliberal aprofundou qualitativamente nos anos de Michel Temer e Jair Bolsonaro a crise social para os trabalhadores e pobres e, ao mesmo tempo, aprofundou qualitativamente os impedimentos para uma macro-economia popular e dos trabalhadores. A quarta procura indicar os caminhos possíveis, no contexto da atual correlação de forças e de disputa política com a extrema direita, de iniciar a construção do que se chama de macro-economia popular e dos trabalhadores ou “macro-economia da esperança”; por fim, busca-se vincular estas conquistas possíveis neste próximo período à própria dinâmica democrática mais geral de luta contra a extrema direita no Brasil, agora reforçada pela vitória de Donald Trump. Queda da popularidade – cinco razõesPelo menos quatro pesquisas recentes (Genial Quaest, Datafolha, CNT/Sensus, Ipsos IPEC) convergiram na identificação de uma queda brusca na popularidade do governo Lula e da própria liderança do presidente nos meses iniciais de 2025. Em geral, estas pesquisas vieram acompanhadas de sondagens eleitorais sobre as eleições presidenciais de 2026. Quais seriam os marcos políticos centrais para compreendê-las? Em primeiro lugar, há que se distinguir claramente pesquisas sobre a situação política atual e em relação a eventos futuros. Entre agora e as eleições presidenciais de 2026 há um tempo político profundamente instável e ainda de evolução indeterminada. As sondagens de eleições presidenciais não consideram, por exemplo, o efeito da condenação de Bolsonaro por sua liderança na tentativa de golpe, as dificuldades da construção de uma candidatura unificada da extrema direita, nem o efeito das mudanças já em curso, mesmo iniciais e muito tópicas, no governo Lula com potencial de incidência positiva sobre a popularidade. Neste sentido, uma recente pesquisa DataFolha do início de abril (de modo inverso a outra divulgada pela Quaest) indicou um crescimento de cinco pontos de avaliação positiva do governo Lula e uma queda de 3 pontos na avaliação negativa, ainda com um saldo negativo de 9 % (38 % de ruim/péssimo e 29% de ótimo/bom). Como as pesquisas de avaliação do governo e aquelas de sondagem das eleições presidenciais de 2026 são publicadas em sequência, o leitor é induzido a lê-las no mesmo plano de capacidade de previsão. Decididamente não são. Neste artigo, procura-se apenas compreender o significado das pesquisas sobre a situação atual. Em segundo lugar, é necessário compreender as pesquisas recém divulgadas em fevereiro e março em sua série desde os inícios do terceiro governo Lula. Isto é fundamental para se entender, por exemplo, se elas são o aprofundamento ou inversão de uma tendência. De modo evidente, trata-se de um aprofundamento de uma tendência. Na pesquisa CNT/ Sensus, por exemplo, a avaliação ótima/boa do governo Lula apresentava os seguintes índices: 43 % (maio de 2023), 41% (setembro de 2023), 43 % (janeiro de 2024), 37 % (maio de 2024), 35 % (novembro de 2024) e 29 % (fevereiro de 2024). Já segundo a Genial Quaest, a aprovação do presidente Lula era de 60 % (agosto de 2023), 50 % (maio de 2024) e 47 % (janeiro de 2025). Em geral, as primeiras análises das pesquisas tenderam a se concentrar na explicação apenas do impacto da falsa notícia de que o Pix seria taxado pelo governo e, depois, na pressão altista dos alimentos, decorrente principalmente do movimento especulativo que provocou uma forte valorização do dólar diante do real. Estas explicações, se captam a intensidade do momento negativo janeiro/fevereiro, deixam de lado o período também dramaticamente negativo de outubro/dezembro, durante o qual o governo Lula apresentou uma pauta negativa de ajuste fiscal, com impacto sobre a regra de mudança do reajuste do salário-mínimo e de arrocho na concessão do BPC, fartamente capitalizada pela extrema-direita e suas redes organizadas de fake news. O fato é, que já após os resultados em geral negativos nas eleições municipais de 2024, o governo Lula viu-se diante de micro-conjunturas extremamente negativas. Este conjunto de fatos negativos explica o forte agravamento de uma tendência de queda de popularidade que já estava em curso. Em terceiro lugar, este aprofundamento das avaliações negativas nas pesquisas recentes diz principalmente respeito a perdas na própria base eleitoral que elegeu Lula presidente em 2024, ou seja, entre aqueles que ganham de 0 a 2 salários-mínimos, entre as mulheres, entre os não-brancos, entre os nordestinos. Na pesquisa CNT/ Sensus, por exemplo, os que avaliam o governo Lula como regular mantiveram-se em um patamar relativamente estável de 28 % (maio de 2023), 30 % (setembro de 2023), 28 % (janeiro de 2024), 31 % (março de 2024), 32 % (novembro de 2024) e 26 % (fevereiro de 2024). Segundo o IPEC de fevereiro de 2025, 30 % do eleitorado que votou em Lula no segundo turno de 2022 o rejeitariam agora. Em quarto lugar, coerente com esta perda em sua própria base eleitoral, está o índice da pesquisa Genial Quaest de fevereiro de 2025 de que 65 % dos brasileiros avaliam que o governo Lula não está cumprindo as promessas feitas quando da sua eleição a presidente em 2022. Este índice, maior do que a proporção de votos que obteve no segundo turno das eleições, indicam que a generalização deste juízo vai além da própria base eleitoral do governo, mas a engloba. O fato de que, pela primeira vez, o índice de desaprovação a Lula supera na margem de erro a sua aprovação (49 % a 47 %, segundo a Quest de janeiro de 2025, 55,3 % a 40,5 % segundo a CNT/Sensus de fevereiro de 2025) indica que está em curso uma campanha de questionamento à própria credibilidade da liderança histórica de Lula. Em quinto lugar, todos estes dados devem incorporar em sua avaliação a disputa polarizada – diária, agressiva e com frequência manipuladora das informações – feita não apenas pela extrema-direita neoliberal, mas também e, cada vez mais, pela direita neoliberal não bolsonarista. Estas pesquisas não são propriamente um retrato das opiniões sobre a realidade do país e do governo, mas a resultante de um confronto político em curso. O terceiro governo Lula se exerce não apenas em uma correlação de forças adversa, mas em um clima de opinião mais polarizado até do que aquele do segundo governo de Dilma Rousseff porque mais estruturalmente organizado, inclusive – e isto é decisivo – entre os trabalhadores e os setores populares. A extrema direita tem uma base popular muito mais organizada do que jamais teve o PSDB. Mesmo assim, considerando todas estas cinco razões, há um aparente paradoxo: como explicar este descontentamento hoje majoritário diante do governo Lula frente a seus chamados êxitos macro-econômicos (crescimento de 7 % do PIB em dois anos, criação de 3,147 milhões de empregos somados em 2023/2024 e diminuição da taxa do desemprego do IBGE ao menor patamar de sua série histórica, elevação do salário-mínimo real, recuperação e expansão do Bolsa-Família, reconstrução de programas de políticas públicas sociais desmontados pelo governo de Jair Bolsonaro)? Um paradoxo apenas aparenteA explicação do paradoxo da queda de popularidade do governo Lula – contínua e aprofundada gravemente no período recente – deve ser explicada fundamentalmente com base em seus efeitos sobre os brasileiros e brasileiras que recebem até um salário-mínimo per capita (60 % da população) e que recebem entre 1 e 3 salários-mínimos (31, 8 %), segundo o Relatório Síntese do IBGE de 2024. Ou seja, cerca de 90 % da população brasileira. Os que têm rendimento familiar per cápita de mais de três salários-mínimos são apenas 9,1 % da população em 2023. Um primeiro erro que se encontra com frequência é o que propõe uma crítica centrada apenas na continuidade da política macro-econômica neoliberal entre os governos Lula e de Jair Bolsonaro e seus efeitos sobre a maioria da população brasileira. Se tomarmos alguns indicadores centrais que têm incidência sobre a vida da maioria da população, isto não é verdade: no governo de Jair Bolsonaro houve queda de cerca de 2 % do valor real do salário-mínimo; no governo Lula, houve uma valorização de 5,77 % em 2024 e de 2, 5 % em 2025. No governo de Jair Bolsonaro, que seguiu a PEC do Teto de Gastos do governo Temer, houve forte redução de investimentos em educação e saúde (este, por exemplo, caiu de 15, 7 % da receita corrente líquida para 13, 54 % em 2019); nos governos Lula, houve um aumento incremental, retomando as vinculações orçamentárias constitucionais anteriores. A média anual de crescimento do PIB no governo de Jair Bolsonaro, marcado pela epidemia, foi de apenas 1,5 %. A inflação dos alimentos, segundo o IBGE, foi de 6,37 %, 14,09 %, 7,94% e 11,64 % nos anos do governo Bolsonaro. E de 1,03 % e 7,69% nos dois anos iniciais do governo Lula. Um segundo erro seria o de não reconhecer que há uma dinâmica de melhorias incrementais em relação ao período anterior. Há, de fato, melhorias incrementais naqueles indicadores que afetam a vida da grande maioria dos brasileiros, que podem ser medidos pelos indicadores de pesquisa do IBGE e mesmo pelo Dieese. Este, por exemplo, nos informa que em março de 2022 o salário-mínimo necessário para prover do fundamental uma família de quatro pessoas seria 5,28 maior que o oficial; mas 4,7 vezes maior do que o pago em março deste ano. Houve uma melhoria nestes dois anos de governo Lula, mas ainda distante de março de 2012 quando o salário mínimo necessário para sustentar uma família de quatro pessoas seria 3,7 vezes maior que o então recebido. Mas, evitando estes dois erros, seria correto dizer que o governo Lula ainda não foi capaz de promover ou anunciar uma melhoria qualitativa dos indicadores econômicos e sociais fundamentais que organizam o cotidiano da vida da imensa maioria dos brasileiros e brasileiras. E nem, de fato, há um anúncio consistente nesta direção. Esta melhoria de caráter incremental na vida dos brasileiros seria assimilável pela base popular do terceiro governo Lula se os dois anos finais do governo de Dilma Rousseff (de forte recessão), mas principalmente os anos de Michel Temer e Jair Bolsonaro não tivessem sido marcados por uma deterioração qualitativa e profunda da vida social, por uma violenta pauperização, pelo aumento do desemprego, generalizada precarização e desorganização do mercado de trabalho, por uma pandemia e uma situação de gravíssima crise sanitária, pelos agravamentos das catástrofes climáticas, por um aumento da violência cotidiana, principalmente contra os pobres, os negros e as mulheres. No dia 19 de março, Lula ao encaminhar ao Congresso Nacional a proposta de isenção de imposto de renda até cinco mil reais e uma diminuição das alíquotas para quem recebe até sete mil reais, utilizou a imagem que o “povo brasileiro está doente”. Está certo: a doença se chama neoliberalismo. Em síntese, a vida da grande maioria dos brasileiros após estes dois anos do governo Lula continua sendo marcada por uma gravíssima crise social para a qual o governo Lula não apresentou uma resposta consistente de saída, de superação ou, pelo menos, de uma melhoria realmente qualitativa. Daí o confronto com as expectativas criadas, o processo de perda de popularidade e o seu agravamento no período recente. Isto é, não há um paradoxo: mas descontentamento, desilusão, perda de esperança, sentimentos que são trabalhados e expandidos pelas redes de comunicação da extrema-direita e da direita neoliberal. O governo Lula não está conseguindo ainda aplicar ou está aplicando muito parcialmente o programa para o qual foi eleito em 2022. Não é fruto da sua vontade. Há decerto uma correlação de forças adversa. Mas mais do que isto há um bloqueio institucional, construído e aprimorado após o golpe de 2016, sobre a aplicação de uma macro-economia de sentido democrático e popular ou, como se chama aqui, uma macro-economia da esperança. É preciso, pois, entender o seu modo de funcionamento, sua força e fraqueza, para superá-la. Macro-economia da desesperançaNos estudos sobre neoliberalismo, identifica-se que o período após a crise financeira internacional de 2008 foi marcado por um aprofundamento das políticas de austeridade, como forma de gerir crescentes dívidas públicas decorrentes da massiva intervenção dos Estados nacionais diante das ameaças dissolventes do sistema financeiro em crise. Em síntese, houve uma socialização das perdas decorrentes do socorro às insolvências dos rentistas e especuladores. Essa macro-economia da desesperança, que aprofunda as pressões sobre o mercado de trabalho e as políticas sociais, ao mesmo tempo que promove o aumento da concentração da renda em prol dos circuitos financeiros, tem no circuito de poder que envolve os Ministérios da Fazenda, os Bancos Centrais capturados pela lógica da financeirização e a dívida pública os seus eixos institucionais de reprodução. Esta dinâmica internacional de aprofundamento das políticas de austeridade após a crise financeira internacional de 2008 foi contrarrestada no Brasil pelo segundo governo Lula e pelo primeiro governo de Dilma Rousseff. O golpe contra Dilma, os governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro traduziram, com atraso mas com mais virulência, esta dinâmica anti-popular da mal chamada “política de austeridade”, através de novos regramentos constitucionais, institucionais e de dinâmicas financeiras e rentistas em torno da dívida pública. Este aprofundamento do regime macro-econômico neoliberal tem, decerto, uma gravidade maior devido à posição semi-periférica e dependente do capitalismo brasileiro e a um mercado de trabalho já estruturalmente precarizado. Aqui, o pagamento e amortização dos juros da dívida em 2024 capturaram 950 bilhões de reais, equivalentes a 7,85 % do PIB brasileiro. Isto é, mais do que os orçamentos do Ministério da Saúde, da Educação, do Desenvolvimento Social somados. Apenas a elevação de um ponto da Taxa Selic onera o setor público em mais de 50 bilhões de reais. Houve, então, de 2016 uma nova regulação que representa uma brutal alteração dos padrões da luta de classes, tendo de um lado, o capital financeirizado e o conjunto dos capitalistas contra os direitos do trabalho e as políticas sociais. Este aprofundamento do regime neoliberal no Brasil passou por três grandes campos de iniciativas. O primeiro deles foi a institucionalização da mal chamada autonomia do Banco Central, aprovada durante o governo de Jair Bolsonaro. Entre 1988 e 1996, 12 países latino-americanos modificaram legal ou constitucionalmente o estatuto de seus bancos centrais (centrados em políticas monetaristas e visando sobretudo limitar o financiamento do gasto público). Chegou a vez, então, do Brasil estabelecer a autoridade do Banco Central frente à própria soberania popular, vinculando-o institucionalmente às redes financeiras internacionais. Não apenas o Banco Central passou a subordinar, em sentido amplo, o protagonismo do Ministério da Fazenda – ao estabelecer a taxa Selic, a trajetória da dívida pública e o peso de sua rolagem sobre o orçamento público -, como ao longo do tempo a flexibilização do mercado de câmbio a taxas flutuantes veio se acentuando ao longo das últimas gestões do Banco Central. A segunda medida chave foi o estabelecimento (in)constitucional de um Teto de Gastos para o orçamento da União, a chamada PEC do fim do mundo, que pretendia inviabilizar por 20 anos o crescimento dos investimentos nas políticas sociais mesmo em períodos de forte crescimento da receita. Foi em negociação com esta trava anti- programática da Constituição de 1988 – um verdadeiro golpe constitucional – que se formulou o atual Novo Arcabouço Fiscal, que negociou no interior desta nova situação adversa um grau menor de política de austeridade. O terceiro campo de mudanças neste período de aplicação do programa neoliberal foi em relação ao mundo do trabalho: a mudança legal que generaliza a possibilidade de terceirização, aprovada no governo de Michel Temer, forneceu a todos capitalistas uma nova arma para precarizar e aumentar a taxa de exploração da força de trabalho. Uma outra medida retirou cerca de 80 % do orçamento anual dos sindicatos brasileiros, em um contexto de forte desemprego e precarização, levando a uma redução da taxa de sindicalização, hoje em torno de 8,4 % dos 100, 7 milhões de ocupados (em 2012, segundo a PNAD contínua, era de 16,1 %). Em 2023, os sindicalizados eram apenas 10,1 % entre os assalariados do setor privado e de 18, 3 % entre os assalariados no setor público. A redução do poder de compra do salário mínimo esteve em linha com estas medidas de desestruturação dos direitos do trabalho, que atingiu até a proteção ao trabalho insalubre das trabalhadoras grávidas. São os setores mais precarizados no mercado de trabalho – mulheres, não brancos, trabalhadores de menor qualificação – os mais atingidos. O Brasil voltou ao mapa da fome: ou na palavra de Marx, o capital no Brasil, de forma cada vez mais agressiva, não reconhece nem os direitos mínimos necessários à reprodução da força de trabalho. Por uma macro-economia da esperançaNa luta contra o nazi-fascismo, a esquerda retornou à grande lição de Karl Marx que não se pode lutar pelo socialismo se não se luta pelos direitos democráticos e por uma democracia ou república social. Agora, as esquerdas estão aprendendo que não se resiste ao avanço das forças de extrema-direita se se adota, mesmo com algumas inflexões, uma macro-economia neoliberal da desesperança. Os trabalhadores e os cidadãos em geral prezam a democracia porque ela defende os seus direitos à liberdade e à igualdade. Se ela deserta dessa condição, e até mesmo ataca estes direitos fundamentais, ela se esvazia de sentido. Os governos brasileiros de esquerda nunca tiveram maioria parlamentar para mudar o regramento macro-econômico neoliberal, aprovado em acordo do governo FHC com o FMI, desde 1998: câmbio flutuante, Lei de Responsabilidade Fiscal, sistema de metas da inflação, crescente privatização da economia estatal. O que houve foi sempre uma pragmática adaptação a estas regras, procurando imprimir através de um protagonismo desenvolvimentista e de viés social da Fazenda (durante as gestões Guido Mantega), um contra-balanço às ortodoxias neoliberais do Banco Central. Com este recente e brutal aprofundamento da dinâmica institucional neoliberal e da financeirização, esta pragmática encontra agora seus limites. Como um governo hoje sem maior popularidade e sem maioria parlamentar, pode superar um tal impasse? Ora, trazendo a luta de classes que opõe o eixo trabalhadores/imensa maioria do povo brasileiro esquerda e centro-esquerda versus capital financeirizado / bolsonarismo + direita neoliberal para a luta democrática. Ou pensando a luta democrática através da construção e anúncio de uma macro-economia da esperança. Lula, por sua história, sentimento e inteligência, é a liderança que pode organizar esta jornada política potencialmente majoritária neste período que nos separa das eleições de 2026. As agendas que estão sendo iniciadas pelos movimentos sociais, que se combinam com iniciativas do governo e/ou parlamentares dos partidos de esquerda, a isenção do imposto de renda + taxação dos mais ricos, superação da jornada 6×1, o chamado de todas as centrais sindicais para uma luta pública contra os juros escandalosos com manifestações na porta das sedes do Banco Central, a construção de uma agenda renovada no Ministério da Saúde (após o árduo trabalho virtuoso de reconstrução do Ministério da Saúde da gestão Nísia Trindade) são anúncios desta luta, mesmo que muito inicial, por uma nova macro-economia da esperança. A dimensão central da macro-economia neoliberal no Brasil e, ao mesmo tempo, a mais vulnerável a um questionamento público e majoritário de legitimidade democrática, é a política escandalosa de juros sustentada e promovida pelo Banco Central, que alimenta todo o processo de financeirização da economia brasileira. Ela foi construída em seus alicerces pelos governos Fernando Henrique Cardoso nos anos noventa, não foi centralmente contestada pelo campo democrático e popular e, inclusive, continuou em vigor nos governos Lula e Dilma. Está agora ainda no centro do terceiro governo Lula, mesmo após ter ele indicado o atual presidente e a maioria dos diretores do Banco Central. Ora, como teoriza Marx no terceiro volume de O Capital, o circuito D-D´, o capital portador de juros, o dinheiro que cria dinheiro, não cria mais valor mas disputa o seu quinhão na massa geral de mais-valia produzida no processo de reprodução do capitalismo. Este quinhão é fundamentalmente arbitrado por uma autoridade – hoje os Bancos Centrais – e não apenas resulta do processo de concorrência. As escandalosamente altas taxas de juros praticadas no Brasil, em um quadro de volumosa dívida pública, constrangem de modo radical os orçamentos públicos, as taxas de investimentos da economia, pressionam para a elevação brutal das taxas de exploração dos trabalhadores, estrangulam o crédito e exponenciam o endividamento das famílias. A recente declaração de Armínio Fraga, financista e elevado a uma das inteligências centrais do neoliberalismo brasileiro, de que é necessário congelar o salário-mínimo por seis anos expressa bem esta lógica da barbárie. Foram indicados pelo atual governo Lula o presidente e a maioria dos diretores do Banco Central. Uma política resoluta de redução da Taxa Selic pelo Banco Central encontraria hoje, sem dúvida, um apoio majoritário da população brasileiro, de sentido democrático e popular, inclusive de setores da indústria e do comércio que operam oprimidos pelo domínio financeiro. O argumento de que esta redução dos juros básicos alimentaria a inflação, concebida como de demanda não tem o mínimo respaldo na realidade: segundo pesquisa Datafolha de 13 de abril, 58 % dos brasileiros reduziram a compra de alimentos no período recente. Exporia o câmbio a uma valorização especulativa do dólar? Ora, o Brasil conta com vultosas reservas em dólar e a moeda norte-americana, submetida a solavancos diante do desgoverno de Donald Trump, não parece fortalecida. Alguns ainda argumentam que o Banco Central, agora com nova direção, não pode “fazer um cavalo-de-pau” em um transatlântico diante de uma recente e artificial escalada altista dos juros básicos. Ora, mais vale dizer que não pode continuar em direção a um iceberg e levar ao naufrágio! Esta redução sustentada e expressiva dos juros básicos da economia, com seu impacto positivo sobre a dívida pública, sobre o crescimento da economia e sobre os investimentos, sobre o endividamento das famílias permitiria ao governo enfrentar de modo qualitativamente mais efetivo as carências populares emergenciais e, ao mesmo tempo, anunciar a construção de um novo ciclo econômico para além do neoliberalismo, uma macro-economia da esperança. Macro-economia da esperança e novo bloco históricoFoi golpeando a democracia e, depois, com um governo de extrema direita que se aprofundou o regime de uma macro-economia neoliberal no Brasil no período recente. Uma dinâmica da macro-economia da esperança, mesmo inicial, não pode ser pensada simplesmente como um novo arranjo técnico e econômico. Ela depende da construção de uma nova agenda para o futuro do país, de uma decisiva e frontal disputa política e de um programa de reconstrução da democracia participativa. Este deve ser o sentido político das eleições de 2026. O grande desafio para as forças democrático-populares é disputar as bases populares hoje ainda aderentes à extrema-direita neoliberal com um programa que alie a reconstrução da democracia brasileira com a construção de uma macro-economia da esperança. Isto é, demonstrar pedagogicamente que Bolsonaro- Paulo Guedes são irmãos-siameses, são contra a democracia e contra os direitos dos trabalhadores e do povo brasileiro. O programa vitorioso nas eleições presidenciais de 2022 deve ser relegitimado e aprofundado nas eleições de 2026. Macro-economia da esperança e democracia participativa: enfrentar a financeirização do Brasil e reorganizar estruturalmente o regime fiscal, reativar as dinâmicas autênticas de representação, comunicação e participação da democracia brasileira em torno a projetos estratégicos de futuro. Avançar estruturalmente na construção do SUS e da educação pública, elevar de forma sustentada o salário-mínimo e reorganizar o mercado de trabalho com base nos direitos das classes trabalhadoras, retomar a reforma agrária e a produção de alimentos, implementar de modo decisivo a transição ecológica, liderar investimentos públicos estratégicos nas cidades, implantar a economia de cuidados e reconstruir a estratégia de uma segurança pública cidadã. Um programa como este teria o potencial de unir os movimentos sociais, uma frente de partidos e lideranças de esquerda e centro-esquerda, criaria uma dinâmica política irresistível de reeleição do governo Lula. Reuniria as classes trabalhadoras e as chamadas classes médias. Expressaria uma vontade histórica de 99 % contra os 1 % que garroteiam, com o poder financeiro e estruturas anti-democráticas, o futuro do país. Da luta contra o processo de radicalização programática e autoritária do neoliberalismo, internacional e nacional, poderia emergir, enfim, uma nova dinâmica hegemônica e um novo bloco histórico de poder, que não foi possível construir antes nos governos de coalizão liderados pelo PT. Juarez Guimarães é professor titular de ciência política na UFMG. Autor, entre outros livros, de Democracia e marxismo: Crítica à razão liberal (Xamã) [https://amzn.to/3PFdv78] | A A |
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Voa Brasil: reservas do programa movimentaram mais de 80 municípios em oito mesesMarquezan AraújoNos oito primeiros meses de vigência do Programa Voa Brasil, o número de cidades procuradas pelos aposentados do INSS em busca de passagens aéreas oferecidas por meio da iniciativa passou de 80. Em março, ingressaram na lista os aeroportos de Fernando de Noronha (PE), Guanambi (BA) e Teófilo Otoni (MG), chegando a um total de 82 municípios. Nos oito primeiros meses de vigência do Programa Voa Brasil, o número de cidades procuradas pelos aposentados do INSS em busca de passagens aéreas oferecidas por meio da iniciativa passou de 80. Em março, ingressaram na lista os aeroportos de Fernando de Noronha (PE), Guanambi (BA) e Teófilo Otoni (MG), chegando a um total de 82 municípios. Desde julho do ano passado, foram reservadas 35.419 passagens no primeiro programa de inclusão social da aviação brasileira, promovido pelo Ministério de Portos e Aeroportos (MPor). Entre os 20 principais destinos, somente três não são capitais: Campinas (SP), Juazeiro do Norte (CE) e Porto Seguro (BA). São Paulo segue como a cidade mais procurada pelos aposentados, já que responde por quase 30% dos bilhetes, com um total de 10.261. Na sequência aparecem:
Segundo o ministro de Portos e Aeroportos, Sílvio Costa Filho, a medida permite a ampliação dos grupos usuários e contribui para o fortalecimento do Turismo. “O objetivo do programa, de incluir novos usuários no transporte aéreo, de permitir que grupos como os aposentados do INSS possam encontrar passagens mais acessíveis, sem subsídio, este objetivo está plenamente atingido”, destaca. O Secretário Nacional de Aviação Civil do MPor, Tomé Franca, afirma que o programa não utiliza recursos públicos e conta com a parceria das empresas aéreas que disponibilizam vagas ociosas em datas, horários ou período de pouca demanda. Ele reforça, ainda, que a iniciativa tem boa adesão. “Neste período, cerca de 150 mil beneficiários acessaram o sistema, resultando em 35 mil bilhetes, ou 24% dos interessados. No site das companhias aéreas, este percentual fica entre 1% e 3%, ou seja, o número de reservas confirmadas no Voa Brasil tem um percentual muito superior”, pontua. Voa Brasil: como se cadastrarO aposentado do INSS interessado em participar do Voa Brasil deve acessar o programa pelo site www.gov.br/voabrasil e escolher data, origem e destino. Vale lembrar que passagens de até R$ 200 serão oferecidas a quem não tenha viajado de avião nos últimos 12 meses. Cada aposentado só pode adquirir até dois trechos por ano. Para a segunda fase do Voa Brasil, o Ministério de Portos e Aeroportos, em parceria com o Ministério da Educação (MEC), vai utilizar a base de dados do ProUni, Fies e Sisu para relacionar os estudantes que poderão participar do programa. Lista: confira a lista das cidades contempladas pelo Voa Brasil nos últimos 8 meses (Fonte: MPOR)
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Correios lançam marketplace e impulsionam mercado de e-commerce no BrasilBrasil61Os Correios avançaram mais uma etapa no projeto de inovação e modernização da empresa. A estatal anunciou o lançamento do “Mais Correios”, uma nova plataforma digital que irá impulsionar o comércio eletrônico no Brasil. A responsável pelo projeto será a empresa Infracommerce e a previsão é de que o serviço entre em operação ainda no primeiro semestre deste ano. O site, maiscorreios.com.br, já pode ser acessado e neste primeiro momento é possível fazer cadastro para receber benefícios e novidades .Os Correios avançaram mais uma etapa no projeto de inovação e modernização da empresa. A estatal anunciou o lançamento do “Mais Correios”, uma nova plataforma digital que irá impulsionar o comércio eletrônico no Brasil. A responsável pelo projeto será a empresa Infracommerce e a previsão é de que o serviço entre em operação ainda no primeiro semestre deste ano. O site maiscorreios.com.br já pode ser acessado e neste primeiro momento é possível fazer cadastro para receber benefícios e novidades. Representando o ministro das Comunicações, Juscelino Filho, na solenidade de lançamento da plataforma, a secretária-executiva, Sônia Faustino, destacou o trabalho que tem sido feito nesta gestão para reconstruir as estatais. "E os Correios estão no centro desse esforço. Sob a liderança do ministro Juscelino Filho, o Ministério das Comunicações tem trabalhado para resgatar o protagonismo da empresa. É um trabalho sério, cuidadoso, que envolve modernização, investimento e, sobretudo, compromisso com o povo. E o lançamento do Mais Correios é a parte desse novo tempo. Essa plataforma representa o futuro dos Correios, em que a tecnologia serve à inclusão, ao desenvolvimento e à justiça social." A plataforma digital integra o projeto Correios do Futuro, estratégia de inovação para diversificar as atividades da empresa e gerar novas receitas. De acordo com o presidente dos Correios, Fabiano Silva, explica os diferenciais do “Mais Correios” e como a iniciativa pode democratizar o acesso ao empreendedorismo no Brasil. "O que torna nossa plataforma única são os diferenciais que conseguimos reunir, a estrutura logística própria, milhares de agências espalhadas pelo país, frete competitivo e múltiplas opções de entrega, incluindo novos canais dos Correios. Por meio do Mais Correios, temos a chance de mostrar que, com inovação e espírito colaborativo, podemos democratizar o acesso ao empreendedorismo e ajudar a transformar a economia do nosso país."
Em um primeiro momento, o foco do Mais Correios será as grandes empresas para permitir uma expansão da atuação delas em todas as cidades brasileiras, graças à capilaridade logística dos Correios.
Na segunda fase, a plataforma vai abrir espaço para pequenos e médios empreendedores de todas as regiões do país, promovendo o desenvolvimento econômico local, inclusão digital e competitividade. | A A |
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A A | Setor público consolidado registra déficit de 0,4% do PIB em 2024, revela Banco CentralMarquezan AraújoO setor público consolidado, que é composto por União, estados, municípios e empresas estatais – registrou um déficit primário de R$ 47,6 bilhões, em 2024. O valor corresponde a 0,4% do Produto Interno Bruto (PIB). Os dados foram divulgados pelo Banco Central. O setor público consolidado, que é composto por União, estados, municípios e empresas estatais – registrou um déficit primário de R$ 47,6 bilhões, em 2024. O valor corresponde a 0,4% do Produto Interno Bruto (PIB). Os dados foram divulgados pelo Banco Central. De acordo com a instituição financeira, em 2023 o déficit registrado foi de R$ 249,1 bilhões, ou seja, 2,28% do PIB. No mês de dezembro do ano passado, o setor público contou com um superávit primário de R$ 15,7 bilhões no setor público consolidado. Já no mesmo mês de 2023, houve déficit de R$ 129,6 bilhões. Ainda de acordo com o órgão, no ano passado, os juros nominais do setor público consolidado, apropriados pelo critério de competência, chegaram a R$ 950,4 bilhões, o equivalente a 8,05% do PIB. A Dívida Líquida do Setor Público, por sua vez, ficou em R$ 7,2 trilhões em 2024. A quantia corresponde a 61,1% do PIB. No que diz respeito à Dívida Bruta do Governo Geral – que compreende o governo federal, o INSS e os governos estaduais e municipais – o resultado foi de 76,1% do PIB, ficando em R$ 9 trilhões no ano passado. | A A |
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A A | Cenário Econômico de Fim de Ano: Estresse nos Ativos e Oportunidades em Meio à TurbulênciaResumo do Fechamento de Mercado – 30/12/2024 Hoje foi divulgado o relatório Focus, que apresenta as seguintes expectativas para 2025:
Embora o relatório Focus seja útil para entender as expectativas do mercado, é notório que o que está previsto raramente se concretiza no final do ano. Para 2025, o cenário projetado é preocupante, com a inflação podendo variar entre 4,5% e 5,5%. A pressão inflacionária é alimentada por fatores como:
Os efeitos da Selic elevada (15%) devem começar a se manifestar em breve, desacelerando a economia. A expectativa do mercado é de desaceleração no crescimento a médio prazo. Estresse no Mercado de JurosOs juros longos estão extremamente pressionados. A curva de juros reflete um rendimento nominal médio de 15% ao ano para os próximos 10 anos. Para ilustrar:
Câmbio e IntervençõesO câmbio permanece em níveis elevados, próximo a R$6,20. Hoje, o Banco Central realizou mais de US$1 bilhão em intervenções, somando US$32 bilhões em injeções recentes (entre leilões de linha e à vista), o que reflete o estresse no mercado cambial. Bolsa de ValoresA bolsa brasileira se aproxima dos 120 mil pontos, em um cenário de crescimento econômico e boas notícias no mercado de trabalho, mas ainda sob pressão de taxas de juros elevadas. Impacto FiscalO peso dos juros sobre as contas públicas é alarmante:
Esse cenário é mais uma questão do custo da dívida do que do resultado primário em si. OportunidadesApesar do estresse, o cenário atual oferece oportunidades: comprar títulos que pagam em média 15% ao ano nominal durante 10 anos pode ser uma oportunidade única. | A A |
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A A | Na Beira do Abismo: Como Enfrentar o Risco e a IncertezaOn the Edge: The Art of Risking Everything, de Nate Silver, explora o mundo dos tomadores de risco que moldam a vida moderna, desde jogadores de pôquer e apostadores esportivos até capitalistas de risco e entusiastas de criptomoedas. Silver, conhecido por suas habilidades em previsão política e análise estatística, oferece uma visão aprofundada das estratégias e mentalidades daqueles que prosperam em ambientes de alta pressão, destacando como eles navegam na incerteza e utilizam o risco a seu favor. Principais Ideias do Livro 1. Pensamento Probabilístico e Tomada de Decisão Silver enfatiza a importância de adotar um pensamento probabilístico ao enfrentar decisões incertas. Ele argumenta que indivíduos bem-sucedidos, como jogadores de pôquer profissionais, abraçam a incerteza e adaptam suas estratégias com base em informações em constante mudança. Essa abordagem permite uma melhor gestão de riscos e a capacidade de capitalizar oportunidades quando elas surgem. 2. A Comunidade “The River” vs. “The Village” No livro, Silver introduz a metáfora de duas comunidades: “The River” e “The Village”. “The River” representa indivíduos que prosperam em ambientes de alto risco, como jogadores de pôquer, investidores de capital de risco e inovadores tecnológicos. Eles são caracterizados por serem analíticos, competitivos, independentes e tolerantes ao risco. Em contraste, “The Village” inclui aqueles que trabalham em governo, mídia e partes da academia, com uma abordagem mais cautelosa e avessa ao risco. Silver explora a tensão entre essas duas mentalidades e como elas influenciam a sociedade contemporânea. 3. Aplicação de Teoria dos Jogos e Estratégia A obra explora como a teoria dos jogos e estratégias derivadas de análises estatísticas são aplicadas em diversos campos, desde mesas de pôquer até salas de reuniões no Vale do Silício. Silver discute como a compreensão dessas teorias permite que indivíduos tomem decisões mais informadas e eficazes em situações de risco elevado. 4. Risco Calculado vs. Aversão ao Risco Silver argumenta que a sociedade, em geral, tende a ser excessivamente avessa ao risco, o que pode limitar o potencial de inovação e crescimento. Ele sugere que aqueles que conseguem equilibrar a aversão natural ao risco com a disposição de assumir riscos calculados frequentemente colhem benefícios significativos em suas vidas pessoais e profissionais. 5. Implicações Éticas do Risco em Tecnologias Emergentes O autor também aborda as implicações éticas associadas à tomada de riscos em setores como inteligência artificial e criptomoedas. Ele discute como a busca por inovação deve ser equilibrada com considerações éticas para evitar consequências negativas de longo prazo. Reflexões Finais On the Edge oferece uma análise perspicaz de como indivíduos em diversos setores abordam o risco e a incerteza. Silver destaca a importância de adotar uma mentalidade analítica e probabilística para navegar em um mundo cada vez mais complexo e imprevisível. Ao explorar as estratégias dos que prosperam em ambientes de alto risco, o livro fornece lições valiosas para quem busca entender e aplicar princípios de gestão de risco em suas próprias vidas. | A A |
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A A | Boeing: A Trajetória da Gigante da Aviação MundialA Boeing é uma das maiores e mais emblemáticas fabricantes de aeronaves do mundo. Fundada em 15 de julho de 1916 por William E. Boeing em Seattle, Washington, a empresa começou sua trajetória como Pacific Aero Products Co., mudando para Boeing Airplane Company em 1917. Primeiros Anos (1916-1930) William Boeing, com experiência na indústria de madeira, aproveitou seu conhecimento em materiais leves e resistentes para construir aeronaves. O primeiro modelo da Boeing, o B&W Seaplane, foi um hidroavião projetado para treinamento. Durante a Primeira Guerra Mundial, a Boeing começou a se estabelecer como uma fornecedora confiável para o governo dos Estados Unidos, especialmente com o modelo Boeing Model C. Nos anos 1920, a Boeing expandiu suas operações, entrando também no setor de transporte aéreo comercial. Nesse período, adquiriu empresas de transporte aéreo e fundou a United Aircraft and Transport Corporation, que mais tarde seria desmembrada por questões regulatórias. Expansão e Consolidação (1930-1950) Durante a Segunda Guerra Mundial, a Boeing produziu algumas das aeronaves mais icônicas do conflito, como o bombardeiro B-17 Flying Fortress e o B-29 Superfortress, que desempenharam papéis cruciais nas campanhas aliadas. Após a guerra, a Boeing voltou seu foco para a aviação comercial, introduzindo o modelo 707 em 1958, o primeiro avião comercial a jato produzido em larga escala, revolucionando o transporte aéreo global. Era dos Jatos e Avanços Tecnológicos (1960-1990) A década de 1960 marcou a ascensão da Boeing como líder na aviação comercial com o lançamento do Boeing 747, o “Jumbo Jet”, que se tornou um dos aviões mais bem-sucedidos e reconhecíveis da história. Esse modelo dominou o mercado de voos de longa distância e estabeleceu a Boeing como líder no setor. Além da aviação comercial, a Boeing expandiu-se para áreas como defesa e exploração espacial, sendo um dos principais fornecedores da NASA. A empresa contribuiu para o programa Apollo, construindo componentes essenciais para os foguetes Saturno V. Globalização e Rivalidade (1990-2000) A Boeing enfrentou crescente competição da europeia Airbus durante as décadas de 1990 e 2000. Para se fortalecer, adquiriu a McDonnell Douglas em 1997, consolidando sua posição no mercado aeroespacial e militar. Nesse período, a Boeing mudou sua sede de Seattle para Chicago em 2001, buscando uma maior proximidade com o mercado global e seus principais stakeholders. Desafios Recentes (2000-presente) Nas últimas décadas, a Boeing enfrentou desafios significativos. A crise causada pela suspensão dos voos dos modelos 737 MAX após dois acidentes fatais em 2018 e 2019 abalou a reputação da empresa. Apesar disso, a Boeing continuou a investir em inovação e segurança. Além disso, a pandemia de COVID-19 impactou severamente a indústria da aviação, obrigando a Boeing a reestruturar suas operações e reavaliar suas estratégias de longo prazo. Legado Hoje, a Boeing é uma gigante da indústria aeroespacial, com operações que vão desde aviões comerciais e defesa até satélites e serviços espaciais. Sua história é marcada por inovações tecnológicas e contribuições significativas para a aviação mundial, fazendo dela uma empresa central no avanço da mobilidade global. A Boeing é uma das maiores fabricantes de aeronaves do mundo, com uma produção significativa e uma força de trabalho substancial. Produção Anual de Aeronaves: Em 2023, a Boeing entregou 528 aviões comerciais, registrando 1.576 pedidos no mesmo período. Número de Funcionários: Em 2024, a Boeing anunciou planos para reduzir cerca de 10% de sua força de trabalho, o que representa aproximadamente 17 mil funcionários, em meio a contínuas perdas financeiras e à paralisação causada por uma greve que afetou a produção de seus aviões mais vendidos. Valor de Mercado: Em janeiro de 2024, após um incidente envolvendo uma aeronave, o valor de mercado da Boeing caiu para aproximadamente US$ 138,54 bilhões. A Boeing continua sendo um ator-chave na indústria aeroespacial global, enfrentando desafios e buscando inovações para manter sua posição de destaque no mercado. | A A |
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A A | Brasil em 2025: mais juros, mais inflação e menos crescimentoEm 2024 a inflação medida pelo ipca deverá fechar em 4,9% e para 2025, o IPCA projetado pelo Focus é de 4,8%; muito acima da meta contínua de inflação de 3% para o segundo trimestre de 2026. A expectativa hoje é de que a taxa Selic suba rapidamente e permaneça elevada em torno de 15% em 2025, impactando o crescimento econômico, estimado em cerca de 2% para 2025 e 2026. É impossível prever hoje com alguma certeza quanto será a inflação e o crescimento nos próximos anos, mas é certo que a taxa de câmbio acima de R$6 terá consequências relevantes para a trajetória de preços em reais nos próximos meses. Uma questão central no debate econômico atual é a comparação da situação presente com a crise brasileira de 2015. Entre 2014 e 2015, o Brasil apresentou um resultado de balança comercial próximo de zero. Atualmente, a balança comercial brasileira gira em torno de US$ 80 bilhões em 12 meses, um resultado muito mais robusto. Um fator relevante aqui é o crescimento da conta petróleo, que se tornou o principal produto de exportação do Brasil, superando soja e minério de ferro. No entanto, o déficit externo em serviços também é significativo, o que nos leva a um déficit em conta corrente de quase 3% do PIB em 2024. O investimento direto estrangeiro se mantém forte, próximo a u$70 bilhões em 12 meses, mas há uma saída de capitais muito forte pela conta financeira. Há também ainda um expansão relevante do crédito no país de 10% em 2024, diferentemente da forte contração observada durante a crise de 2015. A maior diferença entre o presente e a crise de 2015 está no crescimento econômico. Atualmente, o Brasil cresce a uma taxa de 3,5%, enquanto em 2014 o crescimento era próximo de zero. Esse dinamismo atual aparece no crescimento das importações (17% ao ano) e dos investimentos (10% ao ano). Na época da crise de 2015 tanto o crescimento quanto investimentos estavam estagnados. A taxa de desemprego se assemelha nos dois períodos, girando em torno de 6%. Por outro lado em 2014, a inflação estava em 6,5%, com aceleração para 10% em 2015, acompanhada de uma forte desvalorização cambial. Entre 2014 e 2015, o câmbio sofreu uma desvalorização drástica, passando de R$ 2,40 para R$ 4,00. Atualmente, a desvalorização cambial ainda que forte é menos acentuada, o que contribui para um IPCA menos pressionado. Em 2015 essa brutal desvalorização do real ajudou a levar o IPCA para 10% no ano. A relação do Executivo com o Congresso é hoje melhor do que em 2014, marcado por um ambiente político conturbado e pautas-bomba que dificultaram a governabilidade. O impulso fiscal continuará positivo em 2025, com expectativas de ajustes nos próximos meses mas sem a magnitude do programa Levy, que implementou um ajuste fiscal drástico, resultando em contração de investimentos e gastos públicos em 2015. Naquela época a dívida bruta estava em 60% do PIB; agora já se aproxima de 80% e a conta de juros dos próximos 12 meses deverá superar a marca de R$1 trilhão, um valor brutalmente maior do que o déficit primário de R$50 bilhões dos últimos 12 meses. Essa dinâmica de endividamento e de déficits nominais elevados está na raiz do estresse financeiro do momento. Não será fácil desarmar essa bomba de gastos com juros nos próximos meses. Embora não se vislumbre uma crise de grandes proporções no horizonte, 2025 será certamente um ano mais desafiador, com inflação pressionada, Selic elevada e desaceleração do crédito. No entanto, é sempre bom lembrar que as previsões econômicas estão sujeitas a muitos erros, como demonstrado novamente pela diferença entre as expectativas iniciais e os resultados finais de 2024. O que vai acontecer de fato em 2025 ninguém sabe. ![]() | A A |
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A A | A Beleza da Física: Explorando o Universo de forma Poética“Physics for Poets” de Robert March é um livro que busca tornar conceitos de física acessíveis para pessoas sem formação científica, especialmente para aqueles que têm maior afinidade com as humanidades, como literatura, artes ou filosofia. O livro foi escrito para apresentar os princípios fundamentais da física de forma clara e envolvente, destacando o impacto histórico, filosófico e cultural das descobertas científicas. Ideias Principais de Physics for Poets:
Público-Alvo:O livro é ideal para:
Impacto e Relevância:“Physics for Poets” destaca que a física não é apenas sobre números e experimentos, mas sobre a busca humana por significado no universo. Ele inspira os leitores a ver a ciência como parte integrante da cultura e a apreciar sua beleza e complexidade sem precisar de um diploma em física. Ao apresentar a física de forma narrativa e conectá-la a outras disciplinas, o livro promove uma visão holística do conhecimento, onde ciência e arte coexistem para enriquecer nossa compreensão do mundo. | A A |
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A A | A miséria da Economia, entre mitos e preguiçaEm meio a uma crise civilizatória aguda, uma disciplina crucial para buscar saídas rende-se a velhas fórmulas, à consagração de “saberes” fossilizados, aos encantos do poder e à arrogância diante de novas teorias. Haverá meios de salvá-la? Por Jayathi Ghosh | Tradução: Antonio Martins A necessidade de mudança drástica na disciplina econômica nunca foi tão urgente. A humanidade enfrenta crises existenciais, com a saúde planetária e os desafios ambientais se tornando grandes preocupações. A economia global já estava mancando e frágil antes da pandemia. A recuperação subsequente expôs as desigualdades profundas e agravadas, não apenas em renda e riqueza, mas também no acesso às necessidades humanas básicas. As tensões sociopolíticas resultantes e conflitos geopolíticos estão criando sociedades que em breve podem ser disfuncionais a ponto de não serem mais vivíveis. Tudo isso requer estratégias econômicas transformadoras. No entanto, a corrente principal da disciplina persiste em fazer negócios, como de costume, como se mexer nas margens, com pequenas mudanças, pudesse ter algum impacto significativo. Há um problema de longa data. Muito do que é apresentado como sabedoria econômica sobre como as economias funcionam e as implicações das políticas é, na melhor das hipóteses, enganoso e, na pior hipótese, simplesmente errado. Por décadas, um lobby poderoso dentro da disciplina vendeu meias-verdades e até falsidades em muitas questões críticas. Por exemplo, como os mercados financeiros funcionam e se eles podem ser “eficientes” sem regulamentação; as implicações macroeconômicas e distributivas das políticas fiscais; o impacto do mercado de trabalho e a desregulamentação salarial no emprego e no desemprego; como os padrões de comércio e investimento internacionais afetam os meios de subsistência e a possibilidade de diversificação econômica; como o investimento privado responde a incentivos políticos, incentivos e subsídios fiscais e déficits fiscais; como o investimento multinacional e as cadeias de valor globais afetam produtores e consumidores; os danos ecológicos decorrentes de padrões de produção e consumo; se os direitos de propriedade intelectual mais rígidos são realmente necessários para promover a invenção e a inovação; e assim por diante. Por que isso acontece? O pecado original pode ser a exclusão do conceito de poder do discurso – o que efetivamente reforça as estruturas e desequilíbrios de poder existentes. As condições subjacentes são varridas ou encobertas. Entre elas, estão o maior poder de capital em comparação com os trabalhadores; a exploração insustentável da natureza; o tratamento diferencial dos trabalhadores por meio da segmentação do mercado de trabalho social; o abuso privado de poder de mercado e da busca de rentas; o uso do poder político para impulsionar os interesses econômicos privados no interior das nações e entre elas; e os impactos distributivos das políticas fiscais e monetárias. As preocupações profundas e contínuas com a insuficiência do PIB como uma medida de progresso são ignoradas. Mesmo com todas as suas muitas falhas conceituais e metodológicas, continua sendo usado como o indicador básico, apenas porque está lá. Verdades inconvenientesExiste uma tendência relacionada a subestimar o significado crucial das suposições na construção dos resultados analíticos e na apresentação desses resultados em discussões de políticas. A maioria dos economistas teóricos convencionais argumentará que se afastaram das suposições neoclássicas iniciais, como concorrência perfeita, retornos constantes à escala e emprego pleno, que não têm relação com o funcionamento econômico real em qualquer lugar. Mas essas suposições ainda persistem nos modelos que sustentam explícita ou implicitamente muitas prescrições de políticas (inclusive sobre políticas comerciais e industriais ou estratégias de “redução da pobreza”), particularmente para o mundo em desenvolvimento. As estruturas de poder dentro da profissão reforçam o mainstream de diferentes maneiras, inclusive através da tirania das chamadas “publicações principais” e do emprego acadêmico e profissional. Tais pressões e incentivos desviam muitas das mentes mais brilhantes, que deixam de se dedicar a um estudo genuíno da economia (para tentar entender seu funcionamento e as implicações para as pessoas) e dedicam-se ao que só pode ser chamado de “atividades triviais”. Muitas publicações acadêmicas destacadas publicam contribuições esotéricas que agregam valor apenas flexibilizando uma pequena suposição em um modelo, ou usando um teste econométrico ligeiramente diferente. Os elementos que são mais difíceis de modelar, ou que podem gerar verdades inconvenientes, são simplesmente excluídos, mesmo que contribuam para uma melhor compreensão da realidade econômica. Restrições ou resultados fundamentais são apresentados como “externalidades”, e não como condições a serem abordadas. Economistas que conversam principalmente um com o outro, depois simplesmente proselitizam suas descobertas aos formuladores de políticas, raramente são forçados a questionar essa abordagem. Como resultado as forças econômicas (que são necessariamente complexas – devido ao impacto de muitas variáveis diferentes – e refletem os efeitos da história, da sociedade e da política) não são estudadas à luz dessa complexidade. Em vez disso, são espremidas em modelos matematicamente tratáveis, mesmo que isso remova qualquer semelhança com a realidade econômica. Para ser justa, alguns economistas convencionais muito bem sucedidos criticaram essa tendência – mas com pouco efeito até agora nos guardiões da ortodoxia da profissão. Hierarquia e discriminaçãoA aplicação de hierarquias estritas de poder dentro da disciplina suprimiu o surgimento e a disseminação de teorias, explicações e análises alternativas. Isso se combina com as outras formas de discriminação (por gênero, raça/etnia, localização) para excluir ou marginalizar perspectivas alternativas. O impacto da localização é enorme: a disciplina convencional é completamente dominada pelo Atlântico Norte – especificamente os EUA e a Europa – em termos de prestígio, influência e capacidade de determinar o conteúdo e a direção da disciplina. O enorme conhecimento, os insights e contribuições para a análise econômica feitos por economistas localizados nos países onde vive a maior parte da população do planeta são amplamente ignorados, devido à suposição implícita de que o conhecimento “real” se origina no Norte e é disseminado para fora. A arrogância em relação a outras disciplinas é uma grande desvantagem, expressa, por exemplo, pela falta de um forte senso de história, que deve permear todas as análises sociais e econômicas atuais. Recentemente, tornou -se elegante para os economistas se envolverem em psicologia, com o surgimento da economia comportamental e “cutucadas” para induzir certos comportamentos. Mas isso também é frequentemente apresentado sem reconhecer contextos sociais e políticos variados. Por exemplo, os testes randomizados de visão focada [worm’s eye tests], que se tornaram tão populares na economia do desenvolvimento estão associados a uma mudança que abandonou o estudo de processos evolutivos e tendências macroeconômicas, para se concentrar nas tendências microeconômicas que efetivamente apagam os contextos que moldam o comportamento e as respostas econômicas. A base subjacente e profundamente problemática do individualismo metodológico persiste, principalmente porque poucos economistas contemporâneos ousam fazer uma avaliação filosófica de sua própria abordagem e trabalho. Essas falhas empobreceram muito a economia e, sem surpresa, reduziram sua credibilidade e legitimidade entre o público em geral. A disciplina convencional precisa muito de maior humildade, um melhor senso de história e reconhecimento do poder desigual e incentivo ativo à diversidade. Claramente, muito precisa mudar para que a economia seja realmente relevante e útil o suficiente para enfrentar os principais desafios de nossos tempos. | A A |
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A Década Perdida: Como a Hiperinflação dos Anos 80 Mudou o DNA do BrasilVocê já acordou um dia e descobriu que seu salário vale metade do que valia ontem? Parece ficção, mas era a realidade dos brasileiros nos anos 80. Imagine ir ao supermercado de manhã e voltar à tarde para encontrar preços diferentes. Imagine guardar dinheiro no banco e ver ele derreter como sorvete no sol. Imagine planejar qualquer coisa além do próximo minuto. Esta era a realidade da hiperinflação brasileira - um pesadelo econômico que mudou para sempre nossa forma de pensar. E o pior: criou traumas tão profundos que até hoje limitam nosso desenvolvimento. Vamos entender como uma década pode mudar o destino de um país inteiro. O Trauma que Virou PolíticaA hiperinflação dos anos 80 não foi apenas uma crise econômica - foi um trauma nacional que transformou o Brasil de um país que sonhava com o desenvolvimento em um que só pensa em estabilidade. Como uma Década Mudou TudoO impacto da década perdida foi muito além dos números assustadores: A Dimensão do Pesadelo
A Morte do Futuro
O Legado Tóxico
As Cicatrizes Invisíveis do DinheiroInflação não traz só tristeza - traz paralisia nacional A hiperinflação dos anos 80 não foi apenas uma crise econômica - foi uma reprogramação forçada do DNA brasileiro. Transformou um país que pensava em crescer em um que só pensa em não quebrar. O mais impressionante? Mesmo depois de 30 anos com inflação controlada, ainda agimos como sobreviventes de um trauma. Cada discussão sobre desenvolvimento esbarra no medo fantasma da inflação. É hora de curar esse trauma. Porque um país que só pensa em não perder, esquece como é ganhar. Abraços, Paulo Gala | A A |
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A A | Indústria Química Brasileira: 10 Produtos que Movem o País e Transformam VidasA indústria química brasileira é diversificada e fundamental para diversas cadeias produtivas. Aqui está uma lista com 10 produtos que representam sua importância estratégica para a economia nacional e sua conexão com o cotidiano: 1. Polietileno e Polipropileno (Plásticos) • Utilizados na produção de embalagens, brinquedos, peças automotivas e diversos bens de consumo. São essenciais para a indústria de transformação. 2. Fertilizantes (NPK – Nitrogênio, Fósforo e Potássio) • Vital para o agronegócio brasileiro, que é um dos pilares da economia. A dependência de importações torna o desenvolvimento local estratégico. 3. Cloro e Soda Cáustica • Fundamentais para a produção de produtos de limpeza, papel, celulose, e até no tratamento de água, garantindo saúde e infraestrutura. 4. Resinas Termoplásticas • Base para materiais utilizados na construção civil, setor automotivo e em bens duráveis, mostrando a versatilidade da indústria química. 5. Poliéster e Nylon (Fibras Sintéticas) • Amplamente utilizados na indústria têxtil, representando um elo entre a química e a moda. 6. Querosene de Aviação (QAV) • Produto de alta relevância para a aviação comercial e agrícola, reforçando a dependência estratégica de derivados químicos no transporte. 7. Produtos Farmoquímicos e Medicamentos • Substâncias básicas para medicamentos e vacinas, essenciais para a saúde pública e a indústria farmacêutica nacional. 8. Adesivos e Selantes Industriais • Aplicados na indústria automobilística, construção civil e produtos eletrônicos, destacando-se como itens de alto valor agregado. 9. Tensoativos (Base para Detergentes e Cosméticos) • Utilizados em sabões, shampoos, cremes e produtos de beleza, conectando a química com o cotidiano e o mercado de bens de consumo. 10. Pesticidas e Herbicidas • Essenciais para o manejo agrícola, são cruciais para manter a competitividade do setor agrícola brasileiro em mercados globais. Esses produtos são “bandeiras” da indústria química, pois estão presentes em setores estratégicos como saúde, agronegócio, construção, energia, e bens de consumo. A divulgação do impacto econômico e social dessa indústria pode ajudar a aumentar sua valorização pelo público e pelas políticas públicas. | A A |
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A A | Sem Metanol, Não Há Biodiesel: e o Brasil pode produzir Metanol verdeA produção de biodiesel, um biocombustível sustentável e uma alternativa ao diesel fóssil, depende diretamente de um insumo fundamental: o metanol. A frase “sem metanol, não há biodiesel” reflete a importância desse composto químico no processo produtivo do biodiesel, mais especificamente na etapa de transesterificação. 1. O Papel do Metanol na Produção de BiodieselO biodiesel é obtido a partir de óleos vegetais (como soja, palma ou canola) ou gorduras animais, que passam por um processo químico chamado transesterificação. Nesta etapa, o metanol atua como reagente principal, reagindo com os triglicerídeos presentes nos óleos ou gorduras. O processo pode ser resumido assim:
Sem metanol, essa reação não ocorre, inviabilizando a produção de biodiesel. 2. Por Que o Metanol é Essencial?
Embora outros álcoois, como o etanol, possam ser usados, o metanol se destaca por sua eficiência, menor custo e facilidade de manuseio. 3. Metanol: Produção e DesafiosO metanol é, em grande parte, produzido a partir do gás natural, sendo uma matéria-prima amplamente utilizada em várias indústrias. No entanto, sua dependência de combustíveis fósseis para produção gera um paradoxo: o biodiesel é sustentável, mas o metanol usado em sua produção não necessariamente o é. Alternativa Sustentável: Metanol Verde
4. Biodiesel e sua ImportânciaO biodiesel é uma solução essencial para a redução de emissões de gases de efeito estufa, substituindo parcialmente o diesel fóssil. Ele é amplamente utilizado no Brasil devido à sua capacidade de ser misturado ao diesel (como na mistura obrigatória do B12, com 12% de biodiesel no diesel comum). Sem metanol, a produção de biodiesel é inviabilizada, o que impacta diretamente:
5. ConclusãoA frase “sem metanol, não há biodiesel” resume uma verdade técnica e econômica: o metanol é indispensável para o processo de transesterificação que gera o biodiesel. Embora exista uma dependência atual do metanol derivado do gás natural, o desenvolvimento e uso do metanol verde representam uma oportunidade para tornar a produção de biodiesel ainda mais limpa e sustentável. A transição para alternativas renováveis é um passo crucial para consolidar o biodiesel como uma solução verdadeiramente ecológica e viável no longo prazo. A Capacidade do Brasil de Produzir Metanol VerdeO metanol verde, uma versão sustentável do metanol convencional, é produzido a partir de fontes renováveis, como biomassa, resíduos agrícolas ou hidrogênio verde combinado com dióxido de carbono (CO₂) capturado. O Brasil, com sua vasta disponibilidade de recursos naturais, posição de liderança em energias renováveis e experiência no setor agroindustrial, tem grande potencial para se tornar um produtor global de metanol verde. 1. O Que é o Metanol Verde?
A produção de metanol verde reduz drasticamente as emissões de carbono, alinhando-se aos objetivos de descarbonização da economia global. 2. Potencial do Brasil para Produzir Metanol VerdeO Brasil tem condições extremamente favoráveis para liderar a produção de metanol verde devido aos seguintes fatores: 2.1. Disponibilidade de BiomassaO Brasil é um dos maiores produtores agrícolas e de biomassa do mundo, gerando grandes volumes de resíduos que podem ser convertidos em metanol verde:
2.2. Energia Renovável AbundanteO Brasil é líder global em energia limpa:
2.3. Experiência no Setor de BiocombustíveisO Brasil é pioneiro mundial no uso de biocombustíveis, com destaque para:
2.4. Captura de CO₂Com a crescente implementação de tecnologias de captura de carbono em processos industriais (como usinas de etanol e siderúrgicas), o Brasil pode utilizar CO₂ capturado para combinar com hidrogênio verde e produzir metanol verde. 3. Desafios para Produção de Metanol Verde no BrasilApesar do grande potencial, o Brasil enfrenta desafios que precisam ser superados para viabilizar a produção em larga escala:
4. Benefícios da Produção de Metanol VerdeA produção de metanol verde no Brasil traria uma série de benefícios econômicos, ambientais e estratégicos:
5. ConclusãoO Brasil tem capacidade técnica, recursos naturais e um histórico de sucesso em energias renováveis para se tornar um líder mundial na produção de metanol verde. O aproveitamento de biomassa, a abundância de energia limpa e a crescente necessidade de descarbonização posicionam o país de maneira estratégica nesse mercado emergente. Com os investimentos e políticas públicas adequados, o Brasil pode consolidar sua liderança no fornecimento de combustíveis sustentáveis, fortalecendo sua economia e seu papel na transição energética global. | A A |
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A A | Estresse Cambial e Choque de Juros: O Papel do Banco Central em Meio ao Risco de Crise EconômicaO real está batendo entre R$ 6,00 e R$ 6,20, e estamos vivenciando a maior intervenção do Banco Central (BC) desde 2021. Até o momento, foram injetados US$ 10,745 bilhões no mercado: US$ 7 bilhões em leilões de linha com recompra e US$ 3,745 bilhões em leilões à vista no mercado spot. Essa intervenção ocorre devido à forte demanda de fim de ano para remessas de dólar ao exterior e ao cenário de estresse. Em 2024, o dólar acumula uma alta de quase 27%, o que representa uma desvalorização significativa do real. O juro longo explodiu para 15%. O BC anunciou um ciclo de aumento de juros, com a SELIC projetada para 14,25% na reunião de março, com aumentos de 100 pontos-base em janeiro e 100 pontos-base em março, antecipando todo o ciclo (frontload). Em um cenário otimista, a SELIC pode atingir 15%, com eventuais ajustes finais menores, como 0,50 p.p. ou 0,25 p.p. Isso colocará o juro real em 10%, o dobro do juro real neutro estimado pelo próprio BC, que é 5%. A inflação deste ano deve fechar em 5% (IPCA), mas já se considera que esse número pode ser positivo. Para 2025, se a inflação também ficar em 5%, será um cenário aceitável, considerando os desafios. A SELIC a 15% com um juro real de 10% gera um forte estresse financeiro, mas ainda não configura uma crise econômica real. Os dados da economia continuam robustos: o investimento cresce a 10% ao ano, o desemprego está na mínima histórica em 6%, e o crescimento do PIB é de 3,5%. Trata-se da maior expansão econômica e industrial da década, exceto durante a pandemia. Entretanto, se o estresse financeiro persistir, ele poderá se transformar em crise econômica. Para 2025, já se espera uma desaceleração do crescimento para 2%, com riscos de recessão caso o cenário fiscal não avance. O câmbio estava em R$ 5,50 há um mês, e ajustes fiscais mínimos, como moralização de políticas sociais e controle do crescimento do salário mínimo para 2,5% ao ano em termos reais, seriam suficientes para estabilizar a situação. Contudo, tais medidas não foram implementadas, e o peso recaiu integralmente sobre o BC, que respondeu com um choque de juros. O déficit primário deste ano deve ficar em torno de R$ 30 a 40 bilhões, um valor pequeno em comparação aos R$ 800 bilhões da pandemia. O problema central é a conta de juros, que pode alcançar R$ 1 trilhão ao ano, o equivalente a 10% do PIB. Essa dinâmica da dívida pública é preocupante, e investidores exigirão prêmios mais altos para financiá-la. Sem ajuste fiscal, as soluções passam por mais inflação, cortes de gastos ou aumento de tributação. O impulso fiscal dos últimos anos, na ordem de centenas de bilhões de reais, foi sustentado pelo aumento da arrecadação. Esse estímulo foi benéfico para reduzir o desemprego de 15% para 6% e impulsionar a economia. No entanto, manter um impulso fiscal com a economia já aquecida, câmbio em R$ 6,00 e inflação de serviços em 5% gera riscos claros de inflação elevada. Se o câmbio continuar se desvalorizando, a inflação pode facilmente acelerar para 6%, 7% ou até 10%. Em resumo, o cenário atual é de estresse financeiro significativo, que poderia ser mitigado com ajustes fiscais moderados. Caso contrário, o estresse financeiro prolongado pode se converter em uma crise econômica, colocando em risco o ciclo de crescimento brasileiro. | A A |
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As Duas Faces do Brasil: Como Nosso País Dividiu-se Entre Nacional e DependenteOlá! Você já se perguntou por que alguns países conseguem desenvolver empresas globais enquanto outros dependem de multinacionais? A resposta está em uma escolha histórica que mudou o rumo do Brasil. Imagine um país que começa construindo suas próprias empresas, desenvolvendo tecnologia nacional e fortalecendo seu mercado interno. Agora, imagine que esse mesmo país decide mudar completamente de direção, apostando tudo em capital estrangeiro. Esta mudança radical aconteceu no Brasil, quando abandonamos o desenvolvimentismo nacionalista pelo dependente. E as consequências dessa escolha moldam nossa economia até hoje. Vamos entender como uma única decisão pode mudar o destino de uma nação. Quando o Brasil Decidiu Não Ser BrasilEra uma vez um país que acreditava em si mesmo. Sob Getúlio Vargas, criamos a CSN, a Vale do Rio Doce e a Petrobras. Então, algo mudou. Decidimos que era melhor depender dos outros do que confiar em nós mesmos. A Grande Virada: Do Nacional ao DependenteNossa história de desenvolvimento tem duas faces bem distintas, cada uma com suas consequências: O Brasil Nacionalista (Era Vargas)
O Brasil Dependente (JK e Militares)
O Legado dessa Escolha
Entre Dois CaminhosQuem não tem projeto próprio, segue projeto alheio O Brasil não escolheu apenas um modelo econômico - escolheu entre ser protagonista ou coadjuvante de sua própria história. A mudança do desenvolvimentismo nacionalista para o dependente não foi apenas uma decisão econômica, foi uma escolha de identidade. O mais intrigante? Países que mantiveram controle sobre seu desenvolvimento, como Coreia do Sul e China, hoje são potências tecnológicas. Enquanto isso, ainda debatemos se devemos ter projeto próprio ou seguir projetos alheios. Afinal, um país não pode ser verdadeiramente desenvolvido se seu desenvolvimento depende das decisões de outros. | A A |
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A A | ![]() Evolução dos Gastos Primários do Governo Brasileiro: Tendências Recentes e PerspectivasNos últimos anos, os gastos primários do governo brasileiro têm apresentado variações significativas, refletindo tanto as condições econômicas quanto as políticas fiscais adotadas. Período de 2015 a 2019: Entre 2015 e 2019, as despesas primárias mantiveram-se relativamente estáveis, situando-se entre 18% e 19% do PIB. Em 2016, foi instituído o teto de gastos por meio da Emenda Constitucional nº 95, limitando o crescimento das despesas primárias à inflação do ano anterior. Essa medida visava controlar o crescimento das despesas públicas e equilibrar as contas fiscais. Impacto da Pandemia de COVID-19: Em 2020, a pandemia de COVID-19 levou a um aumento expressivo dos gastos públicos, destinados a mitigar os efeitos econômicos e sociais da crise sanitária. As despesas primárias atingiram 26,1% do PIB, o maior patamar desde 1986. Período Pós-Pandemia: Com a redução das medidas emergenciais, as despesas primárias retornaram a níveis próximos aos anteriores à pandemia. Em 2021 e 2022, mantiveram-se em torno de 18,1% do PIB. Ano de 2023: Em 2023, observou-se um aumento das despesas primárias, que alcançaram 19,6% do PIB, representando um crescimento de 1,8 ponto percentual em relação ao ano anterior. Esse incremento deveu-se, principalmente, ao aumento das despesas com previdência, que passaram de 7,9% para 8,3% do PIB, e às despesas de custeio e capital, influenciadas pela expansão do programa Bolsa Família. Perspectivas para 2024: Para 2024, o governo brasileiro anunciou um pacote de medidas fiscais visando à contenção de despesas e ao equilíbrio das contas públicas. Entre as propostas, destacam-se a mudança na regra de reajuste do salário mínimo, limitando o aumento real a 2,5%, e o aperto nos critérios de renda para acesso ao Benefício de Prestação Continuada. Essas medidas têm como objetivo reduzir o crescimento das despesas obrigatórias e aumentar a flexibilidade orçamentária. Em resumo, a evolução dos gastos primários do governo brasileiro nos últimos anos tem sido influenciada por fatores conjunturais, como a pandemia, e por decisões de política fiscal voltadas ao controle das despesas e à sustentabilidade das contas públicas. ![]() ![]() ![]() ![]() | A A |
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A A | Roosevelt: um traídor de sua própria classeO livro Franklin D. Roosevelt: Traitor to His Class, de H.W. Brands, explora a vida e a presidência de Franklin Delano Roosevelt (FDR), destacando sua trajetória como um dos líderes mais influentes e polêmicos dos Estados Unidos. O título remete à percepção de que Roosevelt, vindo de uma rica e aristocrática família do estado de Nova York, “traiu” sua classe ao implementar políticas progressistas que buscavam reduzir as desigualdades sociais e conter os excessos do capitalismo. Principais Ideias do Livro: 1. Ascensão Pessoal e Política de FDR: Brands apresenta a evolução de Roosevelt desde sua educação privilegiada até sua entrada na política. Ele constrói a imagem de um homem que, apesar de pertencer à elite econômica, desenvolveu um compromisso com as classes trabalhadoras e marginalizadas, especialmente após enfrentar adversidades como a poliomielite. 2. O New Deal e o Combate à Grande Depressão: O livro detalha como FDR criou uma série de programas econômicos e sociais, conhecidos como New Deal, para enfrentar os efeitos da Grande Depressão. Essas políticas incluíram a regulação do sistema financeiro, a criação de empregos públicos e o fortalecimento dos direitos trabalhistas. Roosevelt desafiou a ortodoxia econômica de sua época, ganhando o apoio das massas, mas também atraindo críticas ferozes dos setores mais ricos. 3. A Luta Contra as Forças Conservadoras: Brands argumenta que Roosevelt enfrentou oposição significativa de sua própria classe social e do empresariado, que viam suas políticas como uma ameaça à ordem estabelecida. Muitos o acusaram de socialismo ou de destruir os fundamentos do livre mercado. 4. Liderança na Segunda Guerra Mundial: O autor explora como FDR conduziu os EUA durante a Segunda Guerra Mundial, transformando o país em um arsenal da democracia. Sua liderança foi decisiva para a vitória dos Aliados, mas ele também teve que equilibrar suas políticas internas com as demandas de guerra. 5. Legado e Contradições: Brands não ignora as contradições de Roosevelt. Ele mostra como FDR expandiu o papel do governo federal e consolidou o poder presidencial, mas, ao mesmo tempo, deixou de lado questões cruciais, como os direitos civis para os afro-americanos. O livro também destaca como o modelo econômico e político do New Deal moldou os Estados Unidos por décadas, especialmente na criação de uma classe média forte. Traidor ou Salvador? O título do livro encapsula a visão de que Roosevelt, apesar de sua origem aristocrática, se colocou como um defensor do povo comum, redefinindo o papel do governo na economia e na sociedade. Para seus críticos da época, ele era um “traidor” da elite; para seus apoiadores, um salvador em tempos de crise. H.W. Brands pinta um retrato complexo e acessível de FDR, celebrando sua habilidade política, sua visão estratégica e seu compromisso com a justiça social, enquanto reflete sobre as dificuldades que ele enfrentou ao navegar os desafios de seu tempo. | A A |
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A A | Working: Histórias e Desigualdades no Mundo do TrabalhoA série documental “Working: What We Do All Day”, disponível na Netflix, é uma produção de 2023 que explora a relação entre trabalho, propósito e identidade nos Estados Unidos. Apresentada pelo ex-presidente Barack Obama, a série é inspirada no livro clássico “Working” (1974), de Studs Terkel, que analisava como as pessoas vivenciam e descrevem seus empregos em diferentes setores da sociedade. Dividida em quatro episódios, a série adota um tom reflexivo e contemporâneo, destacando como o trabalho molda a vida das pessoas em um momento de profundas mudanças no mercado laboral, incluindo a automação, o impacto da pandemia de COVID-19 e debates sobre equidade econômica. Cada episódio apresenta histórias reais de trabalhadores de diferentes classes sociais e indústrias, desde aqueles em empregos de baixa remuneração até ocupações mais privilegiadas. A narrativa é enriquecida por entrevistas e comentários de Obama, que busca conectar as experiências individuais às questões mais amplas da sociedade, como desigualdade, dignidade no trabalho e realização pessoal. A série não apenas documenta a rotina laboral, mas também questiona o papel do trabalho em oferecer propósito e sustento em uma sociedade em rápida transformação. “Working: What We Do All Day” é um convite à reflexão sobre o valor do trabalho em nossas vidas e como ele define nossas aspirações e nosso lugar no mundo, abordando questões universais que ressoam com um público global. A série “Working: What We Do All Day” da Netflix explora diferentes setores do mercado de trabalho, apresentando histórias de trabalhadores em ocupações variadas, com o objetivo de mostrar como cada uma dessas áreas impacta a vida das pessoas e reflete as desigualdades econômicas e sociais. Aqui estão os principais setores abordados e suas características: 1. Serviços de baixa remuneração • Exemplo de trabalho explorado: Empregados domésticos, atendentes de hospitalidade e trabalhadores da limpeza. • Características: • Empregos marcados por longas jornadas e baixa remuneração. • Pouca estabilidade e benefícios trabalhistas limitados, como seguro-saúde ou licença remunerada. • Os trabalhadores geralmente desempenham tarefas essenciais, mas recebem pouco reconhecimento ou valorização social. • O setor reflete as disparidades econômicas e os desafios da mobilidade social. 2. Serviços corporativos e tecnológicos • Exemplo de trabalho explorado: Profissionais de escritórios, incluindo posições administrativas e cargos em tecnologia. • Características: • Oferece maior estabilidade financeira e benefícios como seguro-saúde, aposentadoria e licenças remuneradas. • Maior flexibilidade no trabalho, incluindo trabalho remoto em alguns casos. • Os trabalhadores geralmente relatam maior satisfação quando encontram propósito no trabalho. • Reflete o papel da educação e das conexões no acesso a oportunidades melhores. 3. Empreendedorismo e inovação • Exemplo de trabalho explorado: Pequenos empresários e empreendedores sociais. • Características: • Envolve altos riscos e, muitas vezes, jornadas de trabalho intensas. • Possui potencial para recompensas significativas, incluindo autonomia financeira e realização pessoal. • Os desafios incluem a dependência de recursos limitados e incertezas econômicas. • O setor destaca o papel da criatividade e da resiliência em contextos econômicos desafiadores. 4. Setor público e comunitário • Exemplo de trabalho explorado: Trabalhadores em áreas como educação, saúde pública e assistência social. • Características: • Foco em impacto social e atendimento às necessidades da comunidade. • Muitas vezes enfrentam limitações de recursos e altos níveis de estresse. • A satisfação no trabalho costuma estar relacionada ao senso de propósito e contribuição para o bem-estar coletivo. • Reflete o papel do governo e das políticas públicas na valorização desses profissionais. Reflexões apresentadas sobre os setores: • Desigualdades sistêmicas: A série evidencia como os setores de baixa remuneração muitas vezes são exploratórios, enquanto setores corporativos ou tecnológicos oferecem mais oportunidades de crescimento. • Propósito no trabalho: A série mostra que encontrar significado no que se faz é uma motivação comum em todos os níveis, mas o acesso a trabalhos significativos varia de acordo com classe social e oportunidades educacionais. • O futuro do trabalho: Os setores analisados ilustram a tensão entre automação, mudanças sociais e a redefinição do valor do trabalho humano em diferentes áreas. “Working” convida o espectador a pensar sobre como o trabalho não apenas sustenta, mas também define quem somos, revelando os desafios e as oportunidades de cada setor. A gig economy é um modelo econômico caracterizado por trabalhos temporários, independentes ou de curta duração, frequentemente realizados por meio de plataformas digitais. Nela, os trabalhadores atuam como freelancers ou contratados para tarefas específicas, ao invés de serem empregados fixos em empresas tradicionais. Características da Gig Economy: 1. Trabalho por Demanda: • Os trabalhadores são contratados para executar tarefas ou “gigs” (trabalhos) específicos, como entregar comida, dirigir carros para serviços de transporte, realizar projetos criativos ou técnicos, entre outros. • A relação de trabalho é mais flexível e menos formalizada, sem vínculos empregatícios tradicionais. 2. Plataformas Digitais: • A gig economy é amplamente impulsionada por aplicativos e plataformas digitais como Uber, Airbnb, Fiverr, Upwork, Rappi e muitas outras. • Essas plataformas conectam trabalhadores diretamente a clientes ou empresas. 3. Flexibilidade: • Os trabalhadores podem escolher quando e como trabalhar, o que atrai pessoas que buscam maior autonomia. • É popular entre estudantes, pessoas buscando renda extra ou profissionais que valorizam horários flexíveis. 4. Ausência de Benefícios Tradicionais: • Trabalhadores na gig economy geralmente não têm acesso a benefícios tradicionais, como seguro-saúde, férias remuneradas ou estabilidade no emprego. • Eles são considerados contratados independentes e, portanto, assumem os próprios riscos e custos associados ao trabalho. 5. Diversidade de Trabalhos: • Vai além de serviços de transporte ou entrega. Inclui consultoria, desenvolvimento de software, design, marketing, ensino de idiomas, entre outros. Vantagens e Desvantagens: Vantagens: • Flexibilidade para trabalhadores e empresas. • Acesso global a talentos e mercados. • Possibilidade de renda adicional para trabalhadores. Desvantagens: • Insegurança financeira devido à falta de estabilidade e benefícios. • Concorrência acirrada em plataformas globais. • Regulação insuficiente, levando a disputas sobre direitos trabalhistas. O Futuro da Gig Economy: Com o crescimento das plataformas digitais, a gig economy vem transformando o mercado de trabalho global. Contudo, debates sobre regulamentação e proteção para os trabalhadores continuam sendo uma questão central para equilibrar flexibilidade e direitos trabalhistas. O termo “gig economy” vem da palavra “gig”, que em inglês é um gíria usada desde o início do século XX para descrever apresentações temporárias ou contratos curtos, especialmente no mundo da música e do entretenimento. Por exemplo, músicos referiam-se a apresentações ou shows pontuais como “gigs”. Com o tempo, o termo passou a ser usado para qualquer tipo de trabalho temporário ou por tarefa. A ideia de uma gig economy reflete esse conceito: um mercado de trabalho onde as pessoas realizam tarefas específicas de forma temporária, em vez de ocuparem posições fixas ou de longo prazo em uma empresa. No contexto moderno, a expressão ganhou destaque com o advento das plataformas digitais, que facilitam a conexão entre trabalhadores e clientes, transformando o “gig” em um elemento central da economia digital. | A A |
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A A | O Confronto Entre Roosevelt e a Suprema Corte: A Luta por Direitos Trabalhistas no New DealDurante o governo de Franklin D. Roosevelt, nos anos 1930, uma das maiores resistências às suas reformas econômicas e sociais do New Deal veio da Suprema Corte dos Estados Unidos. As medidas pró-trabalho defendidas por Roosevelt, como a redução da jornada semanal para 40 horas, a criação de uma previdência pública (Social Security) e a implementação de um salário mínimo, enfrentaram oposição sob o argumento de que violavam a liberdade contratual e ultrapassavam os limites constitucionais do poder federal. Contexto e as Medidas do New Deal Roosevelt buscava enfrentar a Grande Depressão (1929-1939) por meio de um pacote de políticas conhecido como New Deal, que incluía: 1. Fair Labor Standards Act (FLSA) de 1938, que previa: • Jornada de trabalho máxima de 40 horas semanais. • Introdução de um salário mínimo federal. • Proibição do trabalho infantil. 2. Social Security Act (1935), que criava: • Um sistema público de aposentadorias para trabalhadores idosos. • Benefícios de seguro-desemprego. • Assistência a crianças, idosos e pessoas com deficiência. Essas medidas buscavam melhorar as condições de vida dos trabalhadores e estabilizar a economia, mas enfrentaram oposição feroz de grandes empresários e de setores conservadores, que viam essas ações como uma expansão excessiva do poder do governo federal. Resistência da Suprema Corte A Suprema Corte, dominada por juízes conservadores durante grande parte da década de 1930, usou uma interpretação rígida da Cláusula do Comércio e da Décima Emenda para derrubar várias legislações do New Deal, sob o argumento de que elas invadiam competências dos estados e infringiam direitos individuais. 1. Liberdade Contratual A Corte argumentava que leis que limitavam horas de trabalho ou fixavam salários mínimos interferiam na liberdade de empregadores e trabalhadores para estabelecerem contratos privados. • No caso Adkins v. Children’s Hospital (1923), anterior ao New Deal, a Corte já havia invalidado uma lei de salário mínimo para mulheres, estabelecendo um precedente contra legislações trabalhistas. 2. Invalidando o New Deal A resistência ao New Deal atingiu o ápice com decisões como: • Schechter Poultry Corp. v. United States (1935): A Corte derrubou a National Industrial Recovery Act (NIRA), que regulamentava salários e horas de trabalho, alegando que ela ultrapassava o poder do governo federal. • Morehead v. Tipaldo (1936): A Suprema Corte anulou uma lei de salário mínimo estadual, reafirmando a liberdade contratual. A Virada no Combate às Reformas Roosevelt respondeu à oposição da Corte com o polêmico plano de “court-packing” em 1937, propondo aumentar o número de juízes na Suprema Corte para garantir maioria favorável às suas políticas. Embora o plano tenha sido politicamente rejeitado, ele pressionou a Corte a mudar sua postura. 1. West Coast Hotel v. Parrish (1937): Esse caso marcou uma virada histórica. A Corte sustentou uma lei estadual que fixava salário mínimo para mulheres, afirmando que a proteção dos trabalhadores era um interesse legítimo do governo. Essa decisão enfraqueceu o argumento da liberdade contratual e abriu caminho para legislações como o Fair Labor Standards Act. 2. Social Security Act (1937): No caso Helvering v. Davis, a Corte manteve a constitucionalidade da previdência pública, argumentando que ela se enquadrava no poder do Congresso de promover o bem-estar geral. Impacto Após 1937, as políticas do New Deal começaram a ser amplamente implementadas, e o salário mínimo, a previdência social e a jornada de trabalho de 40 horas tornaram-se pilares da economia americana. A resistência inicial da Suprema Corte foi um marco no debate sobre o equilíbrio entre o poder federal e os direitos individuais, e a “virada” de 1937 consolidou uma nova era de maior intervenção governamental em prol do bem-estar social. A luta de Roosevelt contra a Suprema Corte mostrou como os embates entre o Executivo, o Legislativo e o Judiciário podem moldar a história de uma nação, especialmente em momentos de crise. Durante a implementação das reformas trabalhistas e sociais do New Deal, legisladores do Sul dos Estados Unidos, predominantemente conservadores e influenciados pelo sistema de segregação racial, conseguiram excluir trabalhadores domésticos e agrícolas, que eram majoritariamente negros, das proteções oferecidas pelas novas leis federais. Essas exclusões foram um reflexo do racismo estrutural que permeava as políticas públicas da época e da necessidade política de Roosevelt de manter o apoio do bloco sulista no Congresso para aprovar suas reformas. Contexto: O racismo institucional no New Deal Nos anos 1930, o Sul dos Estados Unidos ainda estava profundamente marcado pelo sistema de Jim Crow, que institucionalizava a discriminação racial. A economia sulista era baseada em trabalho agrícola e doméstico, e esses setores empregavam a maioria dos trabalhadores negros. Esses empregos eram caracterizados por: • Baixos salários ou sistemas de pagamento in natura. • Ausência de direitos trabalhistas básicos, como limite de jornada ou descanso remunerado. • Uma dependência histórica do trabalho exploratório, semelhante ao regime escravista. Legisladores sulistas temiam que a inclusão desses trabalhadores nas reformas do New Deal, como o salário mínimo, a jornada de 40 horas e os benefícios previdenciários, pudesse: 1. Desestabilizar a economia agrícola, ao aumentar os custos para os empregadores. 2. Romper o controle econômico e social sobre a população negra, fortalecendo sua autonomia econômica. Exclusões legislativas Durante as negociações do New Deal, os legisladores sulistas exigiram cláusulas de exclusão específicas para manter o apoio às leis federais. Isso resultou na criação de lacunas legais que excluíam explicitamente os trabalhadores domésticos e agrícolas de algumas das políticas mais importantes da época: 1. Fair Labor Standards Act (FLSA) de 1938 • Estabeleceu o salário mínimo e a jornada de 40 horas, mas excluiu trabalhadores domésticos e agrícolas. • Justificativa oficial: alegação de que o trabalho nessas áreas era difícil de regulamentar. • Impacto: Milhões de trabalhadores negros ficaram sem proteção. 2. Social Security Act de 1935 • Criou o sistema de previdência pública, mas excluiu trabalhadores domésticos e rurais da cobertura inicial. • Justificativa oficial: dificuldade de recolher contribuições desses trabalhadores. • Impacto: Quase 65% dos trabalhadores negros no Sul não tinham acesso à aposentadoria ou seguro-desemprego. 3. National Labor Relations Act (NLRA) de 1935 • Garantiu o direito de sindicalização e negociação coletiva, mas não se aplicava a empregados domésticos e agrícolas. • Impacto: Esses trabalhadores permaneceram sem voz para negociar melhores condições de trabalho. O impacto racial das exclusões Embora as exclusões não mencionassem explicitamente a raça, elas foram deliberadamente estruturadas para excluir trabalhadores negros, que compunham a maior parte da força de trabalho doméstica e agrícola no Sul. Isso teve consequências significativas: • Desigualdade racial institucionalizada: Milhões de trabalhadores negros foram deixados de fora das conquistas trabalhistas do New Deal. • Manutenção da hierarquia racial: As exclusões garantiram que os trabalhadores negros continuassem em posições subalternas, com pouca ou nenhuma proteção econômica. • Persistência da pobreza: Décadas depois, a ausência de proteção legal continuava a impactar a mobilidade social da população negra. Justificativas políticas e raciais Os legisladores sulistas usaram uma combinação de argumentos econômicos e culturais para justificar essas exclusões: 1. Argumento econômico: A inclusão de trabalhadores domésticos e agrícolas nas leis do New Deal aumentaria os custos para proprietários de terras e famílias sulistas, prejudicando a economia da região. 2. Argumento racial: Havia um medo velado de que a inclusão de trabalhadores negros em programas federais colocasse em risco a estrutura segregacionista do Sul. Garantir direitos trabalhistas aos negros poderia fortalecer sua independência econômica e, por extensão, desafiaria o sistema de supremacia branca. Legado As exclusões dos trabalhadores domésticos e agrícolas foram apenas parcialmente corrigidas ao longo das décadas seguintes. Por exemplo: • Emendas à Social Security Act e ao Fair Labor Standards Act eventualmente ampliaram os direitos a esses trabalhadores, mas muitos só foram incorporados nos anos 1960 e 1970. • Ainda hoje, categorias como trabalhadores domésticos e imigrantes em empregos agrícolas enfrentam lacunas na proteção legal. Essa estratégia deliberada de exclusão do New Deal perpetuou desigualdades raciais e econômicas que ainda afetam os Estados Unidos, destacando como políticas públicas podem institucionalizar discriminação sob o pretexto de necessidades econômicas. | A A |
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A A | A Trajetória Econômica da Indonésia: Crescimento, Desafios e TransformaçõesO livro The Indonesian Economy de Hall Hill é uma das obras mais abrangentes e respeitadas sobre a economia da Indonésia. Ele oferece uma análise detalhada do desenvolvimento econômico do país, seus desafios estruturais e as transformações políticas e econômicas que moldaram sua trajetória. A obra é amplamente utilizada como referência por acadêmicos, formuladores de políticas e profissionais interessados na economia da Indonésia e de economias emergentes em geral. Abaixo, estão algumas das principais ideias e temas abordados no livro: 1. Desempenho Econômico ao Longo do Tempo Hall Hill explora a trajetória econômica da Indonésia desde a independência em 1945, passando pelos diferentes regimes políticos. Ele analisa os principais períodos, como: • A era Sukarno (1945-1966): marcada por nacionalismo econômico e instabilidade política. • A era Suharto (1967-1998): caracterizada pelo crescimento econômico sustentado, mas também por corrupção e clientelismo. • O período pós-crise asiática (1998 em diante): uma transição para uma economia mais democrática e descentralizada. Hill destaca como a Indonésia passou de ser uma das economias mais pobres do Sudeste Asiático para um país de renda média com uma base econômica diversificada. 2. Transformações Estruturais O autor analisa as mudanças estruturais na economia indonésia, incluindo a transição de uma economia agrária para uma mais industrializada e orientada para os serviços. Ele enfatiza: • A importância da agricultura nos primeiros estágios do desenvolvimento. • A rápida expansão da indústria leve e da manufatura exportadora nos anos 1980. • O papel crescente do setor de serviços, especialmente após 2000. 3. Políticas Econômicas Hill detalha as estratégias econômicas adotadas pela Indonésia, destacando sucessos e fracassos: • Industrialização liderada pelo Estado: Nos anos 1970 e 1980, o governo investiu pesadamente em indústrias básicas, como aço e petroquímica, mas com resultados mistos devido à ineficiência. • Abertura comercial e reformas estruturais: A partir dos anos 1980, a Indonésia liberalizou seu comércio e atraiu investimentos estrangeiros, especialmente nas indústrias de exportação. • Descentralização pós-Suharto: A reforma descentralizadora deu maior autonomia a governos locais, mas também trouxe desafios em termos de coordenação e corrupção. 4. Pobreza, Desigualdade e Desenvolvimento Social Um tema central no livro é a relação entre crescimento econômico, redução da pobreza e desigualdade. Hill argumenta que: • O crescimento econômico reduziu significativamente a pobreza na Indonésia, especialmente nas áreas urbanas. • Contudo, a desigualdade regional permanece um grande desafio, com disparidades marcantes entre a rica ilha de Java e regiões mais remotas, como Papua e as Molucas. 5. Crise Financeira Asiática de 1997-1998 Hill dedica uma análise detalhada ao impacto devastador da crise financeira asiática na economia indonésia. Ele argumenta que: • A crise expôs fragilidades no sistema bancário e no setor corporativo, agravadas pela corrupção e pela falta de transparência. • A recuperação foi lenta, mas a crise também levou a reformas importantes, incluindo maior independência do Banco Central e supervisão financeira mais rigorosa. 6. Recursos Naturais e Sustentabilidade A Indonésia, rica em recursos naturais, sempre teve uma relação ambivalente com essa riqueza. Hill discute: • Os benefícios das exportações de commodities, como petróleo, gás, carvão e óleo de palma. • Os riscos da dependência de recursos naturais, incluindo vulnerabilidade a choques externos e degradação ambiental. • A necessidade de diversificar a economia e investir em setores de maior valor agregado. 7. Globalização e Competitividade Outro ponto abordado é o papel da Indonésia na economia global. Hill analisa: • O impacto da globalização na competitividade da Indonésia. • Os desafios para competir com outras economias do Sudeste Asiático, como Vietnã e Tailândia, especialmente em manufaturas. • A importância de melhorar a infraestrutura, educação e inovação para sustentar o crescimento a longo prazo. 8. Desafios Futuros No final, Hill identifica os principais desafios para a Indonésia: • Melhorar a governança e combater a corrupção. • Reduzir desigualdades regionais e sociais. • Aumentar a produtividade e a competitividade econômica. • Lidar com questões ambientais, especialmente desmatamento e mudanças climáticas. Em resumo, The Indonesian Economy é uma análise profunda e abrangente, que combina economia, história e política para explicar a trajetória única da Indonésia. Hall Hill oferece insights valiosos sobre os fatores que impulsionaram o sucesso do país, bem como os desafios que ele enfrenta em sua busca por um desenvolvimento sustentável e inclusivo. | A A |
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A A | Chicago: A História de Resiliência, Inovação e Diversidade da Cidade dos VentosChicago é uma das cidades mais emblemáticas dos Estados Unidos, situada no estado de Illinois, às margens do Lago Michigan. Sua história é marcada por rápidos avanços econômicos e industriais, tragédias e um papel fundamental no desenvolvimento cultural e social do país. Fundação e primeiros anos Chicago foi fundada oficialmente em 1833, com apenas 200 habitantes, em uma área anteriormente habitada por povos nativos americanos, incluindo os potawatomi, que foram deslocados com a expansão dos colonos europeus. A localização estratégica da cidade, entre os Grandes Lagos e o rio Mississippi, tornou-a um ponto de conexão vital para o comércio e o transporte. Em 1848, a abertura do Canal de Illinois e Michigan, conectando o Lago Michigan ao rio Mississippi, e o estabelecimento de linhas ferroviárias impulsionaram seu crescimento. O crescimento explosivo A segunda metade do século XIX foi um período de crescimento exponencial. Chicago tornou-se o principal centro de transporte e comércio do país, sendo conhecida como “Gateway to the West”. A cidade prosperou com a indústria de processamento de carne, destacada no romance The Jungle (1906), de Upton Sinclair, que retrata as difíceis condições de trabalho nos matadouros da cidade. Em 1870, Chicago já era a segunda maior cidade dos EUA em termos de população e importância econômica. O Grande Incêndio de Chicago (1871) Uma das tragédias mais marcantes de sua história foi o Grande Incêndio de Chicago, em outubro de 1871. O fogo destruiu cerca de 17.500 edifícios e deixou mais de 100 mil pessoas desabrigadas. Apesar das perdas catastróficas, a cidade se reconstruiu rapidamente, adotando inovações na arquitetura e na engenharia, como os primeiros arranha-céus do mundo. Isso solidificou a reputação de Chicago como um centro de inovação urbana. Século XX: Indústria, imigração e cultura No início do século XX, Chicago tornou-se um caldeirão de culturas, com ondas de imigração de irlandeses, alemães, poloneses, italianos, judeus e afro-americanos que vieram do sul dos EUA durante a Grande Migração. A cidade desempenhou um papel fundamental no movimento dos direitos civis e no fortalecimento da cultura afro-americana, especialmente no bairro de Bronzeville. Chicago também foi palco de movimentos trabalhistas importantes, como a Revolta de Haymarket em 1886, um marco para o Dia Internacional do Trabalhador. Além disso, o desenvolvimento da Escola de Chicago na arquitetura e no urbanismo deu ao mundo algumas das maiores inovações em design de cidades. Culturalmente, Chicago destacou-se no jazz e no blues, com artistas como Muddy Waters e Howlin’ Wolf moldando a música americana. A cidade também foi lar de escritores famosos, como Carl Sandburg, Richard Wright e Saul Bellow. Proibição e crime organizado Durante a década de 1920, Chicago tornou-se sinônimo de crime organizado devido à Lei Seca e à ascensão de figuras como Al Capone. A máfia controlava o tráfico de álcool e outras atividades ilegais, criando uma reputação duradoura de corrupção e violência. Apesar disso, a cidade continuou a crescer economicamente, sendo um importante centro financeiro e industrial. Chicago moderna Hoje, Chicago é uma metrópole global, conhecida por sua arquitetura icônica, como o Willis Tower (antiga Sears Tower) e o John Hancock Center, além de espaços públicos como o Millennium Park e o Navy Pier. É um centro econômico e cultural, sede de importantes instituições como a Universidade de Chicago e a Bolsa Mercantil de Chicago. Com uma economia diversificada, abrangendo finanças, tecnologia, saúde e turismo, Chicago continua sendo uma cidade vital para os Estados Unidos. Sua rica história de resiliência, inovação e diversidade reflete os valores fundamentais da nação. Aqui uma lista das maiores cidades dos Estados Unidos por população, de acordo com estimativas recentes: 1. Nova York, Nova York: Aproximadamente 8.258.000 habitantes. 2. Los Angeles, Califórnia: Cerca de 3.820.000 habitantes. 3. Chicago, Illinois: Aproximadamente 2.590.000 habitantes. 4. Houston, Texas: Cerca de 2.314.000 habitantes. 5. Phoenix, Arizona: Aproximadamente 1.650.000 habitantes. 6. Filadélfia, Pensilvânia: Cerca de 1.550.000 habitantes. 7. San Antonio, Texas: Aproximadamente 1.495.000 habitantes. 8. San Diego, Califórnia: Cerca de 1.388.000 habitantes. 9. Dallas, Texas: Aproximadamente 1.302.000 habitantes. 10. San José, Califórnia: Cerca de 969.000 habitantes. Essas estimativas podem variar conforme novos dados demográficos são coletados. Para informações atualizadas, é recomendável consultar fontes oficiais, como o United States Census Bureau. A escultura Cloud Gate, popularmente conhecida como The Bean (“O Feijão”), é um dos marcos mais icônicos de Chicago e um dos pontos turísticos mais visitados da cidade. Localizada no Millennium Park, no coração de Chicago, a obra foi projetada pelo artista britânico Anish Kapoor e inaugurada em 2004. Descrição e Design A escultura é feita de placas de aço inoxidável altamente polidas, que refletem o céu, o horizonte da cidade e os visitantes, criando um efeito visual deslumbrante e interativo. Sua forma curvilínea, semelhante a um feijão, foi projetada para evocar uma gota de mercúrio líquida. Com cerca de 10 metros de altura, 20 metros de comprimento e pesando aproximadamente 100 toneladas, The Bean é uma das maiores esculturas públicas de sua categoria. Sob a escultura há um espaço oco conhecido como o “ombrigo”, onde as superfícies espelhadas criam um caleidoscópio de reflexos. Significado e Popularidade A escultura simboliza a conexão entre a cidade, o céu e os visitantes, refletindo a ideia de fluidez e transformação urbana. É considerada uma obra-prima do design contemporâneo e uma peça central do Millennium Park. Além de ser um marco artístico, The Bean é extremamente popular entre os turistas e moradores, servindo como pano de fundo para milhões de fotos, especialmente devido à sua capacidade única de capturar o horizonte de Chicago em ângulos fascinantes. Eventos e Interação Ao longo do ano, a área ao redor da Cloud Gate é palco de eventos, performances e festivais. Durante o inverno, o parque ao redor é transformado em um espaço de lazer com pistas de patinação no gelo próximas, enquanto o verão atrai multidões para piqueniques e shows. Com sua combinação de design inovador, acessibilidade e integração à paisagem urbana, The Bean se tornou um símbolo contemporâneo de Chicago e uma parada obrigatória para quem visita a cidade. | A A |
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A A | Competição, oligopólio e monopólio: a Teoria dos Mercados ContestáveisA teoria dos mercados contestáveis, desenvolvida por William Baumol, John Panzar e Robert Willig na década de 1980, é uma abordagem alternativa à análise dos mercados tradicionais, como a competição perfeita ou o monopólio. Essa teoria argumenta que o grau de competição em um mercado não depende apenas do número de empresas que operam nele, mas também da possibilidade de entrada e saída de novos concorrentes. Princípios Básicos da Teoria:
Implicações para a Competição:
Exemplos de Mercados Contestáveis:
Críticas à Teoria:
Conclusão: A teoria dos mercados contestáveis trouxe uma perspectiva inovadora para a análise econômica, destacando que a ameaça de concorrência pode ser tão eficaz quanto a concorrência em si para disciplinar mercados. Apesar das críticas, a ideia de contestabilidade oferece insights úteis para o desenho de políticas econômicas e regulatórias, especialmente em setores onde a entrada de novos competidores é tecnicamente viável. | A A |
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