DIREITOS HUMANOS
A A | Coletivo Makira transforma narrativas indígenas em histórias em quadrinhos
Ao registrar narrativas orais, coletivo quer salvaguardar a memória indígena, e estimular jovens a lerCriado em 2019, o Coletivo Makira se consolidou como um espaço de resistência e valorização da identidade indígena no Baixo Tapajós, incentivando a leitura, a produção literária e artística dos povos originários. Os fundadores do coletivo, a professora índigena Andréa Arapyun, que atua no Ensino Modular Indígena com as disciplinas de português e artes, e o professor e quadrinista Marcelo Borari, também do Ensino Modular Indígena, explicam que o nome “Makira”, que significa “rede” na língua indígena Tupi, carrega um duplo significado: além de remeter ao objeto de descanso, amplamente utilizado nas comunidades, simboliza também a conexão entre diferentes narrativas, saberes e gerações. O início do coletivo e os desafios da leitura entre os povos indígenasInicialmente o Makira era um projeto de incentivo à leitura, desenvolvido pela professora Andréa nas aldeias indígenas. A professora relata as dificuldades enfrentadas no incentivo à leitura entre os estudantes indígenas. “Eu sempre encontrava muita dificuldade, porque de cara já vão dizer que não gostam de ler, não querem ler. Então, eu procurava formas de incentivo”, conta. A partir de 2022, a chegada do professor e quadrinista Marcelo Borari ampliou as possibilidades do projeto, que passou a utilizar os quadrinhos como ferramenta pedagógica. “Começamos a fazer as oficinas de histórias em quadrinhos com nossos projetos, fazendo as HQs, produzindo com os alunos, pesquisando as narrativas orais das aldeias e transformando em histórias em quadrinhos”, relata a professora. Marcelo Borari, também ressalta que a falta de materiais didáticos que dialoguem com a realidade das comunidades, aliada a métodos de ensino que muitas vezes não respeitam a oralidade e os saberes ancestrais como base do conhecimento, contribui para a desmotivação dos estudantes. “A gente enfrenta resistência não com os conteúdos, mas com a forma como eles são apresentados. Os alunos gostam dos temas, mas a abordagem tradicional gera bloqueios […] Os materiais didáticos não refletem nossa realidade. O Makira surge também como uma resposta a essa lacuna, criando conteúdos que valorizam as culturas indígenas e são mais acessíveis para os alunos”, explica o professor. A educação escolar indígena, ainda que reconhecida em lei, enfrenta entraves como a falta de investimento, formação adequada para professores indígenas e descontinuidade de políticas públicas. Assim, “o que era apenas um projeto, ganha forma enquanto coletivo e a gente foi ali agregando coisas, pessoas e hoje em dia a gente não é só um coletivo de quadrinho”, relata Marcela Apoena, que compõe o coletivo. Quadrinhos como ferramenta pedagógica e de preservação culturalO Makira tem como um de seus principais objetivos transformar narrativas orais em histórias ilustradas. Marcela Apoena nos lembra que “os anciões são bibliotecas vivas, e quando um deles se vai, uma biblioteca inteira se perde”. Nesse sentido, o coletivo com o seu trabalho se propõe a “salvaguardar a memória ancestral” para as futuras gerações, que como relata Marcela “hoje em dia com o avanço da tecnologia, com o acesso da juventude a essas novas tecnologias, não tem mais quase aquele momento de reunir no final do dia, a noite para contar histórias”. A metodologia do coletivo envolve oficinas de formação para professores e estudantes, ensinando-os a criar quadrinhos baseados em narrativas orais. “Nós coletamos as narrativas da aldeia contadas por crianças, por idosos […] para produzir essas histórias em quadrinhos. Mas também nós atuamos com projetos diversificados, fazendo oficinas de leitura, de arte, de música, de dança, desenvolvemos outros tipos de projeto também, sem ser as HQs. […] Porque como nós trabalhamos em diversas aldeias, nas aldeias que nós passamos, nós vamos produzindo certas oficinas de leitura e de produção de HQs. Recoletando as narrativas, sempre para fortalecer a cultura”, relata Andréa. Essa abordagem já alcançou diversas comunidades indígenas, como Munduruku, Borari e Arapiun. “Os Munduruku do Alto e do Médio Tapajós perceberam que os quadrinhos podem ajudar muito na aprendizagem, especialmente porque há uma dificuldade com o português. Essa demanda veio deles”, destaca Marcelo entusiasmado em, talvez, poder expandir o projeto para outros territórios. Além dos quadrinhos, o coletivo também explora outras linguagens artísticas, como música e comunicação popular. Recentemente, o grupo integrou à equipe o indígena Daniel Arapium, que criou uma música inspirada nas histórias registradas pelo Makira. Além de Daniel, também fazem parte do coletivo Marcela Poenna, Walter Kumaruara, Diego Godinho, Jackeliny Jaraki, Pamelâ Munduruku, Adriano Lobatto Borari, Ana Paula Kumaruara, Carla Guimarães, Josué Jaraki e Jailson Lobatto Borari Histórias de Sucesso Pâmela Munduruku, jovem indígena que compõe o coletivo, já é uma história de sucesso do projeto, pois a jovem que hoje é uma das quadrinistas do Makira, é fruto das oficinas de formação realizadas pelo professor Marcelo Borari. Moradora da Aldeia Bragança, Pâmela relata orgulhosa que sua atuação no coletivo e no projeto já lhe rendeu frutos. “[…] eu comecei a participar mais desse movimento dos quadrinhos quando o professor Marcelo veio dar aula aqui. A gente começou a produzir materiais, assim, com a história daqui, trazendo ela para os quadrinhos e apresentando aqui para as pessoas. E a partir daí desse momento, eu comecei a gostar de fazer histórias em quadrinhos e hoje eu tô participando do coletivo Makira, que foi uma oportunidade incrível pra mim”, relata a jovem. Pâmela, tida pelo professor Marcelo como uma quadrinista completa, já esteve em Belém fazendo apresentações de suas HQs produzidas nas oficinas em encontro de quadrinistas indígenas. “[…] a Pamela é muito boa para criar cenas, né, ela cria toda a situação. Ela é completa, porque ela faz o argumento, ela cria os enquadramentos, ela faz o roteiro e ela ilustra, ela vai colorir”, pontua Marcelo. Desafios e perspectivasMesmo com impactos positivos, o coletivo enfrenta dificuldades, principalmente na captação de recursos. “A parte que é mais difícil ainda é essa limitação de ter poucos editais voltados para literatura e quadrinhos indígenas. Agora estamos aprendendo enquanto coletivo a construir um portfólio mais sólido”, afirma Marcela. Apesar das barreiras, o coletivo já conquistou reconhecimento. Em 2024, o Makira foi contemplado pelo edital Refarm Cria com apoio do Instituto Regatão, com o projeto Makira Quadrinhos em Rede, o que possibilitou a produção de uma HQ digital prevista para lançamento em julho. “O nosso objetivo neste edital foi a criação de uma HQ com algumas histórias, né? E aí a gente vai publicar até o mês de julho, mas ainda na versão digital. E aí futuramente a gente espera conseguir um apoio pra tá fazendo a impressão e distribuindo nas escolas, pra servir também como material didático, já que são histórias dos povos indígenas aqui da nossa região”, explica Marcela. No entanto, a falta de financiamento contínuo e a burocracia para acessar editais dificultam a expansão do projeto.
Voluntariado, amor pelos livros e projetos de incentivo a leitura Outro desafio é a falta de continuidade em projetos de incentivo à leitura dentro das aldeias. A professora Andreia, por exemplo, conseguiu estruturar uma biblioteca comunitária em uma aldeia no território Arapiun, mas a ausência de apoio e de professores engajados fez com que a iniciativa perdesse força. “Infelizmente, a educação modular nos territórios indígenas faz com que muitos projetos fiquem sem acompanhamento quando os professores se ausentam”, explica a educadora. Contudo, os membros do coletivo não desanimam. Os planos para o futuro incluem expandir o trabalho com RPGs educativos, metodologia utilizada pelo professor Marcelo nas oficinas e que segundo ele é uma ferramenta pedagógica muito consolidada, tanto na educação fundamental, no médio e no ensino superior no Brasil. “O RPG tem uma certa relação também com os quadrinhos porque tem roteiro, tem história, tem algumas ilustrações, a linguagem é diferente, então envolve também a parte teatral porque é um jogo de interpretação de papéis. E aí eu queria fazer uma experiência com os nossos alunos e houve essa oportunidade de a gente fazer alguns vídeos aqui na nossa última oficina no Arapiuns. Eu acho que mesmo que tenha sido de uma maneira muito no improviso, porque também isso é uma característica do jogo, eu acho que foi muito positivo porque envolveu os pais ali, criou toda uma aura de mistério, de medo […] é um recurso para criar a eventualidade e a gente agora está pensando em expandir mais essa proposta dos RPGs porque também dá para fazer isso paralelo às narrativas dos quadrinhos, a produção de material didático usando o RPG”, explica o professor. Além disso, o coletivo também tem o desejo de consolidar uma biblioteca indígena e estruturar novas formas de financiamento. História de dedicação e resistência por meio da leitura, da educação e da arte Recentemente, a Educação Modular Indígena sofreu um forte ataque, com a promulgação da lei 10.820 de 2024, posteriormente revogada em 13 de fevereiro de 2025, após uma luta corajosa e pungente dos povos indígenas do Pará, em especial dos povos do Baixo Tapajós. Uma educação historicamente precarizada, mas que resiste, muito pela coragem e determinação de professores como Andreia e Marcelo e por iniciativas como o coletivo Makira, que na contramão do governo, atua pelo fortalecimento de uma educação que se conecte e que respeite os povos indígenas. O Coletivo Makira segue tecendo sua rede de resistência, criatividade e educação, reafirmando a importância da arte e da oralidade na preservação das culturas indígenas. “A gente está bem animado e vamos ver o que o futuro nos reserva”, conclui Marcela, reforçando a esperança de que cada narrativa registrada se transforme em um fio que une passado, presente e futuro dos povos indígenas da Amazônia. | A A |
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Aeroporto Internacional de Natal inaugura sala multissensorial dedicada a pessoas com transtorno do espectro autistaMarquezan AraújoMais um aeroporto brasileiro passou a contar com uma sala multissensorial, destinada a passageiros com Transtorno do Espectro Autista (TEA). O espaço, inaugurado nesta terça-feira (29), está situado no Natal Airport, localizado no município de São Gonçalo do Amarante (RN). A iniciativa é do Ministério de Portos e Aeroportos em parceria com a concessionária Zurich Airport Brasil, responsável pela gestão do terminal aéreo. Mais um aeroporto brasileiro passou a contar com uma sala multissensorial, destinada a passageiros com Transtorno do Espectro Autista (TEA). O espaço, inaugurado nesta terça-feira (29), está situado no Natal Airport, localizado no município de São Gonçalo do Amarante (RN). A iniciativa é do Ministério de Portos e Aeroportos em parceria com a concessionária Zurich Airport Brasil, responsável pela gestão do terminal aéreo. De acordo com a Pasta, a sala foi construída com o objetivo de reduzir o estresse provocado no ambiente do aeroporto. Novo PAC: MPor investe R$ 136 milhões em melhorias no aeroporto de Dourados (MS) Segundo o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, 20 espaços como esse devem ser entregues até 2026. Na avaliação dele, esse tipo de iniciativa leva os aeroportos do Brasil a estarem entre os melhores do mundo. “Todos os dias buscamos viabilizar ações que melhorem a qualidade do serviço prestado, garantam a cidadania dos passageiros e tornem a experiência de passar por um terminal de embarque em algo prazeroso”, destaca. Como funciona a sala multissensorial?A sala multissensorial é um espaço exclusivo e adaptado para receber pessoas neurodivergentes - cujo cérebro funciona de forma diferente do que é considerado como padrão. O ambiente dispõe de um design acolhedor, com iluminação controlada, mobília confortável, além de recursos lúdicos e equipamentos sensoriais que contribuem para a redução de estímulos durante a passagem pelo aeroporto. A diretora de Planejamento e Fomento da Secretaria Nacional de Aviação Civil (SAC), Júlia Lopes, lembra que a instalação da sala multissensorial em abril tem uma relevante representatividade, pois trata-se do mês dedicado à conscientização sobre o autismo. “Além de Natal, Recife teve seu espaço entregue no início do mês e estas duas salas somam-se às já existentes nos aeroportos de Vitória (ES), Florianópolis (SC), Congonhas (SP) e Santos Dumont (RJ), demonstrando que o governo federal tem se esforçado para tornar nossos terminais cada vez mais acessíveis”, pontua. LocalizaçãoA sala multissensorial do Natal Airport está localizada na área de embarque, com acesso controlado mediante solicitação. O objetivo é proporcionar alívio e bem-estar para esse público em relação aos estímulos externos já que, para eles, situações que parecem rotineiras à maioria dos passageiros são fontes de estresse intenso e podem desencadear crises. A Pasta reforça que, entre esses fatores, estão avisos sonoros, movimentação intensa de pessoas no terminal, barulho de malas de rodinhas, telas informativas e luzes de maior intensidade. | A A |
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