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MIDR reconhece situação de emergência em 19 cidades afetadas por desastres

Agência do Rádio

O Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), por meio da Defesa Civil Nacional, reconheceu, nesta terça-feira (20), a situação de emergência em 19 cidades afetadas por desastres. A portaria com os reconhecimentos foi publicada no Diário Oficial da União (DOU).

O Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), por meio da Defesa Civil Nacional, reconheceu, nesta terça-feira (20), a situação de emergência em 19 cidades afetadas por desastres. A Portaria nº 1.530 com os reconhecimentos foi publicada no Diário Oficial da União (DOU)

Passam por um período de estiagem os municípios de Pato Bragado, no Paraná; Barão de Cotegipe, Boa Vista do Buricá, Caseiros, Centenário, Cerro Grande do Sul, Ciríaco, Crissiumal, Getúlio Vargas, Novo Cabrais, Palmeira das Missões, Santana da Boa Vista e São Martinho da Serra, no Rio Grande do Sul, e Águas de Chapecó, Saltinho e Xavantina, em Santa Cartarina.

Já as cidades de Eldorado do Sul, Erval Grande e Rio dos Índios, no Rio Grande do Sul, obtiveram o reconhecimento federal de situação de emergência por causa de vendaval.

Agora, as prefeituras já podem solicitar recursos do Governo Federal para ações de defesa civil, como compra de cestas básicas, água mineral, refeição para trabalhadores e voluntários, kits de limpeza de residência, higiene pessoal e dormitório, entre outros.

Como solicitar recursos

Cidades com o reconhecimento federal de situação de emergência ou de estado de calamidade pública podem solicitar ao MIDR recursos para ações de defesa civil. A solicitação pelos municípios em situação de emergência deve ser feita por meio do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2iD). Com base nas informações enviadas nos planos de trabalho, a equipe técnica da Defesa Civil Nacional avalia as metas e os valores solicitados. Com a aprovação, é publicada portaria no DOU com o valor a ser liberado.

Capacitações da Defesa Civil Nacional

A Defesa Civil Nacional oferece uma série de cursos a distância para habilitar e qualificar agentes municipais e estaduais para o uso do S2iD. As capacitações têm como foco os agentes de proteção e defesa civil nas três esferas de governo. Confira neste link a lista completa dos cursos.


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EUA: Assim se gestou a distopia

Inventário de um país após o declínio. A partir de Ronald Reagan, há cinco décadas de neoliberalismo, descoesão social e agressão ao ambiente. As análises usuais não enxergam tal nexo, mas o delírio de Trump não é causa – é sintoma

A reeleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos (EUA) em novembro de 2024 tem sido caracterizada como uma catástrofe sem precedentes na história contemporânea desse país.

De fato, essa reeleição marca o início de um experimento social inédito de autodestruição fulminante dos EUA, bem como de seu controle distópico pelas Big Techs. O adjetivo fulminante é, por certo, apropriado diante da avalanche de decretos (Executive orders) de Trump em seus primeiros dois meses de governo. Quase cem medidas contra a governança ambiental foram tomadas nos primeiros dois meses de governo. Trata-se de um ataque feroz não apenas contra a governança climática, mas contra todos os aspectos da proteção ambiental, a começar pelo desmonte da própria Agência de Proteção Ambiental (EPA).i

Essa metralhadora giratória objetiva a demolição e/ou o desvirtuamento de todas as instituições científicas, culturais, administrativas e diplomáticas encarregadas de assegurar informação, educação, monitoramento, proteção e governança nas relações entre os EUA e o sistema Terra. Robert Proctor fala em “uma espécie de guerra contra a metrologia, a mensuração dos fenômenos. Portanto, alguns tipos de dados nem serão coletados. Não saberemos mais o que está acontecendo”.ii Sim, trata-se de garantir um voo cego, de modo a não ser possível mensurar a dinâmica do colapso ambiental em curso, pois, como é bem sabido, em ciências da natureza não é possível conhecer o que não se consegue medir. Dada essa Blitzkrieg contra a ciência, 75,3% dos 1.608 cientistas que responderam a uma pesquisa publicada na revista Nature em 2025 consideram deixar o país, porcentagem ainda maior entre os pesquisadores mais jovens.iii


Trump tem conseguido avançar por enquanto sem obstáculos maiores, graças à sua incontestável vitória eleitoral (mais de 2,4 milhões de votos a mais do que Kamala Harris e 312 votos contra 226 no Colégio Eleitoral),iv ao apoio dos bilionários do Silicon Valley e, sobretudo, ao fato de que, como se sabe, Trump 2.0 foi cuidadosamente planejado pelo Project 2025, da Heritage Foundation.v

1. De Ronald a Donald

Ocorre que há também o outro lado da moeda, pois o retorno de Trump à Casa Branca representa, igualmente, a culminância de um longo e lento processo socioeconômico e intelectual regressivo nos EUA (de que é responsável também, e na mesma medida, o Partido Democrata). Tentar compreender esse retorno requer uma visada retrospectiva. Não apenas sobre sua primeira vitória em novembro de 2016 (embora ainda sem maioria dos votos populares), mas um recuo mais amplo, “de Ronald a Donald”, ou seja, uma análise abrangendo múltiplos indicadores de declínio socioeconômico, educacional, cultural, sanitário e ambiental nesse país desde ao menos os dois mandatos de Ronald Reagan nos anos 1981-1988.

Há paralelos evidentes entre os dois presidentes. Ambos vieram da indústria do entretenimento, cavalgando uma doutrina centrada na demolição radical do tímido Welfare State estadunidense. As reformas fiscais de Trump têm por modelo (e radicalizam ainda mais) a Economic Recovery Act de 1981 e Tax Reform Act de 1986, meta obsessiva da chamada Reaganomics. Ambos se destacam, também, por seu descomplexado negacionismo científico e por um apelo à restauração da “grandeza” do país. Não por acaso, o MAGA, marca registrada de Trump desde 2016, foi cunhado para a campanha eleitoral de Reagan (Let’s Make America Great Again), no contexto da derrota militar no Vietnã, das crises do petróleo e da estagflação dos anos 1970.

No que se refere aos precedentes do negacionismo científico de amplo espectro de Trump, Stéphane Foucart fez notar que “a guerra de Trump contra a ciência é a fase terminal de uma longa doença, cujos primeiros sinais foram ignorados”. “Há muitos anos, o conjunto da direita americana não esconde seu ódio às universidades, nem seu desejo de destruir ou subjugar as ciências ambientais”.vi Entre os sintomas anteriores dessa doença, Robert Proctor lembra que, durante a administração George W. Bush (2001-2008), os biólogos do Serviço de Parques Nacionais foram demitidos, de modo a tornar impossível documentar o desaparecimento de espécies. Essa guerra tem seu maior precursor novamente em Reagan. Uma das pérolas do negacionismo climático do ex-presidente deve dar inveja a Trump: “Cerca de 80% da nossa poluição atmosférica provêm de hidrocarbonetos liberados pela vegetação; então, não exageremos na definição e aplicação de padrões rigorosos contra emissões antropogênicas”.vii

Reagan censurou cientistas como James Hansen e foi contra até mesmo a adesão dos EUA ao Protocolo de Montreal, de 1987, que visava proteger a camada de ozônio estratosférico. Seu secretário do interior, Donald Hodel, afirmou então que um tratado internacional para descontinuar a produção de clorofluorocarbonos (CFCs) era desnecessário, pois bastaria aos americanos usar protetor solar e um chapéu. Reagan mudou sucessivamente de ideia em parte porque fora diagnosticado com um câncer de pele e porque cedeu à pressão das corporações que viam nesse tratado uma oportunidade de negócios.viii Mas o mais amplo paralelo entre Ronald e Donald é o fato de se elegerem no contexto do empobrecimento da população urbana dos EUA. De fato, essa começara a se empobrecer desde os anos 1970, como mostra a Figura 1.

Figura 1 – Pessoas vivendo abaixo do nível federal de pobreza, por tipo de comunidadesubúrbios, cidades, pequenas metrópoles e população rural
(1970 – 2015)


Fonte: Elizabeth Kneebone, “The changing geography of US poverty“. Brookings Institution, 15 fev. 2017, com dados do Brookings Institution analysis of decennial census and American Community Survey data e Metropolitan Policy Program (Brookings).

Entre 1970 e 2015, o número de pobres nos EUA aumentou em todos os segmentos urbanos, passando de pouco mais de seis milhões para 16 milhões de pessoas no segmento suburbano. Mas isso era apenas o começo.

2. O Relatório Alston

Em finais de 2017, a ONU publicou um relatório especial, intitulado: “Declaração sobre a visita aos EUA, pelo Professor Philip Alston, Relator Especial das Nações Unidas sobre pobreza extrema e direitos humanos”. Nele, já se podia detectar ou prever os impactos socioeconômicos das políticas fiscais do primeiro mandato de Trump (2017-2020): “O pacote de reforma tributária proposto destaca a tentativa dos EUA de se tornar a sociedade mais desigual do mundo e aumentará muito os níveis já altos de desigualdade de riqueza renda entre o 1% mais rico e os 50% mais pobres dos americanos”.ix O relatório caracterizava os indicadores sociais dos EUA como os piores, ou entre os piores, no contexto dos países da OCDE. Como seria de se esperar, o governo dos EUA tentou desqualificar o documento. Mas ele foi objeto de um artigo muito positivo de Angus Deaton, no The New York Times, com um título sugestivo: “Os EUA não conseguem mais se esconder de seu problema de pobreza extrema”.x Deaton denunciava que mesmo aquisições básicas das sociedades industrializadas, como água potável, segurança alimentar, saneamento básico e algum tipo de assistência médica não eram acessíveis aos habitantes mais pobres do país. Em alguns lugares como o delta do Mississipi e em muitas regiões dos 13 estados situados na cordilheira dos Montes Apalaches, “a esperança de vida ao nascer é mais baixa do que em Bangladesh e no Vietnã”. Também segundo Luke Shaefer e Kathryn Edin, “o número de domicílios vivendo com US$ 2,00 ou menos por dia durante ao menos um mês num ano nos EUA mais que dobrou em 15 anos, passando de 636.000 famílias em 1996 para 1.460.000 famílias em 2011”.xi A Figura 2 mostra o aumento enorme da pobreza extrema nos EUA entre 1980 e 2015.

Figura 2 – Milhões de pessoas nos EUA, vivendo em três níveis de pobreza extrema entre 1980 e 2015: US$ 1,90; US$ 3,20 e US$ 5,50
(em dólares de 2011)

Fonte: Colin McAuliffe, “Extreme Poverty is on the Rise in the US“. Data for Progress, 4 dez. 2018, com dados do The World Bank Poverty and Equity Database.

Como se vê, a pobreza extrema nos EUA começa a crescer com Reagan, mas ganha impulso a partir das “reformas” neoliberais promovidas nos dois mandatos de Bill Clinton nos anos 1990, inclusive por meio de programas como o Earned Income Tax Credit (EITC), que tentava ocultar a erosão do salário real dos trabalhadores de menor renda.


3. Do relatório Alston aos dados dos EUA que elegeram Trump em 2024

Em menos de uma década, entre o relatório Alston e os EUA de Trump 2.0, o processo de degradação dessa sociedade não cessou de se acelerar, como demonstra uma comparação entre a situação descrita por Alston em 2017 e a atual, nos quatro dossiês maiores abaixo discutidos, com seus catastróficos desdobramentos futuros.

3.1 A crise sanitária

(1) “As taxas de mortalidade infantil dos EUA em 2013 foram as mais altas do mundo desenvolvido. Os americanos podem esperar viver vidas mais curtas e doentes, em comparação com pessoas que vivem em qualquer outra democracia rica, e a “lacuna de saúde” entre os EUA e países pares continua a crescer” (Alston 2017). Em 2021, a expectativa de vida ao nascer nos EUA havia regredido ao mais baixo nível desde 1996, segundo o Center for Disease Control (CDC), uma agência do governo federal.xii

Dados recentes projetam que, nesse quesito, os EUA devem cair da 49º posição global em 2022 para a 66ª posição em 2050.xiii Também a “lacuna de saúde” a que se refere Alston, vale dizer, as crises sanitárias nos EUA têm se agravado. “Atualmente [2025], em comparação com países ocidentais similares, os EUA têm (…) a maior mortalidade materna e infantil relatada, a maior taxa de hospitalização por causas evitáveis, a maior taxa de mortalidade por condições evitáveis ​​e tratáveis, a maior taxa de suicídio e a maior taxa de carga de doenças crônicas do mundo”.xiv Além disso, “os EUA são o único país de alta renda onde uma parcela substancial da população não tem qualquer tipo de preteção sistêmcia de saúde”.xv

Como afirma Ricardo Abramovay, a doença nos EUA é uma grande força econômica: “A responsabilidade da indústria farmacêutica na crise dos opioides, que já matou mais de 500 mil pessoas nos EUA, é exposta no 1,3 milhão de documentos dos “Opioid Industry Documents Archive”, que demonstram todo um mecanismo de cooptação de médicos para receitarem uma droga cuja natureza viciante e perigosa era conhecida, mas não divulgada”.xvi Segundo dados do CDC (2023), “até 2022, mais de 700 mil vidas foram perdidas por overdoses de opioides”. Uma análise recente mostra que essa crise sanitária, iniciada em 1996, foi um fator relevante no deslocamento do eleitorado democrata para o Partido Republicano, que se apropriou da retórica da defesa da “América esquecida” e da “América deixada para trás” .xvii

O escândalo dos opioides exacerbou o massacre resultante da famosa “guerra contra as drogas”: “Perto de 108 mil pessoas morreram de overdose em 2022 e cerca de 82 mil dessas mortes envolveram opioides (cerca de 76%). O número de pessoas que morreram por overdose de opioides em 2022 foi dez vezes maior do que em 1999”.xviii

(2) “Doenças tropicais negligenciadas, incluindo Zika, são cada vez mais comuns nos EUA. Foi estimado que 12 milhões de americanos vivem com uma infecção parasitária negligenciada” (Alston 2017). Após 2019, a pandemia da Covid-19 matou muito mais nos EUA do que em outras nações ricas, sobretudo porque Trump, em seu primeiro mandato, declarou-se contra o uso de máscaras e contra a obrigatoriedade da vacinação.xix Em 2025, o negacionismo contra a vacinação é abertamente fomentado por seu secretário de saúde, Robert Kennedy Jr., que anunciou agora a supressão de cerca de 10 mil funcionários do seu m inistério, sobretudo nas áreas de vacinação, de resposta às epidemias e de aprovação de novos medicamentos.xx A sugestão de Kennedy Jr. em face da epidemia da gripe aviária, que mata cerca da metade das pessoas infectadas pelo contato direto com animais que carregam o vírus,xxi é a “imunidade de rebanho”. Segundo Gail Hansen, “permitir que o vírus H5N1 se propague entre cinco milhões de aves é literalmente dar-lhe cinco milhões de chances de replicação e mutação. (…) É uma receita para o desastre”.xxii De fato, tais mutações aumentam inclusive a probabilidade de que este vírus adquira a capacidade de ser transmitido entre pessoas. Em 2025, o sarampo, a mais contagiosa doença viral transmissível pessoa a pessoa, voltou a afligir o país, com 321 casos no Texas e estados vizinhos e com as primeiras duas mortes de pessoas, obviamente não vacinadas.xxiii Como afirma David Higgins, “cada surto, doença, hospitalização e morte é uma tragédia, porque é totalmente prevenível com vacinas”.xxiv

(3) “Os EUA têm a maior prevalência de obesidade no mundo desenvolvido” (Alston 2017). A obesidade está associada ao desenvolvimento de diabetes tipo 2, a doenças cardiovasculares e ósseas, hipertensão, ocorrência de certos tipos de câncer, problemas psiquiátricos e reprodutivos, entre outros.xxv Dados do CDC mostram que “a prevalência de obesidade aumentou de 30,5% em 1999-2002 para 41,9% em 2017-março de 2020. Durante o mesmo período, a prevalência de obesidade grave aumentou de 4,7% para 9,2%”.xxvi Em 2021, quase três quartos da população dos EUA estava com sobrepeso ou obesidade.xxvii Em 2024, um estudo da série Global Burden of Disease (GBD) da revista Lancet assinala que “mais de 170 milhões de adultos com 25 anos ou mais, bem como 15 milhões de crianças e adolescentes jovens (de 5 a 14 anos) e 21 milhões de adolescentes mais velhos (de 15 a 24 anos) têm sobrepeso ou obesidade”.xxviii O aumento de incidência de câncer é um fenômeno mundial.xxix Mas nos EUA, esse aumento exibe uma taxa mais elevada do que em países com dados disponíveis, sendo a obesidade, evidentemente, apenas um entre os muitos fatores de caráter não genético (ou seja, atribuíveis ao estilo de vida e à poluição ambiental), desse aumento comparativamente maior. Segundo a American Cancer Society:xxx

“No próximo ano [2024], a expectativa é de se atingir um marco desolador. Será a primeira vez que novos casos de câncer nos EUA devem ultrapassar a marca de dois milhões de pessoas. Isso representa quase 5.500 diagnósticos de câncer por dia. (…) Em 2024, projeta-se que mais de 611.000 mortes por câncer ocorrerão nos EUA. Isso representa mais de 1.600 mortes por câncer por dia”.

Isso não se deve apenas ao envelhecimento da população. Embora, a proporção de pessoas com menos de 50 anos esteja diminuindo na pirâmide etária dos EUA (tendo caído de 74% para 64%), sempre segundo o mesmo documento, pessoas com menos de 50 anos “constituem o único dos três grupos etários [65+, 50-64 e menos de 50 anos] que exibem um aumento em todos os tipos de câncer, entre 1995 e 2020”.xxxi

(4) “Em termos de acesso à água e saneamento, os EUA estão em 36º lugar no mundo” (Alston 2017). Em 2023, um estudo da National Resources Defense Council (NRDC) confirmava o agravamento do problema: “o sistema de água potável nos EUA está falido de várias maneiras. O subinvestimento crônico deixou a infraestrutura hídrica desatualizada e à beira do colapso em muitos lugares do país (…). Enquanto isso, chumbo, as substâncias perfluoroalquil e polifluoroalquil conhecidas como PFAS, poluição industrial e escoamento agrícola estão contaminando a água potável de centenas de milhões de pessoas — e muitas nem sabem disso”.xxxii Um trabalho de 2025 mostra que “mais de 97 milhões de residentes dos EUA foram atendidos por sistemas públicos de fornecimento de água com níveis detectáveis ​​de 1,4-dioxano, HCFC-22, 1,1-dicloroetano e/ou PFAS”. Os autores mostram que populações hispânicas e afro-americanas são desproporcionalmente atingidas por essa poluição.xxxiii


3.2 Pobreza, desigualdade e insegurança alimentar e encarceramento

(5) “Nos países da OCDE, os EUA estão em 35º lugar entre 37 em termos de pobreza e desigualdade. (…) Os EUA têm o maior índice de Gini (medindo a desigualdade) de todos os países ocidentais” (Alston 2017). Em 1980, o índice de Gini (quanto mais elevado, maior desigualdade) nos EUA era de 34,7. Em 2022, ele saltou para 41,3, atingindo 42 em 2023. Eis o índice de Gini em outros países, segundo o Banco Mundialxxxiv:

Segundo Bernie Sanders, nos EUA, “as três famílias mais ricas possuem agora mais riqueza do que a metade mais pobre do país”.xxxv

(6) “Em setembro de 2017, mais de um em cada oito americanos vivia na pobreza (40 milhões, ou 12,7% da população). E quase metade deles (18,5 milhões) vivia em extrema pobreza, com renda familiar relatada abaixo da metade do limiar da pobreza” (Alston 2017). Sintoma dessa pobreza extrema é o agravamento da insegurança alimentar: 10,2% dos domicílios em 2021; 12,8% em 2022 e 13,5% em 2023 (dados do USDA). Em quatro estados do sul, essa porcentagem já passava de 15% em 2022.xxxvi Em 2023, perto de 14 milhões de crianças passaram fome no país.xxxvii

O aumento da pobreza correlaciona-se claramente com mau desempenho escolar. A decisão de abolir o U.S. Department of Education acentuará ainda mais essa curva de declínio educacional. Para Hakeem Jeffries, líder do Partido Democrata na Câmara, essa medida “prejudicará milhões de crianças nas escolas públicas da nossa nação, suas famílias e professores. O tamanho das turmas aumentará, educadores serão demitidos, programas de educação especial serão cortados e a faculdade ficará ainda mais cara”. A ideia dessa medida, contida no “Project 2025”, remonta aos anos 1980 e mostra outro paralelo programático entre Trump e Reagan.xxxviii

(7) “Os EUA têm a maior taxa de encarceramento do mundo, à frente do Turcomenistão, El Salvador, Cuba, Tailândia e Federação Russa. Sua taxa é quase 5 vezes a média dos países da OCDE” (Alston 2017). Em 2024, havia 614 pessoas encarceradas nos EUA por cem mil habitantes, e em nove estados do sul essa proporção oscilava entre 812 a 1.067 pessoas por cem mil habitantes. Eis algumas taxas de encarceramento em outros países por cem mil habitantes em 2024: Brasil, 390; Turquia, 366; Rússia, 300; Taiwan, 236; China, 165; Itália, 105.xxxix Em 2020, a taxa de afro-americanos em prisões federais era cinco vezes maior do que a taxa de brancos, sendo que estes permaneciam menos tempo presos. A taxa de presos afro-americanos em diferentes estados do país oscila entre duas e quatro vezes sua proporção demográfica.xl

3.3 A oligarquia plutocrática

(8) “Os eleitores registrados representam, nos EUA, uma parcela muito menor de eleitores em potencial do que em qualquer outro país da OCDE” (Alston 2017). Os EUA são o único país presidencialista do mundo em que a eleição do presidente da República não é feita por sufrágio universal e a composição dos membros do colégio eleitoral espelha cada vez menos a distribuição demográfica da população nos 50 estados do país. Como lembra David Leonhardt, “dois dos quatro últimos presidentes [dos EUA] assumiram a presidência a despeito de terem perdido no voto popular”.xli

Os EUA são hoje, mais que nunca, uma oligarquia plutocrática. Há ao menos quatro fatores que explicam a erosão do que se costuma chamar, convencionalmente, a democracia estadunidense: (a) “Desde 2010, as legislaturas estaduais instituíram leis destinadas a reduzir o acesso dos eleitores ao voto”.xlii Segundo Jasleen Singh & Sara Carter, “o país testemunhou uma enxurrada de legislações eleitorais restritivas ao longo da última década, sobretudo após as eleições de 2020. (…) Muitas das novas leis estão em estados com histórico de discriminação racial no voto”.xliii (b) O chamado gerrymandering, i.e., o redesenho manipulatório dos limites dos distritos político-eleitorais em todo o país, que tende a diminuir o peso do eleitorado afro-americano e a produzir artificialmente uma maioria de eleitores republicanos. Ao invés dos eleitores escolherem seus candidatos, esse estratagema permite aos candidatos escolher virtualmente seus eleitores, de modo a garantir sua reeleição.xliv (c) Desde a derrota de Trump em 2020, há um crescente movimento no Partido Republicano e em seu eleitorado no sentido de não aceitar um resultado desfavorável das urnas. (d) Há uma percepção igualmente crescente do eleitorado em geral de que o resultado das eleições não altera em nada sua situação. Tal é a percepção de 83% dos indagados em uma pesquisa de 2024 e quase 90 milhões de pessoas não votaram em 2024. Isso representa 36% das pessoas com direito a voto, ou seja, um número maior do que os eleitores de Kamala Harris ou de Donald Trump.xlv

3.4 O Pesadelo Americano

(9) “O Sonho Americano está rapidamente se tornando a Ilusão Americana, já que os EUA agora têm a menor taxa de mobilidade social de todos os países ricos” (Alston 2017). Hoje, seria mais apropriado falar em pesadelo americano. Antes de mais nada, o pesadelo das armas. Segundo o Small Arms Survey, em 2011, havia nesse país 88 armas em mãos de civis para cada 100 habitantes. Em 2018, esse número saltara para 120,5 armas para cada 100 habitantes. “Cerca de 44% dos adultos dos EUA vivem em uma casa com uma arma”.xlvi O homem que tentou assassinar Trump em julho de 2024 usava um “AR-15”, um fuzil militar de assalto semiautomático, capaz de atirar até 60 balas por minuto. A venda dessa arma era proibida até 2004, mas hoje apenas nove estados do país a proíbem. Estima-se que um em cada 20 habitantes dos EUA possua um fuzil AR-15, muito utilizado nos mass-shootings dos últimos anos.xlvii O Gun Violence Archive (GVA) define um mass-shooting como um ataque no qual quatro ou mais pessoas são mortas ou feridas. Segundo o GVA, houve 332 mass-shootings nos EUA em 2015; 414 em 2019; 611 em 2020; 689 em 2021; 644 em 2022; 659 em 2023 e 503 em 2024.xlviii Entre 2015 e 2024, houve 173.404 mortes e 303.991 feridos, num total de 477.395 vítimas de armas de fogo.

Esses mass-shootings nascem no imaginário individualista da sociedade estadunidense, moldado pelo medo, pela infantilização e pela reatividade primal dos humilhados e dos que sofrem bullying. Em 2021, um em cada quatro eleitores republicanos (e 9% dos eleitores democratas) acreditavam nas teorias da conspiração do QAnon, segundo as quais “o mundo é controlado pelo Deep State, uma cabala de pedófilos adoradores de Satã”, que apenas Trump pode derrotar.xlix Outra dimensão desse medo é a xenofobia. Em 2001, o ataque às torres gêmeas desencadeou um surto de paranoia no país contra o “estrangeiro não-branco”, comparável ao medo dos “comunistas”, insuflado nos anos 1950 pelo Macarthismo. O Department of Homeland Security, criado por George W. Bush, foi instrumental no aumento das deportações de imigrantes. Em 2003, o número de deportações anuais superou 200 mil e desde 2012, 400 mil. A criminalização e o tratamento desumano reservado aos imigrantes deportados não é, portanto, uma peculiaridade da administração Trump que se inicia.

4. Crises ambientais: o país de Trump 2.0 é muito mais vulnerável do que o de Reagan

Se a reeleição de Trump é a culminância de um processo histórico regressivo, ela ocorre num país ambientalmente já muito mais degradado do que o país que elegeu e reelegeu Reagan. Os EUA estão, de fato, entre os países mais vulneráveis do mundo à emergência climática, à aniquilação da biosfera e à poluição químico-industrial.

No que se refere à aniquilação da biodiversidade, entre 2001 e 2023, os EUA sofreram quase 480 mil km2 de perda de cobertura arbórea, ou 17% de área de cobertura arbórea bruta desde 2000. Apenas entre 2020 e 2023, os EUA perderam quase 12 mil km2 de florestas primárias.l Um relatório do U.S. Fish & Wildlife Service, de 2023, assinalou a extinção de 21 espécies – a serem, portanto, retiradas da lista de espécies ameaçadas do Endangered Species Act, de 1973.li O relatório Biodiversity in Focus: United States Edition (2023) revela que 34% das espécies de plantas e 40% das espécies de animais, sobretudo anfíbios e espécies de água doce, estão em risco de extinção. Estão ameaçados de extinção 48% das espécies de cactos, cerca de 200 espécies de árvores (20%) e 19% das espécies de gramíneas.lii Entre os polinizadores, 37% das espécies de abelhas estão também em risco de extinção. Além disso, 41% dos ecossistemas dos EUA estão em risco de colapso em toda a sua extensão. Sempre segundo esse relatório, baseado em dados do U.S. Geological Survey (USGS), as áreas ambientalmente protegidas nos EUA não passavam em 2018 de 12%. De seu lado, a EPA assinala que 1.300 espécies adicionais estão atualmente em risco de extinção nesse país.liii Nos Estados Unidos, entre 2000 e 2022, a abundância populacional de 554 espécies registradas de borboletas caiu em média 22%.liv Nesse país e no Canadá, cerca de 3 bilhões de pássaros (29%) desapareceram desde 1970.lv

No que se refere à emergência climática, “nos Estados Unidos contíguos, as temperaturas médias já aumentaram cerca de 60% a mais do que a média global desde 1970”.lvi A Figura 3 mostra que o aquecimento médio na América do Norte em 2024 já atingiu 2,22 oC em relação à temperatura média do século XX e está aquecendo entre 2001 e 2024 à taxa de 0,37 oC por década.

Figura 3 – Anomalias de temperatura na média anual da América do Norte, com aquecimentos registrados em relação à média do período de base 1901-2000
e com uma taxa de aquecimento de 0,37oC por década
(Janeiro de 2001 a dezembro de 2024)

Fonte: NOAA, Climate at a Glance Global Time Series

Sempre segundo a Agência Nacional para os Oceanos e a Atmosfera dos EUA (NOAA), agora ameaçado por Trump, nos últimos 20 anos (2005-2024), essa taxa de aquecimento aumentou para 0,42 oC por década e no período 2011-2024, para 0,62 oC por década. A aceleração é tão evidente quanto os impactos dela decorrentes. Assim, a duração, frequência e letalidade das ondas de calor triplicaram desde os anos 1960.lvii

“A duração média da temporada de ondas de calor em 50 das metrópoles mais populosas [dos EUA] saltou de 23,75 dias por ano nos anos 1960 para 72,68 na década de 2020. No mesmo período, essas principais metrópoles passaram de uma média de 2,17 ondas de calor por ano para 6,14. (…) As mortes associadas ao calor aumentaram 857,5% entre 1986 (início dos registros) e 2022 (último ano de dados disponíveis). Em 2022, houve 383 mortes relacionadas ao calor, ante 40 em 1986”.

4.1 Eventos Meteorológicos Extremos

A Tabela 1 fornece um quadro sinótico da evolução dos eventos meteorológicos extremos e de seus impactos em vidas humanas e em prejuízos materiais nos EUA entre 1980 e 2024.

Tabela 1 – Evolução dos eventos meteorológicos extremos nos EUA
(1980 a 2024)

Fonte: NOAA, Billion-Dollar Weather and Climate Disasters, 2024.

Segundo o Climate Central, nos anos 1980 eventos causando prejuízos de pelo US$ 1 bilhão (em dólares constantes) ocorriam a cada 82 dias; nos anos 2017-2021, eles ocorreram em média a cada 18 dias.lviii Intervalos de tempo sempre menores entre grandes desastres são uma variável decisiva em processos de colapso, pois concedem menos tempo para se recuperar de cada desastre e se preparar para os próximos. Nos EUA, os eventos meteorológicos extremos no século XXI são cada vez mais custosos. O furacão Helene (24-27 set. 2024), que devastou o sudeste do país, matou cerca de 250 pessoas, feriu 117 e causou prejuízos de quase US$ 80 bilhões (NOAA), o que faz dele apenas o sétimo maior em termos de prejuízos, atrás dos furacões Katrina, Harvey, Ian, Maria, Sandy e Ida, todos ocorridos nos últimos 20 anos.lix Em março de 2025, o US National Weather Service (NWS) registrou 109 tornados em vários estados, com um saldo de mais de 40 mortes.lx

4.2 Incêndios florestais

Um estudo da Union of Concerned Scientists, de 2020, afirma que “desde 2015, os EUA têm sofrido, em média, cerca de 100 grandes incêndios florestais a mais a cada ano”. Um grande incêndio florestal é definido como um incêndio maior do que 200 hectares no leste do país e maior do que 400 hectares na sua parte oeste. A Figura 4 mostra esse aumento em termos de número de grandes incêndios entre 1985 e 2018 e a Figura 5 mostra o aumento da área desses incêndios entre 1983 e 2020.

Figura 4 – Aumento do número de grandes incêndios florestais por ano
(1985 a 2017)

Fonte: “Infographic: Wildfires and Climate Change”. Union of Concerned Scientists, 8 set. 2020, atualizado em 9 maio 2022, com dados do Monitoring Trends in Burn Severity, incluindo apenas incêndios de mais 200 hectares (> 500 acres) no leste e de mais de 400 hectares (> 1.000 acres) no oeste do país.

Figura 5 – Extensões afetadas por incêndios nos EUA (em acres, sendo 1 acre = 0,405 hectare)
(1983 a 2020)

Fonte: National Fire Information Council (NFIC)

Entre 1985 e 2020, a área afetada por incêndios nos EUA quintuplicou, passando de cerca de 8 mil a cerca de 40 mil km2. Em 2018, o incêndio de Camp (Camp Fire), na Califórnia, matou ao menos 90 pessoas, destruiu 18 mil estruturas e causou prejuízos de US$ 16,5 bilhões. Em 2023, um incêndio no Havaí, sobretudo na ilha de Maui, matou 111 pessoas. Em janeiro de 2025, diversos incêndios na área metropolitana de Los Angeles estenderam-se por 233 km2, mataram 28 pessoas, destruíram ou danificaram perto de 20 mil estruturas e obrigaram a evacuação de mais 200 mil pessoas. Até 24 de janeiro de 2025, os prejuízos causados por esses incêndios haviam sido estimados entre US$ 250 bilhões e US$ 275 bilhões de dólares.lxi

4.3 A inviabilização dos seguros e o aumento das áreas de alto risco de incêndios

Os incêndios de Palisades e de Eaton, nos arredores de Los Angeles, em 2025, redundaram em custos de US$ 80 bilhões para as seguradoras, hoje em processo de abandonar seus assegurados. As Figuras 6 e 7 mostram, à esquerda e à direita, as taxas de não renovação dessas apólices em 2023 e as áreas de maior risco de incêndios para estruturas construídas nos EUA.

Figuras 6 e 7 – Taxas de não renovação das apólices de seguro residencial nos Estados Unidos em 2023.
Do mais claro ao mais escuro essas taxas de não renovação são:
1 em 200; 1 em 100; 1 em 50 e 1 em 25.
(No segundo mapa, as zonas com maior risco de incêndio para estruturas construídas)

Fontes: Christopher Flavelle, “Insurers Are Deserting Homeowners as Climate Shocks Worsen”. The New York Times, 18 dez. 2024. Baseado em dados do U.S. Senate Budget Committee; Wildfire risks to communities.

“Desde 2018, mais de 1,9 milhões de contratos de seguro residencial em todo o país foram cancelados (…) Em mais de 200 condados, a taxa de não renovação triplicou ou mais”.lxii O aumento dos incêndios é um dos motivos desses cancelamentos, como mostra a simples superposição dos mapas das Figuras 6 e 7.


5. Os EUA, anomalia global

Os EUA são o país que mais fortemente impulsiona o processo antropogênico planetário de colapso socioambiental. Seu orçamento militar consome quase US$ 1 trilhão de dólares por ano, um montante maior do que a soma dos orçamentos militares dos outros dez países com maiores gastos nessa área.lxiii Para justificar esse orçamento e suas 750 bases militares mundo afora, os EUA precisam criar, instigar ou fomentar as guerras que assolam o planeta. Em 2023, o país emitiu, em média, 18 toneladas de CO²-eq per capita, contra 11 da China, 7,3 dos 27 países da União Europeia, 6 do Brasil e 2,9 da Índia.lxiv Com 4,2% da população mundial, os EUA “consumiram 18% dos produtos plásticos globais em 2019 e seu uso de plástico per capita foi maior do que em qualquer outro país globalmente”.lxv Os EUA consomem per capita algo como 200.000 kcal por dia, ou seja, muito mais do que a capacidade de carga do planeta.lxvi

Esse consumo anômalo de uma “superpotência” contrasta de modo cada vez agudo com a vulnerabilidade do país, que não é apenas socioambiental, mas também econômica, financeira, industrial e tecnológica. A política fiscal de Trump aumentará a dívida pública, já impagável, de US$ 36 trilhões e crescendo US$ 1 trilhão a cada 100 dias.lxvii Em consequência disso, em 2011, a Standard & Poor’s (S&P) rebaixou a nota do país para AA+, em 2023 a Fitch fez o mesmo e a Moody’s rebaixou a perspectiva do país de “estável” para “negativa”. Em março de 2025, a Moody’s alertou os EUA sobre a “diminuição de sua capacidade de pagamento da dívida.” A China está se desfazendo rapidamente seus títulos do Tesouro dos EUA, como mostra a Figura 8.

Figura 8 – Títulos do Tesouro dos EUA detidos pela China, em bilhões de dólares
(Entre 2008 e 2024)

Fonte: Mike Maharrey, “China is dumping US treasuries and buying Gold“. FX Street, 21 abril 2024

De outro lado, várias métricas medem o contraste flagrante entre o consumo exacerbado do país e sua dependência industrial e tecnológica em relação à China. “Perto de dois terços dos produtos manufaturados dos EUA contêm chips de fabricação chinesa”.lxviii O país nunca se recuperou, de fato, da crise financeira dos subprimes de 2007-2008 e é evidente que o governo Trump apenas acelerará o declínio ambiental e socioeconômico do país.

6. Big Techs, Big Oil, Big Pharma, Big Food, Big Ag… Negacionismo e rancor

Uma pesquisa de opinião de outubro de 2024 permite vislumbrar o perfil do eleitorado que iria eleger Trump: 25% dos indagados responderam que “as atividades humanas, tais como as emissões de gases de efeito estufa, em nada contribuem para as mudanças climáticas”; 29% responderam que elas “não contribuem muito” e 44% dos eleitores republicanos negam qualquer contribuição antropogênica às mudanças climáticas.lxix A evidência do aumento catastrófico dos impactos ambientais que estão devastando essa sociedade choca-se, portanto, contra um muro inexpugnável de negacionismo científico. As redes digitais dos EUA difundiam em 2024, por exemplo, que o furacão Helene, de setembro desse ano: (a) foi criado por cientistas para abrir caminho para a mineração de lítio; (b) foi direcionado por eles aos estados republicanos, ou ainda (c) foram formados por lasers criados pelos cientistas para desregular o clima.lxx Nos EUA, há uma extremada contradição entre, de um lado, sua liderança internacional na ciência do clima e, de outro, a tenacidade e a amplitude sociológica de seu negacionismo climático. Dois meses após a posse de Trump, seus eleitores o amam mais do que antes da eleição.lxxi Segundo uma pesquisa de opinião da NBC News, “mais eleitores registrados acham que os EUA estão no caminho certo do que em qualquer outro momento desde 2004”. É inegável que as campanhas de desinformação da rede corporativa, em que se associam as Big Techs, Big Oil, Big Pharma, Big Food, Big Ag etc., são grandemente responsáveis por essa “idade de ouro da ignorância” do Homo stadunidensis.lxxii Mas é importante entender também que o negacionismo é fomentado por sentimentos de rancor, frustração e ressentimento, compreensíveis diante de uma sociedade cada vez mais plutocrática, racista e excludente. David Brooks, acima citado, assim interpreta a vitória de Trump em 2024:

“De acordo com uma pesquisa da Ipsos do ano passado, 59% dos americanos acham que nosso país está em declínio; 60% acreditam que ‘o sistema está quebrado’; 69% acreditam que a ‘elite política e econômica não se importa com pessoas trabalhadoras’. Se essas são suas premissas, então você ficará feliz com um presidente que empunha uma bola de demolição”.

Não por acaso, um dos motes da campanha eleitoral de Trump em 2016 era: “Que diabos vocês têm a perder?” (What the hell do you have to lose?). Em Michigan, diante de uma audiência composta por um grande número de afro-americanos, ele martelava:lxxiii

“O que vocês têm a perder tentando algo novo como Trump? O que vocês têm a perder? Digo de novo: o que vocês têm a perder? Vocês estão vivendo na pobreza, suas escolas não são boas, vocês não têm empregos, 58% dos seus jovens estão desempregados. Que diabos vocês têm a perder?”

Por maior e mais justificado que sejam a frustração e o rancor contra o sistema político e, sobretudo contra o Partido Democrata, as pessoas se deram conta de que nada é tão ruim que não possa piorar. Tal é a razão das mais de 1.500 manifestações ocorridas no sábado, 5 de abril, em todos os EUA para, nas palavras de Michael Moore, “protestar contra Donald Trump, Elon Musk e o que esse governo de idiotas perigosos, bilionários sinistros e fascistas supremacistas brancos está fazendo com este país”.lxxiv A dimensão desses protestos é imensa. Segundo o que reporta Michael Moore, seus organizadores — o Movimento 50501 — avaliam em cinco milhões o número de manifestantes. E a Federação Americana de Professores afirma que “pelo menos 4 milhões de pessoas foram às ruas em todo o país”. A Michael Moore não escapa a evidente tentativa da grande imprensa de reduzir esse terremoto social a um fato trivial.

“Você poderia pensar que tudo isso levaria todos os canais de notícias a mostrar essas cenas e falar sobre elas o dia todo. Mas isso não foi feito. Não foi manchete de primeira página do New York Times, que deu a notícia na página 18, isso em uma cidade onde havia obviamente mais de 100.000 pessoas nas ruas, a poucos quarteirões do seu arranha-céu bilionário”.

A CNN falou em “um grande número de pessoas” (scores of people), USA Today falou em “dezenas de milhares”, a FOX News achou melhor falar em “milhares de pessoas”, quando era público e notório que ao menos 600 mil pessoas haviam respondido previamente à conclamação dos organizadores, assegurando sua presença. E Moore arremata: “Os únicos mais assustados do que Trump e Musk são a grande mídia, os Wall Streeters, os bilionários e o outro partido que eles controlam — o partido fraco e ineficaz que teve 49 anos para fazer do caso Roe [sobre o direito ao aborto] a lei do país e não fez nada”. A resistência social e política a Trump está aumentando a cada dia. Harvard o está processando e mais de 200 reitores de universidades e Colleges, incluindo, além de Harvard, Princeton, MIT, Yale, Brown, Columbia e várias Universidades da Califórnia, assinaram uma declaração conjunta, denunciando sua “interferência política sem precedentes, que agora coloca em risco o ensino superior norte-americano”.lxxv Manifestações públicas continuam a crescer e detectam-se algumas fissuras no próprio Partido Republicano. O potencial de radicalização social e de violência desses confrontos é imenso, sobretudo em uma sociedade armada até os dentes e onde as tensões crescem na mesma medida do empobrecimento e do declínio do país. Embora não se pretenda profético, o premiado filme Civil War de Alex Garland, lançado em março de 2024, dá a medida do imaginário distópico do país. Ele foi recebido pela crítica como uma narrativa de advertência (a cautionary tale), e a declaração de Garland a respeito é clara: “Sabemos por que isso poderia acontecer” (“We know why it might happen”).lxxvi

7. Conclusão

Pode haver colapso socioeconômico, sem colapso ambiental. Mas todo colapso ambiental tem, entre suas inúmeras consequências, um colapso socioeconômico. O atual experimento social de autodestruição fulminante dos EUA é inédito justamente porque mostra a singular convergência de um colapso socioeconômico e de um colapso ambiental. Mais do que isso, ele mostra um processo de colapso socioeconômico cada vez mais comandado por um colapso socioambiental. Em 2024, o Federal Emergency Management Agency (FEMA) declarou 90 desastres maiores nos EUA (ciclones, furacões, tempestades tropicais, incêndios florestais e inundações) causados ou exacerbados pela emergência climática. Trata-se de um desastre a cada quatro dias e uma frequência 63,6% maior deles em relação à média dos últimos 30 anos (55 desastres maiores em média por ano entre 1995 e 2024). Em 2024, 137 milhões de pessoas (41% da população do país) estavam vivendo em áreas afetadas por um desastre maior ou por uma declaração de emergência. Muitos morreram, muitos mais perderam tudo e foram reduzidos à ruína financeira. Segundo o FEMA, “em 2024, 267 de 366 dias tiveram pelo menos um incidente de desastre importante ativo. Isso significa que por quase três quartos (73%) do ano, houve um desastre ativo sendo tratado em algum lugar dos EUA”.lxxvii É importante lembrar que os números do FEMA não incluem as mortes e os prejuízos materiais e à saúde dos organismos causados pelos picos de calor urbano e pela poluição químico-industrial. A envergadura real do desastre estadunidense é, portanto, muito maior. Além disso, as mortes não imediatas, mas indiretamente causadas por furacões e tempestades tropicais nos Estados Unidos foram assim quantificadas num estudo que avaliou 501 desses eventos entre 1930 e 2015: para uma média de 24 mortes causadas imediatamente por esses eventos, os autores detectam que tais eventos “indiretamente aceleraram a morte de 7.170 a 11.430 indivíduos”, um aumento de excessos de mortes que “persiste nos 15 anos sucessivos” a cada evento considerado: “Calculamos que os ciclones tropicais nos Estados Unidos impõem uma carga de mortalidade não documentada que explica uma fração substancial das maiores taxas de mortalidade ao longo da costa atlântica e é igual a aproximadamente 3,2% a 5,1% de todas as mortes” ocorridas nesse período.lxxviii

Isso é apenas o começo. Trump pode desmontar, censurar ou tomar de assalto as instituições de ciência e cultura do país, as Universidades, a Nasa, o NOAA, o Smithsonian e o Kennedy Center. Pode manipular ou abolir as eleições, esmagar ONGs, impor o suprematismo branco, elevar muros, entregar de vez a gestão do país às corporações. Pode também, em âmbito internacional, sair de todos os tratados e acordos diplomáticos, inclusive da ONU e mesmo expulsar sua sede de seu país. Pode ainda invadir a Groenlândia, o Canadá e o Panamá, arrasar o Iêmen, consumar o genocídio dos palestinos e transformar a faixa de Gaza em um resort de luxo. Os espetáculos gesticulatórios de Trump enchem, hoje, páginas e páginas dos jornais, aos quais escapa, contudo, o essencial: esse arsenal de insanidade interna e externa apenas aprofundará o sofrimento e acelerará o processo de colapso dessa sociedade, contribuindo não pouco a acelerar o colapso das demais sociedades do planeta, bem como a aniquilação da biosfera.

É verdade que o mundo está infectado até a medula dos mesmos males que acometem os EUA: negacionismo científico, erosão da democracia, aumento das desigualdades, manipulação profunda das mentes pelas Big Techs, demonização do “outro”, recrudescimento do racismo e, sobretudo, do militarismo (sempre, é claro, sob o pretexto de defesa da paz e da democracia). Os EUA, em suma, não são um caso isolado de regressão social, mental e ambiental. Mas eles representam, hoje, como ontem, o modelo mais avançado da distopia contemporânea.

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Do quarto à praia,
nenhum lugar é seguro

O relógio marcava 5h40 da manhã no Alto da Terezinha, Salvador. Os pais entraram no quarto da filha de seis anos, como fazem todas as manhãs. O ritual cotidiano, porém, transformou-se em pesadelo quando encontraram a menina ferida na cama. Uma bala perdida atravessou a janela e atingiu seu rosto enquanto ela dormia. O primeiro dia de 2025 mal havia começado, e já carregava o peso de uma tragédia familiar irreparável.

A cena se repete ano após ano, com variações macabras, em diferentes pontos do país. Nos últimos anos, registramos 04 crianças baleadas no primeiro dia do ano.

Em Jaboatão dos Guararapes, na grande Recife, um menino de quatro anos presenciou o assassinato do pai. Antes que pudesse processar o horror diante de seus olhos, ele próprio foi atingido na cabeça. 

Na famosa praia de Copacabana, onde milhões se reuniram para celebrar a chegada do ano novo, uma adolescente de 14 anos observava maravilhada os fogos de artifício no céu carioca. Ao seu lado, seu pai compartilhava do momento de contemplação. Em questão de segundos, o espetáculo de luzes se transformou em drama: uma bala perdida atravessou o braço da menina, e seu pai também foi atingido. A festa mais famosa do Brasil ganha manchetes, enquanto outras histórias similares se desenrolam nas sombras da periferia.

Em São Gonçalo, um casal de idosos — 67 e 69 anos — celebrava a virada do ano dentro de casa, como tantos outros brasileiros. A sensação de segurança entre quatro paredes é ilusória: ambos foram atingidos por balas perdidas. A casa já não oferece proteção contra a violência que marca o cotidiano das cidades brasileiras.

Os números do Instituto Fogo Cruzado desenham o mapa sangrento do primeiro dia do ano: cinco tiroteios na Bahia, três mortos e dois feridos. Em Pernambuco, três tiroteios deixaram seis baleados, metade deles fatalmente. No Rio de Janeiro, nove tiroteios resultaram em sete vítimas, três mortas. Para o Rio, o primeiro dia de 2025 estabelece um recorde trágico: nunca, desde o início da série histórica do Fogo Cruzado, tantas pessoas foram baleadas em um primeiro de janeiro. 

O ano de 2024 já havia sido especialmente cruel com as crianças: 26 baleadas na região metropolitana do Rio, 10 em Salvador, seis em Recife e duas no Pará. Quando somados aos adolescentes, os dados explodem: 64 meninos e meninas atingidos no Rio, 147 em Recife, 63 em Salvador, 14 em Belém.

As estatísticas frias mascaram a realidade brutal de cada caso. Por trás de cada número há uma família destruída, um futuro interrompido, um trauma que se perpetuará por gerações. A violência armada no Brasil é democrática apenas no medo que causa a todos. Os dados mostram que as principais vítimas têm CEP e cor da pele bem definidos. 

Enquanto as autoridades repetem velhas fórmulas e discursos gastos sobre segurança pública, as balas continuam encontrando alvos. Uma criança dormindo, uma adolescente admirando fogos de artifício, um casal de idosos celebrando o ano novo em casa. Todos unidos pela violência armada que não conhece hora nem lugar. E 2025 apenas começou.

Um abraço,

Terine Coelho
Gerente de Pesquisa do Instituto Fogo Cruzado


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MIDR reconhece situação de emergência em dez cidades brasileiras

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Estão na lista municípios dos estados da Bahia, Pernambuco, Paraíba, Pará, Minas Gerais e Rio Grande do Sul

O Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional (MIDR), por meio da Defesa Civil Nacional, reconheceu, na última sexta-feira (20), a situação de emergência em dez cidades afetadas por desastres. As portarias com os reconhecimentos foram publicadas no Diário Oficial da União (DOU). Confira mais detalhes abaixo:

Portaria nº 4.212

Portaria nº 4.213 

Portaria nº 4.214

Portaria nº 4.215 

Foram afetados pela estiagem os municípios de Brejinho e Solidão, em Pernambuco; Junco do Seridó e Sebastião do Umbuzeiro, na Paraíba; Curaçá e Santa Bárbara, na Bahia e Bujaru, no Pará.

No Rio Grande do Sul, o município de Tavares foi castigado por fortes chuvas, assim como Curaçá e Santa Bárbara, em Minas Gerais.

Agora, as prefeituras estão aptas a solicitar recursos do Governo Federal para ações de defesa civil, como compra de cestas básicas, água mineral, refeição para trabalhadores e voluntários, kits de limpeza de residência, higiene pessoal e dormitório, entre outros.

Como solicitar recursos

Cidades com o reconhecimento federal de situação de emergência ou de estado de calamidade pública podem solicitar ao MIDR recursos para ações de defesa civil. A solicitação pelos municípios em situação de emergência deve ser feita por meio do Sistema Integrado de Informações sobre Desastres (S2iD). Com base nas informações enviadas nos planos de trabalho, a equipe técnica da Defesa Civil Nacional avalia as metas e os valores solicitados. Com a aprovação, é publicada portaria no DOU com o valor a ser liberado.

Capacitações da Defesa Civil Nacional

A Defesa Civil Nacional oferece uma série de cursos a distância para habilitar e qualificar agentes municipais e estaduais para o uso do S2iD. As capacitações têm como foco os agentes de proteção e defesa civil nas três esferas de governo. Confira neste link a lista completa dos cursos.

Fonte: MIDR


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Rio Paraguai: Ministério de Portos e Aeroportos abre consulta pública para concessão da 1ª hidrovia do país

Tácido Rodrigues

O Ministério de Portos e Aeroportos lançou, na última quinta-feira (19), uma consulta pública destinada a aperfeiçoar o modelo de concessão da hidrovia do Rio Paraguai, a primeira do Brasil. Objetivo é aumentar a segurança da navegação, beneficiando empresas e passageiros, e impulsionar o escoamento da produção agrícola.

O Ministério de Portos e Aeroportos deu um passo significativo, na última quinta-feira (19), ao lançar uma consulta pública destinada a aperfeiçoar o modelo de concessão da hidrovia do Rio Paraguai, a primeira do Brasil. O objetivo é aumentar a segurança da navegação, beneficiando empresas e passageiros, e impulsionar o escoamento da produção agrícola.

O período para envio de contribuições, subsídios e sugestões sobre a modelagem e os documentos da concessão será de 26 de dezembro de 2024 a 23 de fevereiro de 2025. Municípios, concessionárias e demais interessados poderão participar por meio da plataforma Participa + Brasil, do Governo Federal.

O Ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, explicou que o contrato de concessão da hidrovia do Rio Paraguai prevê investimentos de R$ 63,8 milhões ao longo de 15 anos. “Compreendendo a relevância das hidrovias na agenda logística nacional, é essencial que realizemos essas entregas em 2025", declarou o ministro em Brasília. "Este ano, demos um passo importante para fortalecer o sistema hidroviário brasileiro.”

O trecho da hidrovia compreende a rota entre Corumbá (MS) e a Foz do Rio Apa, na divisa com o Paraguai e a Bolívia. O projeto, que possui 600 quilômetros de extensão, contará com um calado de três metros durante o período de cheia, garantindo a navegação com maior segurança. Na estiagem, a profundidade será de dois metros, o que mantém a navegabilidade em boa parte do ano.

Benefícios ao agronegócio

A via fluvial trará impactos diretos para a região do Baixo Pantanal, onde Corumbá está localizada. O município possui o segundo maior rebanho bovino do Brasil, com 2,2 milhões de cabeças, segundo dados da Pesquisa da Pecuária Municipal 2023, divulgados em setembro pelo IBGE. O principal destino da carne sul-mato-grossense é a China.

Além da pecuária, produtos como soja e minério de ferro foram fundamentais para que as exportações realizadas pelos portos de Murtinho, Corumbá e Ladário atingissem o recorde de 8,2 milhões de toneladas transportadas em 2023. O levantamento foi publicado pela Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação de Mato Grosso do Sul em janeiro.

O ministro Costa Filho reforçou que a expansão das hidrovias será uma prioridade nos próximos anos. “Nosso objetivo é preparar o caminho para, no segundo semestre de 2025, levar essa concessão à B3 e concretizá-la. Esse será apenas o início de uma nova fase para o transporte fluvial no Brasil”, afirmou. Ele destacou outros projetos em desenvolvimento, como os das hidrovias Tocantins, Madeira, Parnaíba e São Francisco.

Ainda segundo Costa Filho, o incremento nas rotas fluviais reduzirá os custos logísticos do setor produtivo em quase 40%, especialmente no transporte de minério de ferro e grãos.

“Visão de Estado”

Para o Secretário Nacional de Hidrovias, Dino Antunes, a iniciativa reflete uma “visão de Estado” e promete trazer avanços para a logística e as comunidades ribeirinhas. “Esse projeto não é para o governo, mas para os transportadores, armadores e embarcadores. Além disso, a população que vive nas margens do rio será beneficiada, sem custos adicionais”, afirmou.

Antunes ressaltou ainda que a concessão garantirá melhorias estruturais nas hidrovias, incluindo dragagem, derrocamentos, sinalização permanente e sistemas de comunicação para reforçar a segurança patrimonial.

Especificamente sobre o Rio Paraguai, ele enfatizou que o projeto será crucial para o transporte de minério de ferro e grãos, especialmente na região sul de Mato Grosso do Sul, promovendo o crescimento econômico local.

O Ministério estima que, após a concessão, o volume de cargas transportadas pelo Rio Paraguai poderá alcançar entre 25 e 30 milhões de toneladas em 2030, aproximadamente quatro vezes mais do que o registrado em 2023.

O edital do leilão deverá ser publicado em maio de 2025, enquanto o leilão está previsto para julho, ambos dependendo da aprovação do Tribunal de Contas da União (TCU).


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Censo Demográfico 2022: 8,1% da população do país vive em favelas e comunidades urbanas no Brasil

Bianca Mingote

O Censo Demográfico 2022, divulgado na sexta-feira (11) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), identificou 12.348 Favelas e Comunidades Urbanas no país. Nessas localidades viviam 16.390.815 pessoas, o que corresponde a 8,1% da população brasileira.

O Censo Demográfico 2022, divulgado na sexta-feira (11) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), aponta que encontrou 12.348 Favelas e Comunidades Urbanas no país. Nessas localidades viviam 16.390.815 pessoas, o que corresponde a 8,1% da população brasileira.

Em comparação, no ano de 2010 foram identificadas 6.329 Favelas e Comunidades Urbanas, onde residiam 11.425.644 pessoas. Porém, segundo o IBGE, a comparação deve ser feita com cautela, visto que o aumento pode ser explicado pelo aperfeiçoamento tecnológico na ação censitária, além de maior conhecimento do território, o que pode ter melhorado a captação das informações nas favelas e comunidades. 

Segundo o Censo 2022, a Rocinha, no Rio de Janeiro (RJ), é a favela mais populosa do país, com 72.021 moradores, e ainda a que apresentou o maior número de domicílios particulares permanentes ocupados (30.371 unidades). Já a segunda favela mais populosa é o Sol Nascente, em Brasília (DF), com 70.908 habitantes.  

Já Paraisópolis, em São Paulo (SP), ficou em terceiro lugar, com um total de 58.527 pessoas, seguida pela Cidade de Deus/Alfredo Nascimento, em Manaus (AM), que registrou 55.821 moradores.

Com relação aos números absolutos de pessoas residentes em favelas e comunidades urbanas, quando somadas, as populações dos estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Pará representam 44,7% do total. Confira os números de moradores em cada um desses estados:

  • São Paulo: 3.630.519
  • Rio de Janeiro: 2.142.466
  • Pará: 1.523.608

Concentração de favelas no país 

Os estados com as maiores proporções de sua população residindo nessas localidades eram Amazonas (34,7%), Amapá (24,4%) e Pará (18,8%). Confira o ranking de favelas e comunidades urbanas por região:

  • 1°: Sudeste, com 6.016 
  • 2°: Nordeste, com 3.313
  • 3°: Norte, com 1.438
  • 4°: Sul, com    1.278
  • 5°: Centro-Oeste, com 303

O censo listou as vinte Favelas e Comunidades Urbanas mais populosas do Brasil. Oito estavam na Região Norte, sendo que seis delas no município de Manaus (AM). Outras sete no Sudeste, quatro no Nordeste e apenas uma (Sol Nascente) no Centro-Oeste. A Região Sul não tinha nenhuma favela entre as 20 com maior população.  Veja o ranking:

Os dados podem ser acessados no portal do IBGE e em plataformas como o Sidra, na Plataforma Geográfica Interativa (PGI) e no Panorama do Censo.
 

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